Sim, o protagonista é um gritador absurdo, mas se apenas isso te impede de ver Black Clover, não és um otaku de verdade

Black Clover é um anime shonen ambientado no reino mágico de Clover, que reúne todos os clichês que mais gostamos no gênero, além de promover um ótimo desenvolvimento de personagem, mesmo daqueles mais secundários (coisa que muitos outros não fazem).

Asta e Yuno são dois jovens órfãos que cresceram junto de várias outras crianças, sob os cuidados de uma igrejinha, no fim do mundo do interior do reino de Clover. Só que, por mais que tenham vivido juntos, Yuno sempre demonstrou uma maior aptidão para magia, sendo adorado por todos, que já acreditavam que ele iria longe.

Já Asta, nosso protagonista, nunca demonstrou um pingo sequer de “mana” (energia que se origina do corpo do usuário) dentro de si. Ainda assim, Asta nunca se deu por vencido e segue treinando seu corpo físico, todo dia, para não perder para Yuno em nada. A meta de ambos: entrar para os cavaleiros mágicos e virar o Rei Mago.

Chega, enfim, o dia em que todos os jovens de 16 anos recebem seus próprios grimórios, livros com feitiços mágicos que auxiliam no controle da magia. Yuno, como era de se esperar, recebe o seu com um trevo de 4 folhas na capa, o que indica muita sorte. Já Asta, coitado, nem sequer recebe um. Mais tarde, ele acaba conquistando seu grimório, mas diferente dos mais comuns, de 3 folhas, ou dos mais raros, 4 folhas, o grimório de Asta está todo surrado e tem 5 folhas (segundo a lenda, na quinta folha habita um demônio).

Depois disso, ambos saem do interior, em direção à capital do reino na tentativa de passar no torneio para cavaleiros mágicos e ganhar a oportunidade de entrar em algum dos 7 esquadrões. Yuno vai acabar entrando no mais famoso, Alvorecer Dourado, e Asta vai para nos Touros Negros, o esquadrão mais infame do reino.

Começando pelo protagonista, um dos principais motivos para as pessoas largarem o anime ainda bem no começo. Sim, ele fala gritando, muito, absurdamente. Asta é um garoto empolgado que sempre está tentando superar seus limites, mesmo sem qualquer mana, num mundo onde tudo funciona com magia.

Por ser desprovido dela, seu grimório peculiar lhe concede habilidades anti-magia, ou seja, de cancelar todo e qualquer tipo de magia, de forma que é esse poder que vai leva-lo longe. É essa personalidade de nunca se deixar abater, seguir em frente, e dar seu melhor que vai conquistando aliados e vários amigos pelo caminho.

Yuno, por outro lado, por mais que seja um prodígio, tanto pelo controle da magia, como pela quantidade absurda de mana (ele é considerado “abençoado pela mana”), sempre foi um rapaz bem na dele. Esse personagem foi criado para ser literalmente o oposto do Asta, mas não pensem que eles não se dão bem. Ambos são melhores amigos/adversários, competindo para ver quem vai virar o Rei Mago primeiro, de forma que um está sempre influenciando o outro a dar seu melhor.

É fato que, depois de cada um entrar num esquadrão diferente, a história vai focar mais no Asta, mas o autor não parou de desenvolver o Yuno por causa disso. Além deles, vários outros personagens ganham seu momento de brilhar, crescem e se tornam mais fortes ao longo da história, mesmo os próprios capitães. Não é só porque eles estão no posto mais alto que não há mais o que criar sobre eles. Dentre os 7 esquadrões, vamos mencionar alguns:

O Alvorecer Dourado é o melhor esquadrão, com maiores notas, reconhecimentos e composto, pela elite, escolhida a dedo pelo capitão Willian Vangeance. Yuno chega para quebrar esse esquema elitista e mostrar que ele tem tanto direito de estar ali, como qualquer outro. No decorrer das missões, vamos vendo a mentalidade de seus companheiros mudando, não só sobre ele, mas sobre o próprio Asta.

