As Mentiras de Locke Lamora (Scott Lynch)
“Ninguém nunca demonstrou tamanha avidez pelo ato de roubar quanto esse menino. Se ele estivesse com o pescoço cortado e um galeno estivesse tentando costurá-lo, Lamora roubaria a agulha e o fio e morreria rindo. Ele… ele rouba demais.” (As Mentiras de Locke Lamora – Scott Lynch)
O submundo da cidade da Camorr esconde, desconhecido por todos exceto sua gangue, o Espinho: uma figura lendária que causa pesadelos aos cofres de todos os ricos nobres da cidade. Os boatos dizem que se trata de um espadachim invencível, um fantasma que atravessa paredes. O que ninguém imagina, no entanto é que, por trás da magnânima figura do Espinho, está Locke Lamora, um jovem rapaz baixinho, não muito atrativo, com zero habilidades físicas nem poderes sobrenaturais.
Mas o que Locke tem que o difere de todos os outros bandidos são três coisas: 1) sua habilidade fenomenal para arquitetar golpes milionários; 2) uma gangue especializada em disfarces, os Nobres Vigaristas; e 3) uma enorme inclinação para arranjar encrenca (alerta para anti-herói carismático e charmoso).
Pronto, está apresentada 50% da graça de As Mentiras de Locke Lamora: o personagem principal. Os outros 50% ficam divididos: uns 30% para a trama, 10% para os outros personagens, e últimos 10% para a ambientação, que é de cair o queixo.
Agora segura aqui na minha mão que eu vou te falar por que você deveria dar uma chance para essa fantasia adulta.
“Nós somos os ladrões dos ladrões, e fingimos ser ladrões que trabalham para um ladrão de outros ladrões.” (As Mentiras de Locke Lamora – Scott Lynch)
Só que antes, um aviso importante: essa é uma história que exige algum investimento da sua atenção, assim como paciência, pois a construção de mundo aqui é massiva.
O que eu quero dizer com isso? Bem, se você não tem paciência para ler umas boas 200 páginas de aprofundamento de universo aprendendo sobre civilizações antigas, intrigas políticas dos nobres, guerras entre gangues que deram origem à Paz Secreta que reina sob a regência do Capa Barsavi (o poderoso chefão das gangues de Camorr), todos os capítulos dedicados ao nosso protagonista dissertando sobre vinhos enquanto tenta dar mais um de seus golpes. E claro, os vááááaáários flashbacks do Locke criancinha começando sua relação com os integrantes dos Nobres Vigaristas… esse livro definitivamente não é pra você. Parte pra outra. Beijos, tchau.
Agora, se universos de tamanho a la Tolkien são sua praia ou, como eu, você quer enfrentar o desafio ainda que seja meio cansativo, então preciso que você saiba que no final deste árduo caminho (e às vezes, ele pode ser bem árduo kkk) existem muitas emoções e uma história fe-no-me-nal!
Em As Mentiras de Locke Lamora, primeiro volume da trilogia Nobres Vigaristas, do escritor Scott Lynch, vamos conhecer o bando de ladrões fictícios mais carismático desde o filme “Onze Homens e Um Segredo”: Jean Tannen, o cara da luta; os gêmeos Calo e Galdo Sanza, paus pra toda obra; Pulga, o mais novo iniciado na arte de passar a perna nos outros; e Locke, o líder da equipe.
Nessa história, acompanharemos Locke em mais um de seus grandes golpes como o Espinho, ao mesmo tempo em que sua fama chama a atenção de uma misteriosa figura de Camorr, o Rei Cinzento. Numa bola de neve de problemas que só cresce a cada vez que Locke dá um novo jeito de se safar, os Nobres Vigaristas acabam no meio de uma disputa de poder entre o Rei Cinzento e o Capa Barsavi, que só poderia acabar fazendo a vida de Locke virar, bem… uma bosta.
“Algum dia, Locke Lamora, algum dia você vai fazer uma cagada tão gigantesca, tão ambiciosa, tão avassaladora, que o céu vai se acender, as luas vão girar e os próprios deuses vão fazer chover cometas de tanta alegria.” (As Mentiras de Locke Lamora – Scott Lynch)
Mas quanto mais fundo Locke se afunda, mais legal é ver a forma como ele vai conseguir sair de lá, debochado como sempre. Inclusive, se você tiver a oportunidade de ler essa obra no original em inglês, eu realmente te aconselho a fazer isso. É uma experiência completamente diferente ler os diálogos debochados dos Nobres Vigaristas com toda aquela linguagem pomposa digna de um londrino. Genial!
Numa história repleta de altos e baixos, cuja proporção vai crescendo a cada nova problemática, Scott Lynch se mostra dominador do mundo que criou. Seus personagens têm uma dinâmica cativante, cada um representando um papel essencial para trama, com ênfase especial em Jean, responsável pelo que muitos consideram uma das melhores brotp do mundo literário.
Apesar de uma escrita bastante prolixa (o que pode ser bom ou ruim, dependendo do gosto de cada um), o enredo dá sim uma aceleradinha lá pela metade do livro. Por isso vou pedir que você, leitor corajoso, siga em frente e não deixe o comecinho lento do livro te desmotivar. Melhora muito e eu garanto que você não vai se arrepender da experiência.
Classificação da Larissa (@cons.ciencialiteraria): 5 estrelas.
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[…] É de mundos detalhados e anti-heróis carismáticos que você quer? Então os Nobres Vigaristas é o livro perfeito pra você! Aqui acompanhamos a história de Locke Lamora, um cara que vive duas vidas: uma pública, como fiel subordinado do Capa Varsavi (o chefão do crime da cidade), comportado e sempre prestativo; e outra nas sombras, como o Espinho de Camor, uma figura misteriosa que vem roubando bilhões dos nobres da cidade e parece não se reportar a ninguém. Para apoiar essa vida dupla estão os Nobres Vigaristas, um grupo que conta com os maiores golpistas da cidade, amigos e aliados do Espinho. Numa história cheia de intrigas entre os nobres e os golpistas de Camor, vemos Locke ficando cada vez mais envolvido (e quebrando muito a cara) por causa de uma figura que chegou na cidade para abalar as estruturas de poder, o Rei Cinzento. Este é um livro que, apesar de ter um passo lento, conta com um dos personagens mais bem trabalhados da literatura fantástica adulta, além de uma mitologia completamente nova e envolvente. A resenha completa do primeiro livro, As Mentiras de Locke Lamora, você encontra aqui. […]