Pixote – A lei do mais fraco e a violência contra a infância
Um filme para pensar sobre quando começa a infância, se o ambiente obriga a pular para a fase adulta
Produzido pelo diretor argentino Héctor Babenco, Pixote – A lei do Mais Fraco (1981) retrata as consequências de uma sociedade pobre, residente em um local com poucos recursos e como isso afeta crianças dessa parcela da população. Pixote representa um Carandiru com poucas mudanças, trocando presidiários por menores infratores, mas nas mesmas condições de vivência, com a presença de drogas, violência física e desprezo dos guardas locais.
Nunca dei muita importância para o cinema brasileiro. Comédia era o único gênero que costumava assistir, até o dia que me deu coragem para ver Cidade de Deus e foi a melhor coisa que poderia ter feito. Ao subir os créditos, tudo que pensava em fazer era bater palmas sozinha em frente ao notebook para demonstrar minha admiração pela obra que tinha acabado de assistir. Logo após, decidi dar uma chance a produções nacionais. Pixote foi uma delas, caiu no meu colo de um jeito simples, mas me proporcionou uma experiência cinematográfica tocante e que me deixou incomodada por muito tempo.
O filme conta a história de Pixote (Fernando Ramos da Silva), um menino de 11 anos que foi abandonado pelos pais. Para sobreviver, comete delitos nas ruas e acaba indo para o reformatório com outros menores. No local, presencia cenas de violência e aprende como funciona a vida no crime. Quando consegue fugir do reformatório, conhece uma prostituta e se torna um cafetão, vida que o leva a se envolver com drogas e assassinatos.
Logo no início da produção, o diretor aparece, como em um documentário, para apresentar a narrativa do filme e mostrar a realidade do ator que interpreta Pixote em seu local de moradia. O filme não se preocupa em culpar o sistema de punição para menores, muito menos colocar as crianças como vítimas daquela situação, mas sim expor como elas chegam aquele mundo violento.
Para quem está acostumado a produções com narrativas mais rápidas, Pixote possui uma história lenta e que aos poucos vai soltando informações durante a trama. Em suas duas horas somos apresentados, na primeira parte, à convivência dos menores no reformatório, e na segunda parte, à vida de Pixote nas ruas, seu envolvimento com sexo, drogas e violência. Para aproveitar ao máximo a experiência do filme, não dá para vê-lo apenas como um entretenimento para passar o tempo, mas uma obra que reflete a realidade de crianças pobres da década de 80, enquanto o Brasil se recuperava do período militar.
É uma produção nacional que choca o telespectador. As cenas de violência e descaso com as crianças e adolescentes são pesada ao mesmo tempo em que são interessantes de se ver, pois apresentam uma época em que menores não possuíam direitos e proteção do Estado, já que o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) só seria implementado em 1990.
Outro aspecto curioso do longa é o elenco infantil. Todas os jovens que participam do filme são crianças pobres e de comunidade, até mesmo o que interpreta Pixote, que após o filme, foi chamado para fazer outros papéis, mas sua história de vida se assemelha a da ficção. Mesmo que o filme tenha sido um marco na história do cinema brasileiro e conquistado prêmios, Fernando (ator de Pixote) voltou a cair no mundo do crime, sendo assassinado por policiais aos 19 anos.
Assim que terminei o filme, um sentimento de revolta surgiu em mim, e tive de procurar saber mais sobre a história que envolvia a produção. Esbarrei em várias notícias sobre o ator principal e sua trajetória de vida, até ser morto, o que resultou em uma produção que trata sobre sua execução, intitulada Quem Matou Pixote? (1996). Um conteúdo que nos faz refletir sobre o papel do Estado no cuidado de menores e como o ambiente em que o indivíduo frequenta o molda.
Para aqueles que querem sentir o peso do fim da infância, o filme está disponível completo no Youtube.
*Texto escrito por Renata da Silva
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