Porto Seguro, o filme perdido
Na última leva de lançamentos da Netflix, foi incluído no catálogo o filme Anchor Baby, no Brasil, Porto Seguro, que pareceu um grande filme perdido ~no sentido de mal colocado~
Nem só de grandes filmes e “achados audiovisuais” a vida é feita, certo?
O primeiro engano é a classificação da obra pelo site. Na versão BR, Anchor Baby é classificado como DRAMA (drama familiar e estrangeiro), mas não é bem esse o gênero do filme. A obra tem sim bastante drama, ~pobre dessas mães, pqp~, mas também há grandes momentos de tensão, além do detalhe simples da autocategorização do mesmo como THRILLER, o famoso suspense.
O nome em português também não orna muito com a história, menos ainda pelo final (que por causa da classificação, você fica “sente coisas”). Porto Seguro é a história de Paul (Sam Sarpong) e Joyce (Omoni Oboli) Unanga, casal nigeriano de imigrantes que estão nos Estados Unidos para que o seu bebê nasça com passaporte e direitos no país.
“Anchor Baby” (em tradução livre, bebê âncora) é o termo utilizado para se referir a crianças que nascem em um país diferente dos pais, sendo originárias daquela nação e fazendo dos pais (ou a família) legalizados onde o bebê nasceu. O termo geralmente é utilizado de maneira pejorativa para dizer que o bebê tem principalmente essa função. No Canadá é utilizada a expressão “bebê passaporte” para a mesma situação. Em ambos os casos, a questão central é a imigração.
Logo no início Paul é pego pela polícia especialista em imigração (ICE) e ele é deportado, já que o visto estava vencido e eles não haviam regressado a Nigéria. Por isso, Joyce cumpre a promessa de “fazer o que for preciso” para que alcançar seu objetivo.
Estas duas situações já mudam consideravelmente a experiência de quem assiste, pois você se prepara e tem dá outro rumo a sua imaginação sobre o filme. Outro ponto que pode ajudar nas considerações a respeito da obra, é que é um filme independente.
O filme independente é produzido, escrito e com roteiro de Lonzo Nzekwe e teve pouco mais de 400 mil reais como orçamento (para um filme independente é viável, não?). A definição para esta categoria é um tanto polêmica, mas a principais definições seriam (a) filmes que não foram produzidos por grandes estúdios em Hollywood e (b) obras com temáticas “arriscadas” pelo enredo subversivo.
E aqui se abre o maior problema do filme: ele é ruim. Aliás, é péssimo.
Você passa a maior parte do tempo sentindo um incômodo pela falta de informações. A fotografia não é das melhores, o movimento de câmera é falho (com poucos ângulos e é trêmulo), a atuação não é expressiva (e a história implorava por algo que passasse aquela emoção)… aí vem a trilha sonora e POW: acaba de chutar o clima construído nas cenas. Não orna.
E aí esbarramos em um grande plot twist: Porto Seguro é positivamente reconhecido e premiado. Na época de seu lançamento (2010), foi exibido em diversos festivais e conquistou “Melhor Filme” no Harlem International Film Festival, “Prêmio de Excelência” pelo Festival Internacional de Canadá e premiado em três categorias no Nigeria Entertainment Awards.
Isso me deixou bem abalada e estou reunindo argumentos para assistir de novo, de preferência, para discutir com alguém.
Sendo bom ou ruim, Porto Seguro traz uma crítica forte em relação às políticas de imigração dos Estados Unidos e como essas pessoas sofrem para garantir uma condição melhor de vida. O filme traz isso não só em relação à família de Joyce Unanga, mas também através de uma família de mexicanos. Logo nas cenas iniciais, enquanto uns adolescentes jogavam basquete, um dos meninos que tem o pai que trabalha nessa polícia de imigração diz a um outro menino (de pais mexicanos) algo que soa como uma ameaça através de uma “brincadeira”.
Apesar dos pais mexicanos, este menino nasceu nos EUA, então ele é estadunidense como o outro garoto. Mas a segregação por linhagem familiar é bem comum. Os perrengues dos imigrantes é o grande ponto do filme, eu diria, mas é uma pena não ter sido melhor explorado.
Ah, outra coisa que não podia deixar de mencionar. Porto Seguro é um filme que também está na IronFlix, uma plataforma para filmes africanos.
Para assistir o trailer, solta o clique: https://www.youtube.com/watch?v=2Yx_kiBOZDA
Este texto tem um agradecimento especial a Flávia Hagashi, cineasta e amiga que topa assistir filmes à distância, sendo uma companhia divertida nesta pandemia.
Inclusive, experimentem “dar play ao mesmo tempo” com quem vocês gostariam de estar perto.
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