Memórias de Ontem e a calmaria das lembranças
Revisitar o passado através de pequenas lembranças para entender o presente
Algo que não pode ser negado é o talento que o Studio Ghibli tem para contar histórias. Não importa o gênero ou estilo narrativo que é adotado, cada obra tem o seu significado e valor próprio. Memória de Ontem é um filme que você vê e não precisa sentir nada, apenas seguir a vida, assim como faz a protagonista Taeko.
Disponível na Netflix, em Memórias de Ontem conhecemos Taeko, uma mulher solteira que trabalha e mora na cidade grande. Novamente, ela está indo passar suas férias no campo, trabalhando na colheita e plantação da família de sua irmã, que a acolhe em sua residência durante essa época. No filme, vemos Taeko contando sobre sua infância e voltando ao seu passado através de memórias.
Essas memórias vão nos mostrando a vida da protagonista, suas amizades, seu primeiro e único castigo físico de seu pai e a relação com seus pais e irmãs mais velhas. Também podemos perceber, com essa ida e volta no tempo, a diferença no estilo de vida da protagonista. Quando era pequena, ela se mostrava um pouco mais reservada e brincalhona, enquanto que adulta é comunicativa, simpática mas um pouco séria.
Não que o filme se preocupe em explicar o motivo de Taeko ser da formo que é como adulta em consequência de seu passado, mas ele tem esse ponto especial em mostrar que uma pessoa é mais do que aparenta ser e que possui toda uma história incrível, mesmo que não especial, mas que é única.
Memórias de Ontem também não tenta te arrancar algum sentimento. Poderíamos defini-lo como um filme passageiro, que te apresenta uma história, tem uma estrutura definida em começo, meio e fim, e uma boa conclusão, mas não que vai te fazer aprender uma lição ou ensinamento, somente conhecer mais a fundo um indivíduo. Porém, outro elemento presente no longa é o “movimento gratuito”, expressão colocada pelo crítico de cinema Roger Ebert, onde em um filme o personagem da trama não realiza uma ação que irá definir ou tem influência na história, mas sim fica observando o local à sua volta e reflete sobre a vida, sem nenhuma justificativa.
Normalmente os filmes do Studio Ghibli são emocionantes, divertidos e sempre com finais felizes, mas quando temos uma personagem real, sem criaturas mágicas ou cenários encantados, até mesmo uma vida comum pode se tornar uma grande história e é isso que Memórias de Ontem faz: revela uma jornada individual e cheia de significados para o dono dessa vida.
*Texto escrito por Renata da Silva
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