Alexandre Lino, Cacau Protásio e elenco de “O Porteiro” são o que o filme tem de melhor. O longa estreia em 31 de agosto nos cinemas.

A nova produção nacional da Imagem Filmes, “O Porteiro”, estreia hojr, 31 de agosto, nos cinemas, trazendo a comédia brasileira em sua forma mais atual e dinâmica, num movimento que começou a tomar forma nos anos 2000 e se consagrou com filmes como “Os homens são de Marte… E é pra lá que eu vou” e “Minha Mãe É Uma Peça”.

Na trama, acompanhamos um dia atípico da vida do porteiro Waldisney (Alexandre Lino), que veio da Paraíba e acabou se tornando o carismático porteiro do edifício Clímax, que sofre um assalto. Precisando provar que não teve participação nenhuma no crime, o porteiro conta sua história para o delegado, vivido por Maurício Manfrini, e tudo o que aconteceu no dia do assalto, o que inclui muitas confusões e histórias inusitadas envolvendo os moradores.

O filme é dirigido por Paulo Fontenelle, que também é diretor da peça teatral de mesmo nome na qual o roteiro foi baseado. O espetáculo já está em cartaz nos teatros há seis anos e já foi apresentado em mais de 40 cidades, ultrapassando a marca de 100 mil espectadores. A obra teve seu enredo montado a partir de conversas com diversos porteiros nordestinos que vieram buscar melhores oportunidades de trabalho em grandes cidades como Rio de Janeiro e São Paulo.

A primeira característica marcante de “O Porteiro” é justamente toda a sua teatralidade. De imediato é possível perceber que se trata da adaptação de uma peça de teatro, com muitas transições de cenas e construções de diálogos feitos como se para uma plateia ao vivo. Contudo, nem de longe esse é um aspecto negativo do filme nem prejudica a experiência do espectador de qualquer maneira.

“O Porteiro” é uma obra que se encaixa no que a comédia brasileira se tornou após muito tempo de aperfeiçoamento e que continua evoluindo: uma história que só nós podemos contar. A comédia brasileira é única, expressiva e retrata bem aspectos culturais e muitas singularidades reconhecíveis e padrões identificáveis pelo público brasileiro. Por isso filmes como “Minha Mãe É Uma Peça”, que recebe uma singela homenagem em “O Porteiro”, conquistam o público nacional e funcionam muito bem.

O longa de Paulo Fontenelle resgata esse humor mais debochado e escrachado, que estava em baixa desde a pandemia, e que é tão típico tanto do cinema quanto da televisão nacional. Os personagens são quase caricaturas que, quando postos lado a lado, complementam-se de uma forma surpreendentemente natural e, claro, muito engraçada.

Aqui cabe destacar o elenco muito bem selecionado, começando pelo próprio Alexandre Lino, que consegue ser engraçado até mesmo quando não tem nenhuma fala. Daniela Fontan, que interpreta Laurizete, a esposa do porteiro Waldisney, chama a atenção desde as primeiras cenas e sua troca com a participação do lutador José Aldo é uma das melhores coisas do filme. 

A mística estudante de psicologia Dona Aline (Aline Riscado) e a faxineira namoradeira Rosivalda (Cacau Protásio) também são destaques entre as participações femininas. Mas é na interpretação riquíssima de Suely Franco (Dona Alzira), combinada com a fala do delegado (Maurício Manfrini), que se encontram os momentos mais engraçados do filme, sem sombra de dúvidas.

O filme se encaixa com a realidade social do brasileiro comum, desde o nordestino que deixa sua cidade natal em busca de melhores oportunidades para si e para sua família, passando por profissionais terceirizados que só querem se divertir um pouco, até estudantes universitários que encontram dificuldade em se concentrar nos estudos por conta de situações incontroláveis do dia-a-dia e senhoras e senhores que só estão buscando um pouco de sossego. Tudo isso sem pesar o clima do filme nem mesmo na hora do assalto, o que é resultado de um ótimo roteiro combinado com boas atuações. 

No entanto, o filme tem alguns pontos negativos, como o ritmo e a dinamicidade que se perdem em determinados momentos, além de algumas piadas que não funcionam muito bem, como a caricaturização extrema das adolescentes tiktokers. Porém, muito disso fica obscurecido pelos pontos positivos e um bom humor que entrega o que promete.

Assim, “O Porteiro” é uma obra que vale a pena ser conferida, que impulsiona o cinema e a comédia nacional e merece o apoio do público brasileiro. Uma comédia bem feita e pensada exatamente para que nos identifiquemos com personagens extremamente carismáticos e próximos da nossa realidade.

*Texto por Ana Paula Castro