O mesmo Peter Pan de sempre, mas com discussões atuais que sempre ficaram de fora da narrativa

Peter Pan & Wendy, a releitura em live action da clássica animação da Disney, de 1953, que por sua vez já era baseado num romance de J.M Barrie, e, ao longo das décadas, ganhou diferentes versões em live action. Todavia, essa nova releitura traz uma nova visão e mais destaque para alguns personagens, além do Sr. Pan.

Se existe alguém que não conhece a base da história original, Wendy (Ever Anderson), John e Michael (Joshua Pickering e Jacobi Jupe) são três crianças, sendo Wendy a irmã mais velha, que adoram brincar e não querem crescer. Numa bela noite, eles recebem uma visita inesperada na madrugada, Tinkerbell (Yara Shahidi) e Peter Pan (Alexander Molony), em busca da sombra de Peter que havia fugido e se escondido. Convencidos pelo menino, os três seguem Peter, voando, até a Terra do Nunca, numa promessa de diversão infinita, sem pais, sem regras.

Chegando na Terra do Nunca, ou tentando, as coisas já não dão tão certo, já que eles são atacados em pleno ar por balas de canhão. É o capitão Gancho (Jude Law), como sempre, em perseguição ao Peter. Nisso, todos caem no mar, Peter fica sumido um tempo e Wendy se junta aos meninos perdidos (e meninas também), para resgatar seus irmãos, pegos pelos piratas.

Primeiramente que Peter Pan é praticamente um coadjuvante no filme, ele não é, nem de longe o foco principal, apesar de ser a razão dos problemas. O filme passa uma mensagem clara que, assim como a história original, o menino que nunca cresceu, segue infantil, imutável e fazendo o que quer porque ele é o líder, ele é Peter Pan. 

Uma das primeiras discussões no filme é exatamente sobre isso, porque a criança que se sente imortal só é poderosa porque tem ajuda da Tiger Lily (Alyssa Wapanatâhk), dos meninos perdidos e, acima de tudo, da Tinkerbell com o pó mágico, senão ele não conseguiria fazer nada sozinho contra os piratas e o capitão Gancho, seria só mais um menino normal.

O próprio capitão Gancho veio nos mostrar que o passado dele com Peter é muito mais do que essa perseguição de gato e rato deles, que, de certa forma, a culpa por Gancho ser um adulto malvado é das escolhas dele e de Peter. Achei interessante para mostrar que a relação deles não é tão 8 ou 80, ou não deveria ser. Melhor ainda é a Wendy pressionando e questionando o menino sobre isso “Mas porque vocês lutam com piratas? Por que eles são maus?”

Um princípio interessante que parece existir na lógica desse universo é que a história do Peter Pan se difundiu no mundo, tanto que a Wendy e os irmãos conhecem, mas a “lenda” da Wendy, contadora de histórias, por assim dizer, também existe entre os meninos perdidos. Tanto que, essa Wendy é só mais uma Wendy, não é a primeira, a original, já tiveram outras. O que indica que vira e mexe o Peter voltava pro nosso mundo para buscar uma nova contadora de história para levar consigo, uma nova Wendy.

Claramente, como uma releitura, um live action de 2023, essa nova versão, além de trazer novas propostas, novos olhares, também traz um elenco mais diverso, então não temos só crianças londrinas brancas. Numa prova de que qualquer um pode, sim, ser um menino perdido, temos meninas, além de um ator com síndrome de down. 

Peter Pan & Wendy está disponível no Disney+, inclusive com dublagem em português. Gostei de como o filme se concluiu, talvez só senti que, no final, o Peter Pan mudou pouco, queria que ele tivesse decidido por outra coisa (não direi para não dar spoiler), mas gostei da iniciativa da Wendy de levar todos de volta. 

E se tem alguém que realmente vemos crescer com o filme é ela, de perceber que crescer é assustador, mas faz parte do processo e também pode ser uma nova aventura. Toda nova aventura é assustadora, não sabemos o que esperar. Acredito que o novo filme passa uma boa lição para essa nova geração, com medo de crescer.

Por: Letícia Vargas