A influência das tecnologias no consumo de filmes
Propostas como lives da Twitch nos fazem repensar o novo consumo de filmes
Com a facilidade que as plataformas de entretenimentos nos oferecem para assistir a filmes, parece um pouco difícil encontrar motivos para ir ao cinema para assistir uma produção, que era tão aguardada, se podemos apreciá-la dentro de casa. Não que ir ao cinema agora (em época de pandemia) seja algo recomendável, mas algumas mudanças no consumo de filmes já estão acontecendo, levantando a dúvida de para onde é que elas irão nos levar.
Dois conteúdos recentes ajudaram a abrir essa discussão. Recentemente a Twitch, em parceria com a Amazon Prime Video, permitiu que seus streamers assistissem filmes e séries do catálogo do Prime em live com seus inscritos. Na outra ponta, o canal do Youtube, Super8, conhecido pelas críticas de filmes, fez um vídeo especial, denominado “8 erros ao ver filmes em casa…E como corrigir“, dando dicas de como aproveitar melhor a experiência cinematográfica em casa.
A Twitch é uma plataforma de streaming, onde pessoas fazem lives como transmissões de jogos, análises de filmes ou somente conversas com quem segue os perfis. Há pouco tempo atrás, a Twitch não permitia exibição de produções audiovisuais nas lives, por questão de direitos autorais e uso de imagem. Essa regra foi alterada apenas para a Amazon Prime Video perto do lançamento da 2ª temporada de The Boys aqui no Brasil. Com isso, os streamers podem realizar uma live à parte para os usuários da Twitch que assinam à Amazon e também são inscritos no canal da pessoa.
Aqui não se trata de se fazer um julgamento sobre o modo correto de ver filmes, afinal, apenas consumir esses conteúdos já é algo vantajoso para a formação de cultura do cidadão, além de ser o seu direito, não importando o meio pelo qual esse conteúdo é consumido. Porém, a discussão questiona sobre até que ponto estamos deixando terceiros influenciarem um momento que deveria ser de experiência individual.
Nessas lives, o dono do perfil assiste a qualquer produção do catálogo da Amazon e pode ir comentando sobre ela, algo que para os fãs dessa pessoa pode ser algo divertido. Entretanto essa nova experiência de ver filmes bate de encontro a uma das dicas expostas no vídeo do canal Super8 que é sobre o silêncio durante a exibição da obra e as reflexões pessoais sobre ela. Ter uma pessoa que fica comentando a todo momento durante o filme é algo que pode estragar a experiência que a produção pretende oferecer, quebrando qualquer tipo de atenção e foco durante a narrativa.
Outro ponto é a escolha do filme, já que os streamers da Twitch agem como curadores para seus fãs, sendo eles os responsáveis pela escolha da produção que irão assistir e transmitir, podendo limitar as pessoas de conhecerem outras obras que saiam do gosto do streamer.
A velocidade da internet também é outro fator que pode prejudicar a experiência fílmica. Caso ela não seja muito boa, a transmissão pode cair ou a qualidade de vídeo abaixar, interrompendo o filme para o público, o obrigando a fazer uma pausa não requisitada durante o filme ou ficar difícil para enxergar elementos da tela com o desfoque.
Claro, talvez algumas pessoas possam ver esses pontos e chegar a simples conclusão de que se não gostar desse tipo de consumo de filmes, basta apenas não vê-los em transmissões. Porém, sabemos que o setor audiovisual também busca o lucro, se encaixando nas novas tecnologias disponíveis. O mesmo ocorreu com o domínio da televisão sobre o cinema, mas agora as telas gigantes competem com mais de um dispositivo, como tablets, celulares, notebooks e televisores maiores, nos fazendo pensar até quanto os grandes estúdios irão definir o modo como vemos filmes.
*Texto escrito por Renata da Silva
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