“O Rio de Iemanjá” | Livro aborda relação entre Rio de Janeiro, Iemanjá e os rituais de devoção pela cidade
Combinando textos e fotografias, ‘O Rio de Iemanjá: um olhar sobre a cidade e a devoção’ mostra que culto a um dos orixás mais populares do Brasil vai dos subúrbios às praias, marcado pelo sincretismo, mas também pela intolerância
A Editora Telha está lançando o livro ‘O Rio de Iemanjá: um olhar sobre a cidade e a devoção’, da antropóloga Joana Bahia. Tomando como ponto de partida as festas e o ritual das flores no mar das praias cariocas, a autora investiga as várias formas de religiões como Candomblé e Umbanda ocuparem a cidade e os espaços públicos.
Da Igreja da Glória à praia de Copacabana, de São Gonçalo ao Mercadão de Madureira, passando pela Festa de Sepetiba e pelos terreiros suburbanos cariocas, o livro aborda a atuação dos devotos de Iemanjá, as disputas de imaginários, os sentidos produzidos pelo sincretismo e a intolerância sofrida por manifestações afrorreligiosas no Brasil desde a década de 1940 até hoje.
“Quando se fala de Iemanjá e Rio de Janeiro, é muito comum se falar em praia, Ano Novo e em pôr as flores no mar. Eu queria saber quando isso começou, queria entender a ocupação do espaço público pelas religiões. Quando essa prática de pôr as flores se torna popular? Como as populações se deslocaram na cidade para cultuar essa orixá?”, conta Joana Bahia, professora dos cursos de Sociologia e Antropologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj).
No Rio, o ritual começa na década de 1940, quando devotos da Umbanda começam a ir às praias, e não a partir dos anos 1970, como alguns estudos prévios apontam, afirma a autora. “As flores não eram só em Copacabana, mas na cidade inteira, inclusive nas barcas de Niterói, como um fenômeno bem popular. De 1950 em diante, a movimentação aumenta, e até a elite carioca começa a participar, saindo dos clubes noturnos para botar flores para Iemanjá na praia”, explica.
Além do Ano Novo, o ritual das flores no mar acontece principalmente no 2 de fevereiro, data de Iemanjá no Candomblé, e em 15 de agosto, data de Iemanjá na Umbanda.
Com uma equipe de 10 pesquisadores, o estudo recorreu a arquivos de imprensa, participação em rituais, realização de entrevistas e registros fotográficos de eventos como a Festa de Sepetiba (bairro da Zona Oeste da cidade), a festa do Afoxé Filhos de Gandhi e os rituais nas praias de Copacabana, Urca (Zona Sul) e Ilha do Governador (Zona Norte).
Popularidade
A popularidade de Iemanjá no Brasil também é debatida no livro. Uma das explicações está na associação do orixá à imagem de uma figura maternal, protetora e acolhedora. Apesar do foco no Rio de Janeiro, o livro mostra que o culto à da Rainha do Mar se estende por todo o Brasil, em estados como Bahia e Maranhão, e também para outros países, como Argentina, Portugal, Espanha, México, Alemanha e Japão. “Em Portugal, a relação com Iemanjá é muito viva e bem-vinda, pela identificação com o imaginário do navegador, do navegante, do descobridor”, revela a autora.
Intolerância religiosa
Apesar de ser um país laico, o Brasil tem sua história marcada por episódios de intolerância religiosa, principalmente diante de manifestações de matriz africana. Entre as imagens de entidades religiosas mais destruídas estão as de Iemanjá, sem falar nas invasões e assassinatos em terreiros e líderes religiosos.
Lançamento
O lançamento do livro “O Rio de Iemanjá” acontece no dia 2 de outubro, às 19h, na Livraria Blooks de Botafogo, no Rio de Janeiro,
em conjunto com “As tramas da intolerância e racismo”, de Ana Paula Miranda, também da Editora Telha. No local, as autoras participam de um bate-papo, contando um pouco de suas obras, a partir do tema “Religiões afro-brasileiras: espaço público e racismo religioso”.
Sobre a autora
Joana Bahia é antropóloga e professora titular dos cursos “Religião e espaço público” e “Religiões afro transatlânticas”, dos Programas de Pós Graduação em História Social e em Ciências Sociais da Sociologia e Antropologia da Universidade da Uerj. Coordenadora do Laboratório Interdisciplinar das Religiões e Movimentos Migratórios (Larm), é autora de livros e textos sobre religião e campo migratório, religiões, conservadorismos e espaço público, etnicidade, identidades e religiões afro-brasileiras no contexto nacional e transnacional.
SERVIÇO:
Livro: ‘O Rio de Iemanjá: um olhar sobre a cidade e a devoção’
Autora: Joana Bahia | Editora Telha | Ano: 2023
Páginas: 196 | Formato: Capa comum, 25cmx25cm
Comprar: site oficial da Editora Telha
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