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Por: Letícia Bortoleto Vargas 19/07/2022
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A Canção de Aquiles – A outra face do lendário herói

Nessa nova versão do conto, quem seria Aquiles sem a presença de Pátroclo?

A Canção de Aquiles se trata de um livro de ficção, escrito por Madeline Miller, que reconta a trajetória de Aquiles e a guerra de Troia do ponto de vista de Pátroclo, um príncipe exilado e amigo íntimo do grande herói.

A história começa, não com Aquiles, mas com Pátroclo que, como mencionei, é o narrador da trama. Acompanhamos sua infância na Grécia, como um príncipe considerado insignificante por seu próprio pai e que não conseguiu cumprir nem a única tarefa que ele lhe deu, de desposar a princesa Helena, a jovem mais cobiçada da Grécia (quem conhece mitologia sabe que se trata daquela Helena que mais tarde será sequestrada, por isso começa a guerra).

Todavia, com vários outros homens, Pátroclo se vê fazendo um juramento de que, caso algo aconteça com Helena, eles se unirão para ajudar (e a vida volta para cobrar mais tarde). A parte disso, nosso príncipe acabou cometendo um erro, que culminou na morte acidental de um jovem nobre e, por consequência, Pátroclo foi exilado para a pequena ilha de Fítia, onde passou a morar com vários outros exilados, sob a tutela de Peleu, rei de Fítia e pai do príncipe Aquiles.

No começo, eles não se relacionam muito, Pátroclo é só mais um, dentre os vários jovens que Peleu acolhe para que treinem e o sirvam como soldados. Mas o jovem não se encaixa muito, não se mistura com ninguém e nem tem muitas habilidades de luta. Com o passar do tempo, ele começa a conversar com Aquiles e torna-se seu acompanhante (posto cobiçadíssimo por muitos), mas o envolvimento dos dois vai se estreitando cada vez mais e a mãe de Aquiles, a deusa Tétis, não gosta nada disso.

A Canção de Aquiles
Ilustração por: aw anqi

Aquiles x Pátroclo

Já começo com sim, é esse tipo de relação que você está pensando, eles se amavam e se amaram até o final (considerando que isso é uma história de milhares de anos, então todo mundo está claramente morto). Tudo começou com singelas trocas de olhares, tornou-se uma amizade inocente e a admiração, e os desejos, foram moldando esse relacionamento até que eles viraram, de fato, amantes.

Vale dizer que, para a época, não era extremamente absurdo, homens terem “encontros” entre si, mas eram mais coisas de relações carnais mesmo, assim como era comum homens dormirem com escravas e empregadas a torto e a direita (mulheres serviam para isso). Agora uma relação profunda de tanto tempo e tão fiel já era mais estranho. Dois homens jovens, solteiros, que não dormiam com nenhuma mulher, lê-se virgens, e compartilhavam o mesmo quarto… rumores acontecem, mas a pessoa mais revoltada é, com certeza a mãe de Aquiles, a deusa Tétis.

A deusa odiava Pátroclo porque, segundo ela, seria por causa dele que não respeitariam Aquiles, que o jovem a enfrentava e não fazia tudo que ela queria. Porém, claramente Pátroclo foi quem tornou Aquiles mais humano, o que seria dele se só vivesse entre os deuses? (temos um claro exemplo disso mais para frente, sem spoilers).

Ao mesmo tempo em que adoro o casal, sinto que faltou um pouco de amor-próprio para o Pátroclo. Por conviver sempre ao lado de Aquiles, ele se torna um ponto de comparação, mesmo sabendo que é um semideus, Pátroclo acaba se comparando, seu reles corpo mortal, sem nenhum pingo de divino, nunca é forte, belo, rápido, habilidoso o suficiente, como Aquiles, então ele sempre se subestima. Mais para frente, temos alguém que aponta as qualidades do coitado e fala que ele é melhor que o Aquiles, sim, que é digno e um herói (pessoa sensata, essa).

