Espetáculo ‘Fêmea’ explora a violência doméstica naturalizada contra a mulher
Dirigida por Carmem Soares, peça da Cia do Despejo, ‘Fêmea’, investiga o teatro gestual e a dança para refletir sobre a marginalização social feminina
Com o objetivo de refletir sobre o que é ser mulher nos dias de hoje, a Cia do Despejo fez uma ampla pesquisa em teatro gestual e dança para desenvolver o espetáculo “Fêmea”, que ganha exibições online pelo YouTube ou o Facebook de vários grupos e instituições entre os dias 21 e 25 e 28 a 30 de abril, sempre às 20h. Confira o serviço completo abaixo.
A obra, dirigida por Carmem Soares, é construída a partir dos corpos femininos e suas interações com diversos objetos-símbolo associados à figura da mulher. Essa fisicalidade foi criada por meio do estudo da motricidade de animais usados para adjetivar negativamente as mulheres, como porca, galinha e vaca. As movimentações incorporadas afloram as distorções existentes entre a maneira como são comparadas, vistas, tratadas e seus corpos reais presentes.
Serviram como influências dramatúrgicas a escritora Carolina Maria de Jesus e sua obra “Quarto de Despejo”; o livro “Presos que menstruam: a brutal vida das mulheres – tratadas como homens – nas prisões brasileiras”, da jornalista Nana Queiroz, e os documentários “Estamira”, de Marcos Prado, e “Meninas”, de Sandra Werneck. Além de referências autobiográficas da equipe de criação.
Para dar o tom do espetáculo, a música é executada ao vivo e explora sonoridades afro-brasileiras em composições autorais. As potentes vozes femininas se juntam aos instrumentos melódicos e percussivos, como a alfaia, o djembe, o violão e o agogô. Há também a constante exploração de sons de elementos da natureza e dos arquétipos animais, como água, lama, madeira, grunhidos de porcos, sinos de vacas e sonoridades do mangue.
“Nossa pesquisa também contemplou os cantos ancestrais, como o vissungo, que se originou entre os negros escravizados na região de Minas Gerais. Ouvimos muito Clementina de Jesus, que tem um disco unindo diversos cantos vissungos. O grupo Clarianas, que explora os cantos caboclos, foi outra referência – a Naruna Costa até nos cedeu uma canção”, comenta Aline Machado, uma das atrizes-criadoras do trabalho.
As cenas bastante imagéticas evidenciam as violências sofridas pelas mulheres, o que possibilita a criação de um espaço de acolhimento, potencializado por um bate-papo com o público logo após o espetáculo. Para a temporada virtual, estão programados encontros com os espectadores pelo Zoom nas sessões dos dias 22, 24, 28 e 29.
O cenário e o figurino evidenciam ainda mais a temática. As atrizes vestem bermudas, sutiãs com fecho frontal e corpetes pós-cirúrgicos, em referência aos padrões de beleza impostos pela sociedade. Conforme a peça avança, seus corpos e vestimentas ganham tons de vermelho, simbolizando tanto a violência quanto a emancipação feminina.
Já o cenário se divide em três espaços: o ambiente doméstico, formado por mobílias como fogão, cadeiras e relógio; o “não-lugar”, que fica vazio e é onde as atrizes encontram seu local de fala; e a área dedicada às musicistas.
No elenco estão Aline Machado, Carolina Gracindo e Ingrid Alecrim. As musicistas são Aryani Marciano, Beth Sousa e Helena Menezes e o dramaturgista é o Felipe Dias Batista.
SOBRE CARMEN SOARES – DIREÇÃO
Carmem Soares é moradora do Grajaú, mulher cis, lésbica, periférica. É atriz, diretora, educadora e produtora. E Licenciada e bacharelada em Artes Cênicas pela Faculdade Paulista de Artes e Mestra em Arte Educação pelo Instituto de Artes da UNESP.
É idealizadora do A Casala Espaço Cultural e do Projeto La Fancha – Casa Restaurante e integrante da Cia Teatral As Truparteiras.
SINOPSE
“Fêmea” é um espetáculo de teatro gestual que apresenta cenas imagéticas. A narrativa é construída através de corpos femininos, da relação da casa com esses corpos e da musicalidade entoada ao vivo.
As cenas elucidam violências cotidianas a que estão submetidas tantas mulheres em nossa sociedade e investigam quais aspectos são entendidos como determinantes do que é “ser mulher” em nossa cultura. Os elementos postos em cena podem trazer memórias afetivas sob a lente poética que amplia perspectivas possíveis da mulher sobre as situações em que é posta. Aos poucos, as histórias pessoais apresentadas ganham processos emancipatórios possíveis e interdependentes.
SERVIÇO
Fêmea, da Cia do Despejo
Temporada: 21 a 25 e 28 a 30 de abril, 20h
Transmissões pelo YouTube ou Facebook de vários grupos e instituições:
Dia 21: YouTube de Aline Machado
Dia 22: YouTube de Aline Machado – seguido de conversa
Dia 23: YouTube da Cia do Despejo
Dia 24: YouTube da Cia Enchendo Laje & Soltando Pipa – seguido de conversa
Dia 25: YouTube do Grupo Xingó
Dia 28: Facebook do Coletivo Subversivas – seguido de conversa
Dia 29: Facebook do Madeirite Rosa – seguido de conversa
Dia 30: Facebook do Centro Cultural Grajaú
Classificação: 14 anos
Duração: 40 minutos
Facebook: @ciadodespejo
Instagram: @ciadodespejo
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