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Por: Thais Moreira 01/06/2021
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A polaridade do feminino apresentada em Fúria pt.1, de Urias

Autora dos já conhecidos hits Diaba e Rasga, Urias retornou com a primeira parte do álbum Fúria, que fala bastante sobre identidade feminina.

Fúria é o primeiro álbum de estúdio composto, produzido e interpretado por Urias, que já lançou vários singles anteriores ao projeto. O EP é composto por 5 faixas, sendo duas delas já lançadas como singles (Racha e Foi Mal) e uma com participação das rappers Ebony e Monna Brutal.

Urias vem com tudo nesse projeto. O nome do álbum, segundo ela, vem para representando a relação que a sociedade tem com o corpo, a figura feminina e o sexo. Já na capa do álbum é possível ver o simbolismo, com a figura do touro que representa a fúria, mas também, a calmaria e mansidão de um animal que é furioso por natureza. Urias, no decorrer do álbum, transita entre essa agressividade e a calma.

Urias
Urias – Fúria pt. 1 / Reprodução

Fúria é uma representação do feminino, em todos os seus formatos. Urias tem sucesso em apresentar a polaridade da identidade feminina, sem resumi-la ao que já é conhecido quando falamos de representação das mulheres: Feminilidade, estereótipos de doçura, maternidade e toda aquela receita de bolo já batida. Urias representa o feminino pelo que ele é: Fúria, dor, dificuldade, perigo, calmaria, indignação. Em cada uma das faixas do álbum é possível identificar esse emaranhado. Fúria não é só um álbum a ser curtido, é preciso ouvi-lo, mais de uma vez, de preferência, para captar pelo menos uma parte do que ela quis passar.

A primeira parte do álbum vem acompanhada do vídeo clipe de uma das faixas: Peligrosa. No vídeo, Urias, acompanhada por um grupo de bailarinas talentosíssimas, simplesmente arrasa na interpretação de uma coreografia que só pode ser descrita como intensa e, obviamente, furiosa.

Peligrosa

Intercalando entre português e espanhol (porque o ícone é bilíngue!), Peligrosa é de uma intensidade singular. A letra fala sobre perigo, como o nome propõe, mas é bem clara ao falar sobre como as mulheres não tem um momento de paz. Na letra, Urias fala: “Não mexe com a gata que a frequência é muito alta. A mulher é afiada, vai te derrubar do nada.” e “Aqui marmanjo do seu tipo não se cria, ou danço em paz ou eu começo uma chacina” claras menções à realidade das mulheres, constantemente assediadas, porém, sem coloca-las em um lugar de fragilidade. Pelo contrário, mexer com ela vai te colocar em perigo

Maserati feat. Ebony e Monna Brutal

Com participação das rappers Ebony e Monna Brutal, Maserati é uma metáfora para o corpo da mulher. Novamente, Urias volta com um verso forte sobre a força da feminilidade, com bastante fúria. Monna Brutal trás um verso cheio de confiança não somente sobre homens, mas também sobre mulheres cis e transfóbicas que constantemente invalidam seu gênero. Já Ebony complementa a faixa com um verso enaltecendo o corpo e a sensualidade da mulher.  A faixa apresenta o sexo e a sexualidade de forma explícita, de forma a exaltar sensualidade e até mesmo a liberdade das mulheres de se expressarem sexualmente, coisa que é e sempre foi reprimida.

Cadela

Cadela é um retrato perfeito da mensagem que Fúria veio pra passar. Fala sobre como existem imposições encima das mulheres, muitas vezes tratas e chamadas de cadela de forma pejorativa, assim, Urias usa o termo (e o animal mesmo) com o metáfora de toda essa realidade, de forma muito inteligente, inclusive. Na faixa, ela diz, “Na roda eu tenho nome, fiz meu lugar. Quem ladra nunca morde, só pra avisar”.

Racha

Urias
Urias – Racha / Reprodução

Faixa já conhecida da cantora, pois já tinha sido lançada anteriormente como single, Racha fala sobre corpos trans, com subjetividade (A frase: “O que te assusta é a potência do meu… carro” é uma poesia por si só) e, consequentemente, a forma como são diminuídos e menosprezados. Urias, como artista trans, ocupa um lugar importante na música brasileira. Racha é um retrato não só dela, mas da força que existe na comunidade trans.

Essa faixa também já tem vídeo clipe, que acumula mais de 1 milhões de visualizações no youtube, inclusive. Lançado em novembro de 2020, esse tesouro do audiovisual brasileiro conta com vários simbolismos, o principal deles, segundo os internautas, é a presença constante da figura da aranha do vídeo. A aranha supostamente faz referência a operação tarântula, operação que “caçava” travestis nas ruas e as assassinava a tiros nos anos 70 e 80.

Foi Mal

Música mais calma do álbum, Foi Mal também já havia sido lançada como single. A faixa apresenta uma vulnerabilidade em sua letra, o que vai em total contrapartida do restante do álbum, certo? Errado! Foi Mal complementa as outras faixas ao mostrar que o feminino vai muito além do que se vê na superfície. Assumir o erro e pedir perdão também faz parte da fúria, e Urias expões esse lado de forma muito especial.

Foi Mal também possui um vídeo clipe em que Urias aparece belíssima e completamente diferente do vimos em Diaba e Peligrosa. O vídeo tem uma estrutura mais intimista, mostrando a história de um casal em crise.

Urias
Urias – Foi Mal / Reprodução

Como mencionado anteriormente, Urias representa uma posição importante na música brasileira. Sempre autêntica, seus trabalhos passam mensagens do que é real pra ela. Similarmente a Monna Brutal, que participa desse álbum, podemos sempre ter certeza de que ela trará um singularidade só dela em seus trabalhos.

É diferente do que estamos acostumados de ver porque não segue uma receita específica da indústria da música, e é bom demais ver artistas como ela e Monna crescendo. Ebony, que também participa do álbum, é outro exemplo de artista brasileira completamente talentosa e singular que merece o reconhecimento que recebe e mais. Elas, por si só, já são exemplos de como o feminino é plural.

Três artistas que fazem parte do hip-hop nacional, que é conhecido por desdenhar de mulheres cis e simplesmente apagar mulheres trans. Esse cenário precisa mudar urgente, pois caso não, continuaremos perdendo a oportunidade de conhecer artistas incríveis como essas três. Artistas que tem talento o suficiente para ser mainstream mas que são constantemente barradas por barreiras de machismo, racismo e transfobia.

Sendo assim, se você ainda não escutou Fúria pt.1, recomendo 100%. É cheio de personalidade, que te faz dançar, cantar e sofrer, tudo no mesmo EP. Pelo que se sabe até o momento, a segunda parte do álbum sai no segundo semestre desse ano, então seguimos na ansiedade. Em paralelo, fica a recomendação dos trabalhos de Monna Brutal, que lançou o álbum 2.0.2.1 em janeiro desse ano, e Ebony, que lançou seu ep Condessa em julho de 2020.


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