À Sombra do Medo e a solidão no perigo
Ser uma mulher em um país rígido pode ser ainda pior quando espíritos malignos invadem sua casa
Lançado em 2016 e disponível na Netflix, À Sombra do Medo é um filme de terror iraniano que nos apresenta uma história assustadora e tensa, onde o perigo consegue se esconder bem em uma sociedade que desacredita a figura da mulher.
O filme foca na história de uma família que vive em Teerã, capital do Irã, na época em que o país travava uma guerra com o Iraque. Após ter o pedido de retorno para voltar aos estudos na faculdade de medicina negado, a mãe Shideh se vê com a única função de cuidar da casa e da filha única, Dorsa, enquanto seu marido, médico, é mandado para atuar no campo de guerra cuidando dos feridos.
Mesmo que sua cidade fosse perigosa em consequência de bombardeios, Shideh decide ficar em seu apartamento cuidando da filha, indo contra o pedido do marido para que vá a casa dos sogros.
Até uma certa parte do filme, não percebemos que o que estamos vendo é uma produção de terror, pelo contrário, a narrativa nos apresenta um cenário normal, sem eventos estranhos, a não ser por hábitos diferentes do que vemos aqui no Ocidente.
Quando Shideh quer malhar ou assistir a alguma fita de vídeo, ela fecha todas as cortinas da casa. É questionada por ser a única mulher do prédio que tem autorização para dirigir, tem seu sonho de ser médica acabado por ter atuado em grupo político, e sempre vemos as mulheres juntas conversando.
Os eventos estranhos começam a partir de um míssil que cai em cima do prédio, destruindo o telhado e o apartamento de cima, mas não atingindo ninguém. Os pedidos do marido para que Shideh saía do apartamento são mais constantes e ela ainda é questionada sobre sua capacidade de cuidar da filha.
Depois de um tempo, descobrimos que o que está aterrorizando as pessoas no prédio são djinn (populares na cultura muçulmana que são entidades sobrenaturais), que se apegam às pessoas a partir de objetos que elas têm muita consideração.
Sendo já retratados na série The Witcher, da Netflix, neste filme, os djinns aparecem de maneira sutil, mas que aos poucos, vão revelando seu poder. Quando a situação foge do controle, Shideh se vê obrigada a enfrentar essas forças ocultas sozinha.
À Sombra do Medo nos faz não apenas sentir o terror presente na narrativa, ele ainda nos indigna sobre a posição que a mulher enfrenta em uma sociedade que a desacredita e não dá voz, nos deixando tensos pela personagem principal.
Babak Anvari, diretor do filme, conseguiu nos entregar um filme diferente do gênero terror que estamos acostumados a ver. O modo como a narrativa vai soltando pequenas informações sobre seu desfecho, deixando o clima cada vez mais pesado e aterrorizante, apenas torna seu final assustador.
*Texto escrito por Renata da Silva
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