Bonita Lampião estreia no Teatro Sérgio Cardoso
Discussões sobre violência e desumanização são centrais no espetáculo Bonita Lampião, que une teatro, dança e vídeo
Escrito por Renata Melo e com direção de Lena Roque, o espetáculo Bonita Lampião estreia hoje, dia 26 de fevereiro, às 19h, no Teatro Sérgio Cardoso, equipamento vinculado à Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo e gerido pela Amigos da Arte. O texto quebra a estrutura espaço-tempo ao apresentar uma narrativa fragmentada e linguagem não linear. A escrita cênica do espetáculo, também a cargo de Lena Roque, verticaliza ainda mais esses conceitos. O projeto foi contemplado pela 10º Edição do Prêmio Zé Renato da Secretaria Municipal de Cultura da cidade de São Paulo.
A poética do espetáculo está centrada na dramaturgia do corpo, na construção imagética da cena e no trabalho psicofísico dos intérpretes Aysha Nascimento (Bonita) e Francisco Gaspar (Lampião). Como recursos de linguagem, são usadas coreografias, partituras físicas, partituras vocais e repetição de movimentos. A intenção é alterar o enunciado original, subvertendo a lógica textual para contar a história.
Na peça, Maria e Lampião são figuras alegóricas, isto é, representam pensamentos, ideias, qualidades que estão além deles, sendo possível deslocar essas qualidades para outras pessoas, lugares e situações.
Maria de Déa (que passou para a história como Maria Bonita), é uma mulher arquetípica que mostra as muitas “Bonitas Contemporâneas” – negras, indígenas, periféricas, quilombolas, sem teto, trabalhadoras rurais, trabalhadoras urbanas – mulheres exploradas pelo sistema, que lutam contra todas as mazelas do cotidiano brasileiro. A peça também saúda às mais velhas e a ancestralidade negra feminina, que em cena conduz Bonita.
Já Lampião é o homem que contribui com este estado de coisas, que é levado a isso, que se humaniza e se desumaniza na dor de existir e sobreviver. Isso faz com que a discussão centro do espetáculo seja a violência, o território dos corpos violados diariamente, sistematicamente de forma institucionalizada, exterminando corpos negros, alienando a mente das pessoas, devastando a natureza, instaurando o extremismo político e social.
“Nunca estivemos em paz, o mito da democracia racial e a invenção do homem cordial, vendem a imagem de país tropical abençoado por Deus, mas nossa luta diária mostra que isso é mais uma das fachadas do capitalismo predatório”, diz Lena Roque.
O cenário de Paula de Paoli, figurinos de Cleydson Catarina, vídeo de Luan Cardoso música de Dani Nega, a iluminação de Lúcia Chedieck, as coreografias de Djalma Moura e a direção corporal e vocal de Jorge Balbyns dialogam com as premissas expostas acima e interagem com estéticas afros, sonoridade remixada, passeiam pelo expressionismo, com o cuidado de não abandonar as referências clássicas e históricas do que foi o movimento do cangaço brasileiro.
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