
‘Hamilton’ e o protagonismo feminino na história.
Quantas grandes mulheres já existiram “por trás” dos grandes homens na história?
Não é novidade que, no mundo do teatro musical, Hamilton é um sucesso. A peça, produzida e protagonizada por Lin-Manuel Miranda, entrou em cartaz pela primeira vez na Broadway em 2015, e se tornou um fenômeno imediato. Nem mesmo os preços altos dos ingressos impediram a peça de ser um sucesso, gerando mais de um bilhão de dólares e se tornando a peça que mais lucrou na história da Broadway. Agora, com a versão filmada disponível mundialmente no Disney+, quem não pôde vê-la na Broadway, finalmente teve a oportunidade de assistir. Mas o que tem de tão interessante nessa peça?
Hamilton conta a história de Alexander Hamilton, primeiro secretário do tesouro nacional dos Estados Unidos, e fundador do primeiro banco do país. A peça gira em torno de sua trajetória enquanto imigrante caribenho nos Estados Unidos e seu protagonismo na luta da nação por independência. Mas, mais que isso, Hamilton não tem apenas um protagonista. Na verdade, especula-se que ele nem mesmo é o protagonista de sua história, mas sim sua esposa, Eliza Hamilton.
Eliza, originalmente Elizabeth Schuyler, é uma figura na vida de Hamilton que se destaca. Na peça, ela é acompanhada de duas de suas irmãs, Angélica e Peggy Schuyler. Angélica, a mais velha, tem seu próprio protagonismo na peça. Em sua música principal “Satisfied”, ela conta como existe uma pressão encima dela, por ser a filha mais velha, em se casar com um homem rico e manter o legado da família. Além disso, ela é a primeira a se apaixonar por Alexander, minutos antes de Eliza, mas abre mão do rapaz pela felicidade da irmã, que ela ressalta “Amar mais que a própria vida”. Por mais que Angélica realmente venha a se casar com um homem mais rico e se mudar para Londres, ela sempre é retratada na peça como uma mulher forte, que se vê comprometida a incluir o protagonismo das mulheres na história. E, mesmo com sua vulnerabilidade emocional exibida em seu amor por Alexander, ela não deixa de sempre ressaltar que sua prioridade é, e sempre será, o amor por sua irmã.

Eliza, por outro lado, representa uma delicadeza que a difere de sua irmã. Ela casa-se com Alexander, tem filhos com ele, e se mantém comprometida com sua família. Mas sua vida não é fácil, principalmente depois que Alexandre a trai e publica o famoso “The Reynolds Pamphlet”, um panfleto de 95 páginas onde ele detalha e expõe seu caso ao público na esperança de “limpar seu nome”, assim submetendo Eliza a um constrangimento público, pois ela não sabia do caso, tão pouco do panfleto. Acima disso, ela também perde seu filho mais velho em um duelo, o que, obviamente, a entristece e enfraquece. E como uma mulher que foi traída e perdeu um filho pode ser empoderada nos anos de 1800?
Hamilton morre antes de Eliza. E, ao invés de se afundar no sofrimento da morte do amor de sua vida, Eliza age. E age muito. No final do musical, as suas conquistas e ações são trazidas à tona. Eliza, em homenagem ao seu marido que era órfão, abre o primeiro orfanato privado dos Estados Unidos. Ela se posiciona contra a escravidão, algo que nem mesmo Alexander ousou fazer abertamente. Eliza entrevista todos os soldados que lutaram ao lado de Hamilton pela independência dos Estados Unidos e conta suas histórias, e arrecada fundos para o monumento em homenagem à George Washington, primeiro presidente dos Estados Unidos e principal figura paterna de Alexander. Essas são ações de uma mulher que, por mais que sofrida, decidiu não se render. Isso é um retrato explícito de empoderamento.
Hamilton, diferente do que muitos acreditam, não é somente sobre a história de Alexander. Segundo o próprio Lin-Manuel Miranda, é sobre amor, guerra e, principalmente, legado. A pergunta que o musical deixa é: “Quando você morre, quem conta sua história?” e, no caso de Alexander Hamilton, um dos pais fundadores dos Estados Unidos, sua história foi contada por Elizabeth Schuyler Hamilton, uma mulher que merece ser lembrada.
Texto por: Thais Moreira
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