Já os Touros Negros são o fundo do poço dos esquadrões, composto de algumas pessoas com poderes “duvidosos”, nas quais ninguém no reino bota fé. A única coisa inegável no esquadrão é a força de seu capitão, Yami Sukehiro, por mais que sua escolha por membros pareça, inicialmente, horrível (assim como Asta e Yuno, os capitães Yami e Vangeance seriam opostos, também). Todos os personagens do grupinho vão ficando mais fortes no decorrer do anime e o esquadrão vai, gradualmente, perdendo a má fama (é emocionante acompanhar).

Águias de Prata e Leões Carmesins são esquadrões de elite, também, que vivem competindo entre si. Ambos são comandados por membros de duas das três grandes famílias reais, porém, enquanto o esquadrão dos Leões Carmesins é mais “caloroso” com o povo, as Águias de Prata são absurdamente preconceituosas com a população pobre, chegando no nível de “jogarem fora” sua própria irmã mais nova, Noelle Silva, por não saber controlar sua magia. Não se preocupem, Noelle entra nos Touros Negros e ainda vai calar a boca de todos seus irmãos (E tenho dito!).

Vamos separar esse espacinho só para contemplar o poder feminino nessa obra. Claro, temos fan service (tem otaku que parece precisar de ao menos uma mulher sexualizada num anime shounen). Deixando isso de lado, temos lutas sensacionais entre vilões e as personagens femininas, mostrando todas suas habilidades. Uma das personagens mais fortes, se não, A mais forte, é uma mulher, Mereoleona Vermillion, irmã mais velha do capitão dos Leões Carmesins, que se recusou a ser capitã para seguir treinando e ficando mais forte (nunca critiquei).

Entre os problemas mais abordados na obra, o elitismo ganha um apelo especial. Cavaleiros pertencentes a elite, que deveriam proteger o povo, acima de suas próprias vidas, estão cagando e andando para quem vive fora da bolha da burguesia. É através das ações de Asta e Yuno, do crescimento deles nos esquadrões, que os demais cavaleiros vão percebendo o que eles se tornaram, o quanto seus ideais estavam errados, e era o próprio povo que sofria a consequência deste descaso.

O próprio Rei Mago atual, por mais que não goste da situação, também não andava fazendo muito para reverter isso, coisa que ele mesmo admitiu. Agora o rei de Clover mesmo, ninguém nem liga para ele, já que o cara só sabe bostejar pela boca (igual certos políticos por aí).

Black Clover é um anime já finalizado, com seus 170 episódios, produzidos pela Pierrot. A última temporada terminou com a promessa de uma guerra, que será realizada em um filme, anunciado em março de 2021, mas ainda sem data de estreia. O mangá é de autoria de Yuki Tabata, ainda em lançamento pela Shonen Jump, além de contar com duas séries spin-off: Asta-kun Mahōtei e no Michi e Black Clover: Quartet Knights (esta, baseada no vídeo game). No Brasil, você pode conferir o anime completo na Crunchyroll e o próprio mangá, sendo lançado pela Panini.

A animação é boa, mas como todo grande anime de luta, a qualidade cai um pouco nesse tipo de cena, mas existem exceções (rapaz, tem umas lutas bonitas ali hein). Além disso, as aberturas e encerramentos são ótimos. Vou deixar aqui no final um compilado muito legal, feito pela própria Crunchyroll, com todas as aberturas de Black Clover. Atenção para não tomar spoiler! Se quiser conferir só a primeira para sentir o clima, beleza. Agora, se quiser ver todas, siga por sua conta e risco.

Para finalizar, volto a reforçar que se você gosta de um shonen, um clichê bom e ainda não conferiu Black Clover, não tentou superar seus limites e acompanhar a saga de Asta, o gritador, você está deveras atrasado. Se o seu problema é só a voz do Asta, o mangá existe, foi muito bem adaptado, e vale super a pena ler, também.

Por: Letícia Vargas

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