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Por: Redação Nerd Recomenda 22/04/2021
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A Cor Que Caiu do Espaço: adaptando Lovecraft.

Mais recente adaptação dos contos do autor consegue chegar muito próxima do absoluto do sentimento do horror cósmico

Você já teve a súbita sensação de que o universo é muito maior e mais misterioso do que a sua existência nele? Já se encontrou olhando para as estrelas e mergulhando num profundo medo do que pode existir além delas? Foi provocando essas questões que o famoso escritor estadunidense, H. P. Lovecraft, construiu as bases do gênero horror cósmico.

Esse universo literário influenciou aos montes as gerações seguintes e hoje temos desde livros e HQs até jogos que tentam capturar o sentimento explorado em suas obras. Ainda assim, o gênero é pouco visto no mundo dos filmes, e isso se deve à sua complexidade. O último filme a tentar capturar o sentimento do horror cósmico, adaptando diretamente uma das obras de Lovecraft, é A Cor Que Caiu do Espaço (2019), dirigido Richard Stanley e estrelado por Nicholas Cage.

O filme, baseado no conto homônimo, publicado em 1927, acompanha a trajetória de lenta degradação da família Gardner e sua fazenda nas montanhas da fictícia cidade de Arkhan, Massachusetts. Após a queda de um meteoro, uma estranha infecção, representada por uma cor, toma conta do terreno. Ao longo do filme a presença da cor progressivamente torna a fazenda mais estranha e aterradora, e seus moradores mais paranoicos e insanos.

O filme tem um paço lento, mas intencional. A cor cumpre seu papel como entidade desconhecida que lentamente corrompe tudo a seu alcance, criando aos poucos uma tenção que se torna a chave para a sensação de medo e horror. O primeiro ato é um pouco expositivo demais, mas os personagens reagem como o esperado ao conflito central e a narrativa se desenvolve de maneira orgânica.

Em termos de adaptação

Fãs mais assíduos ou pessoas mais críticas podem dizer que o filme é medíocre, se comparado ao original, mas ao considerar as expectativas modernas para adaptações cinematográficas, fica claro que A Cor que Caiu do Espaço consegue se sair muito bem em vários critérios.

Começando pelos efeitos visuais, no conto original a cor é indescritível, caracterizada como um tom nunca visto antes. O filme adapta esse conceito utilizando a cor magenta em diferentes intensidades. Como essa é uma cor que não ocorre na natureza o efeito que fica é um desconforto e uma associação ao desconhecido e alienígena.

Color Out of Space | Netflix

O cenário foi bem adaptado da época de Lovecraft para a era contemporânea. Os personagens, que no original têm pouca personalidade ou presença, foram reformulados e funcionam em prol da narrativa. Toda a estrutura foi adaptada para o formato storytelling cinematográfico mantendo pontos chave da história, que permanece reconhecível.

Mas e quanto ao horror cósmico?

Infelizmente, esse — que deve ser o ponto principal de qualquer obra baseada em Lovecraft — é o aspecto do filme que mais deixa a desejar. Não se engane, ainda é possível sentir muito medo ao assistir. Ele é construído através da incapacidade dos personagens de entender o que esta acontecendo, da crescente tensão em seu comportamento e da presença visual e física da cor se manifestando cada vez mais na fazenda, tornando a paisagem um misto de fantástico e fantasmagórico.

O filme consegue criar uma atmosfera enigmática e enervante, e no final do terceiro ato introduz um elemento de horror corporal — muito bem adaptado do original — que garante estômagos revirados e ainda mais tensão. Em uma mistura de O Enigma de Outro Mundo e Aniquilação, A Cor que Caiu Do Espaço tem todos os ingredientes para ser um bom horror cósmico. E consegue! Mas não totalmente.

“O mais velho e mais forte sentimento humano é o medo. O mais velho e mais forte medo, é o medo do desconhecido”.

H. P. Lovecraft

A questão é que horror cósmico é difícil de adaptar. Ele se baseia num sentimento complexo e raro. Você se lembra da primeira vez em que compreendeu que um dia iria morrer? É algo assim, só que provocado por uma fonte externa. É uma crise existencial misturada ao pavor do que pode ser visto além de tudo que construímos como real e palpável.

Para evocar esse sentimento, Lovecraft e todos os autores conseguintes, se apoiam na capacidade que o leitor possui de usar a sua imaginação para tentar compreender e dar algum sentido para os conceitos e imagens apresentados. Descrições são vagas e confusas, monstros refletem o sentimento de incompreensão e tudo que é escrito funciona mais como uma semente para a imaginação.

A pergunta que fica é como fazer isso numa mídia quase inteiramente visual como o cinema? A Cor que Caiu do Espaço consegue se sair bem, utilizando alguns elementos já citados como a cor magenta e o horror corporal, mas peca em introduzir estímulos que propriamente façam o espectador se perguntar o porquê e explorar mentalmente todas as possibilidades do cenário.

Os não-iniciados podem aproveitar o filme, tremendo nas bases e possivelmente alcançando o sentimento de horror cósmico. Mas para os fãs do universo lovecraftiano, que compões a maioria do público desse tipo de filme, o que fica é uma refeição com entrada e sobremesa mas um prato principal menos saboroso do que o esperado.

Mas ainda não é o fim

Já foi anunciado que o diretor do longa, Richard Stanley, pretende seguir na produção de uma trilogia de filmes no universo dos mitos de Cthulhu — Cthulhu Mythos, nome dado ao universo expandido de Lovecraft. O próximo título será uma adaptação do conto O Horror de Dunwich e trará de volta o personagem Ward Philips, interpretado por Elliot Knight.

Em A Cor que Caiu do Espaço, a história acompanha todos os personagens da família, mas é supostamente contada da perspectiva de Ward, que começa o filme visitando a fazenda dos Gardner que se encontra na área de uma futura represa. No longa, ele cumpre um papel passivo, sem muita influência na narrativa, mas nos filmes subsequentes ele será o protagonista.

Ward veste uma camiseta da Miskatonic University, universidade da cidade de Arkhan e cenário importante no conto de O Horror de Dunwich. Além desse easter egg, o filme ainda conta com a inclusão de Lavinia Whateley (Madeleine Arthur) persogem chave no conto de Dunwich, adaptada como Lavinia Gardner. O filme todo tem um caráter de prequel e para os fãs que assistem sem saber de nada fica mesmo a esperança de uma continuação.

Para o próximo é esperado que o trabalho de adaptação apenas melhore, que seja capaz de continuar entregando um bom filme de horror para o público mais geral e que consiga entregar um excelente horror cósmico para os fãs do universo lovecraftiano.

Texto por: Aquiles Rodrigues

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