“Como agradar uma mulher” consegue sair do básico das comédias românticas explorando o prazer feminino
Drama? Comédia romântica? De um jeito ou de outro, “Como agradar uma mulher” é quase um manual, que funciona muito bem para as telonas
Não é novidade para ninguém que as comédias românticas, especialmente as protagonizadas por mulheres, tenham uma fórmula básica que é quase sempre seguida. Começamos com uma mulher frustrada ou em uma zona de conforto, cuja inércia é desafiada por alguma mudança brusca, alguma situação que a move para um lugar diferente. Por conta dessa situação, ela abre seus horizontes e se descobre em uma vida mais feliz, porém mais desafiadora. Assim, ela precisa superar esses desafios para se manter ou até ultrapassar o patamar mais alto recém atingido e descoberto. Tudo isso acontece enquanto ela descobre um novo amor ou se reconecta com um amor antigo, pois se assim não fosse, não teríamos uma comédia romântica.
Apesar de se classificar como drama, “Como agradar uma mulher” não é em nada diferente dessa fórmula. E isso tem uma razão. As fórmulas são chamadas assim porque funcionam, solucionam aquilo que se busca resolver. O que tira uma comédia romântica do lugar básico não é seguir ou não tal fórmula, mas sim trazer algo a mais, se diferenciar em meio a tantos iguais. E acredito que é justamente por conseguir fazer isso com maestria que “Como agradar uma mulher” optou por incluir “Drama” em sua ficha técnica, o que sinceramente nem era necessário.
Tudo começa no aniversário de 50 anos da protagonista, Gina Henderson (Sally Phillips), uma mulher estagnada em um trabalho comum e em um casamento frio e sem graça, que ganha das amigas um presente de aniversário diferente: um stripper que se compromete a fazer o que ela quiser.
Para a total surpresa do stripper, Tom (Alexander England), ela pede que ele arrume sua casa, algo que definitivamente ninguém faria por ela. Mais tarde, ela descobre que esse é um trabalho paralelo de Tom, pois a empresa em que ele trabalha, no ramo de mudanças, está falindo. E para completar, um dia depois de seu aniversário, Gina é demitida, e o filme faz questão de deixar claro que o motivo da demissão é a sua idade “avançada”.
As situações em conjunto levam Gina a tentar salvar a empresa de “mudanças” a transformando em um novo negócio, totalmente voltada para o prazer feminino, seja este via sexual ou de uma boa limpeza em casa.
É nesse caminho, ajudando outras mulheres a darem voz às suas necessidades e vontades, que Gina começa a descobrir as suas próprias necessidades e vontades. E, embora o filme caia no lugar comum algumas vezes, ele consegue sair da zona de conforto das comédias românticas, assim como a protagonista sai da sua própria zona de desconforto.
Para começar, a escolha do título é altamente apropriada, pois de fato um olhar mais atento pode entender perfeitamente como agradar uma mulher. Essa escolha se torna ainda mais justa quando se tem mulheres na direção, roteiro e produção do longa, pois como o filme aborda muito bem, não se chegaria a uma resposta satisfatória para essa questão pela voz de homens. Mérito da diretora e roteirista Renée Webster e das produtoras Tania Chambers e Judi Levine.
Sim, o foco da obra é a satisfação sexual e romântica das mulheres, o que é apenas um aspecto entre tantos os que envolvem o universo do “prazer” feminino. Mas é até um pouco assustador e triste perceber o quanto essa questão específica ainda é pertinente e tão negligenciada.
É muito difícil ser mulher e assistir “Como agradar uma mulher” sem se identificar em algum momento com a vasta gama de personagens e problemáticas sexuais femininas. Desde a mulher que não quer desistir do sexo mesmo tendo uma bagagem enorme de experiências ruins, à mulher que já teve experiências incríveis e quer se descobrir ainda mais, até a mulher que, por ser fetichizada, acaba tendo suas necessidades e vontades esquecidas, entre muitas outras histórias que nos são tão comuns que já até somos acostumadas a ouvir, o que não deveria acontecer.
O filme realmente abraça o universo feminino de muitas formas, o que é traduzido, inclusive, na aparência das personagens. Assistindo a “Como agradar uma mulher”, de fato não consigo lembrar de nenhuma personagem que se encaixe no padrão de beleza já tão estabelecido e incrustado na indústria, nem mesmo a personagem que representa o estereótipo da “gostosona” cai nessa armadilha. A personagem em questão, Alice, que chama atenção pelo tamanho dos seios e se queixa de ter sua inteligência e esforço deixados em segundo e terceiro plano por isso, é uma mulher gorda.
As clientes de Gina são mulheres comuns, gente como a gente, envolvidas no trabalho e na vida pessoal e tendo a aparência que essa rotina permite ter. E o melhor é que o filme não precisa sinalizar isso. Está lá de forma tão natural quanto a inserção da trilha sonora ou as transições e movimentos de câmera.
Os personagens masculinos também não ficam atrás, embora sejam menores em número, eles contribuem e muito para a discussão que o filme se propõe, seja representando uma crítica à pornografia ou ao quanto soa “absurdo” um homem realizar serviços domésticos para uma mulher. A questão da idade também é trazida à tona para o lado masculino, de forma muito pertinente e surpreendente até.
De pontos negativos, fica a trama pessoal de Tom, o primeiro stripper, que em nada acrescenta à história, e também os poucos momentos de nudez completamente desnecessária. Nada, no entanto, que atrapalhe o desenvolvimento e o ritmo da trama, que é sim um pouco mais lento, porém não chega incomodar ou cansar. Ao contrário, é bem provável que em determinado momento de “Como agradar uma mulher” você esteja assistindo com um sorriso no rosto, sem nem mesmo perceber.
“Como agradar uma mulher” já está em cartaz nos cinemas brasileiros, com distribuição da A2 Filmes. Confira o trailer:
Classificação do autor
*Texto por: Ana Paula Castro
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