A Canção de Aquiles
Ilustração: Tumblr/ Merildae
“Eu o reconheceria apenas pelo toque, pelo cheiro; eu o reconheceria cego, pelo modo como exalava o ar e como seus pés batiam na terra. Eu o reconheceria na morte, no fim do mundo.” - Pátroclo

Mas cadê a Guerra?

Acalme-se jovem, a guerra de Troia virá, como mencionei, com o sequestro de Helena, esposa de Menelau, filho do rei Agamenon. Páris, de Troia, teria sequestrado a mulher e todos os homens que juraram protegê-la foram servir na guerra. Pátroclo, assim como o próprio Aquiles, tentou fugir de seu destino para não ter que participar da guerra, mas, no final, ambos acabaram indo.

Diferente de Pátroclo que tinha todo o problema do juramento, Aquiles estava sendo coagido a servir na guerra por ser um semideus, com a garantia de que seria esta sua chance de tornar-se um herói lendário, mostrar sua força e, quem sabe, tornar-se um deus ele mesmo. Ao mesmo tempo em que não queria servir, por conta de uma profecia, ele sentia que essa podia ser sua chance de mostrar o seu propósito no mundo, ele nasceu para ser um herói, ele precisava ser um.

A Canção de Aquiles

Indo para a guerra, vemos pelos olhos de Pátroclo a mudança que aquela experiência foi causando em Aquiles, praticamente o transformando em outro personagem. Antes de começar, ele estava um pouco receoso sobre matar, mas agora ele consegue transformar tudo num banho de sangue e se divertir e, assim como sua popularidade subiu, seu orgulho também o fez (e gente orgulhosa demais nunca é bom, né).

A guerra de Troia durou mais de 10 anos (fiquei chocada) e teve vários altos e baixos, a única coisa que permaneceu firme e forte foi a relação entre Aquiles e Pátroclo.

Às vezes sinto que Pátroclo podia ter se imposto mais, dado mais sua verdadeira opinião e talvez guiado as decisões de Aquiles que se deixava influenciar muito por seu orgulho ferido. Porém, ele preferia acompanhar as decisões de Aquiles e ajudar como podia.

No todo, eu gostei muito da história, foi uma versão realmente diferente do que eu esperava de um conto tão antigo como a guerra de Troia e a lenda de Aquiles. Fiquei torcendo pelo casal do começo ao fim e, em certos momentos, precisava de alguns minutos para me recompor (use sua criatividade para entender esta frase). Passei raiva com o Aquiles, sim, mas o final foi ótimo, do jeito que queria!

Agora com spoiler

Gente, o absurdo que foi o Aquiles desistindo de lutar e cagando para todos morrendo, só porque o rei não se desculpava por ferir sua honra (como passei raiva). Estava acontecendo exatamente o que todos previram, ao invés de apoiar o cara com o orgulho ferido, começaram a odiar ele por ver que ele não se mexia para ajudar os companheiros. Em compensação, temos aquela fala sensacional do Pátroclo sobre querer que ele fosse lembrado como um herói pelas coisas boas que ele fez.

E o final, eu sabia que o Pátroclo morreria assim que ele deu aquela ideia de se passar por Aquiles, mas depois o cara pedir para que, quando morresse, misturassem suas cinzas com as do Pátroclo na urna e os sepultassem juntos, isso foi tocante, poético. Ainda que o filho dele não respeitou o desejo do pai e deixou o fantasma do Pátroclo vagando (coitado, nem na morte tem paz). O toque final da deusa Tétis eu previ, mas não deixou de ser lindo.

***** Fim do Spoiler

A Canção de Aquiles foi publicada pela editora Planeta de Livros que trouxe, além desta obra, duas outras da mesma autora: Galateia, uma releitura feminista do mito grego de Pigmalião, o escultor que se apaixona por sua obra-prima em mármore, e Circe, a releitura da poderosa – e incompreendida – feiticeira da Odisseia de Homero.

Por: Letícia Vargas


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