Afinal, o que é Sandman?
Após burburinho causado pelas notícias sobre a adaptação, separamos uma pequena introdução para quem nunca leu a HQ.
Se você esta ligado nas novidades do mundo nerd então já deve estar sabendo sobre a futura adaptação de Sandman, famosa e aclamada serie de quadrinhos escrita por Neil Gaiman. Na semana passada a Netflix, produtora responsável pelo projeto, divulgou a segunda parte do elenco da série e o Twitter simplesmente explodiu com o assunto.
Não de uma maneira totalmente positiva, é claro. Se você é usuário da caótica, pra não dizer amaldiçoada, rede social então sabe muito bem do que estou falando. No acumular de muitos e muitos tweets com críticas sem noção e preconceito explicito ficou no ar uma pergunta essencial: quantas pessoas da comunidade nerd já leram essa indispensável obra de arte?
Pouquíssimas, se estivermos falando de trolls, mas vamos dar atenção para aqueles que foram pegos no fogo cruzado entre fãs e haters. Tenha você sentido vontade de se inteirar no assunto ou ficado genuinamente interessado na HQ nós, sonhadores (fandom), gostaríamos de te dar as boas vindas com um pequeno resumo do que você precisa saber sobre as HQ’s.
Espero que goste e se convença a ler. E se você for troll e quiser ler apenas para falar mal com “propriedade”, fique à vontade! Meu único aviso: você corre sério risco de mudar.
Sonhos, deuses e mortais
Encaixando-se – inicialmente – no cenário de fantasia urbana, Sandman se passa num universo onde todas as histórias são reais. Deuses, mitos e folclores são criações da fé mortal e mesmo que não estejam diariamente presentes todos tem seu lugar na existencia.
A história principal acompanha Sonho, um dos sete irmãos conhecidos como Os Perpétuos, personificações de conceitos fundamentais que regem o universo. Acima dos deuses, que são sustentados pela crença e morrem sem ela, os Perpétuos estão presentes desde a aurora dos tempos e permanecerão até o seu fim. Eles representam, incorporam e são aspectos da realidade, tomando como sua responsabilidade administrar tais aspectos.
O primeiro arco, Prelúdios e Noturnos, conta a história de como Morpheus (mais popular dos muitos nomes de Sonho), fraco e exausto após uma tarefa homérica, é capturado por uma ordem de magos que desejava a aprisionar sua irmã mais velha, Morte. Enquanto ele espera paciente em sua cela magica – recusando-se a atender às demandas de seu carcereiro – o mundo desperto sofre as consequências da ausência.
Após 70 anos, Morpheus consegue escapar da sua prisão, exerce sua vingança contra aqueles que o prenderam e retorna ao Sonhar, o reino dos sonhos. Lá ele descobre que o lugar ruiu em sua ausencia e muitos sonhos e pesadelos escaparam para outros planos..
Para reconstruir seus domínios e voltar a exercer suas responsabilidades, Morpheus parte na busca pelos seus instrumentos de trabalho – três artefatos que contem sua essência – tomados após sua captura. Após o primeiro arco a historia segue em um misto de arcos onde Morpheus é o protagonista e arcos onde ele é uma figura importante na história paralela de outro personagem.
Magníficos reinos de fantasia dentro do sonhar, mundos de todas as mitologias possíveis, diferentes momentos da história da humanidade em contos sobre sonhos e realidade… em Sandman, Neil gaiman explora tantas formas e conceitos diferentes que é difícil encontrar uma boa definição de gênero para a HQ.
Em um desses arcos, Sonho desce até Inferno para tentar salvar uma antiga amante e acaba recebendo a chave do lugar, dada de boa vontade por Lúcifer. O senhor do inferno deixa seus domínios nas mãos do perpétuo e parte para a terra para abrir uma casa noturna. Já ouviu uma história parecida?
Sandman é como umas 50 obras diferentes dentro de uma só, vale a pena a leitura de quadrinho por quadrinho de todas as 75 edições originais.
Além desta terra e à frente de sua epóca
São muitos os temas. Explorando o Sonhar e todos os reinos a ele conectados, Sandman fala sobre assuntos importantes e transfere valiosas lições. Mas dentre todos os temas explorados o principal é a mudança.
Em sua jornada após o aprisionamento Sonho passa a entender cada vez melhor o significado de sua existencia. Eventualmente ele aceita a necessidade da mudança e todos os personagens ao seu redor também passam por evoluções e aprendizados similares.
O preço da arte e da vida, o significado da morte, relações familiares, a responsabilidade sobre nossos atos… Na HQ, Sonho também representa o seu oposto: a realidade. Nossa realidade. E Gaiman explora com maestria uma infinidade de temas existencialistas e questões que fazemos a nós mesmos durante a vida.
Ademais, a HQ também tem uma forte consciência social e a presença de assuntos contemporâneos, explorando, por exemplo, personagens com diferentes sexualidades e identidades de gênero. E ainda dentro desse elemento de consciência social ela também faz questão de tratar com dignidade qualquer cultura em que se aventura e tem excelente representação feminina.
Esse aspecto, é claro, é propositalmente esquecido pelos inúmeros trolls da internet, que desejam mais uma “adaptação cheia de lacração” pra poderem odiar. A verdade é que Sandman sempre foi uma história cheia de consciência e desprovida de preconceitos. Numa obra tão filosófica e dedicada a questões intimas ao ser humano sobra nenhum espaço para o tradicionalismo.
Para os irreversivelmente preconceituosos e reacionários do Twitter e a fora, fica o despeito dos sonhadores. Para aqueles que ainda não entendem seu próprio preconceito internalizado, fica o convite para ler e abrir a mente. Essa é uma historia sobre histórias. Sobre como elas são tudo o que temos, como sobrevivem ao tempo, como podem mudar o mundo e como podem ser contadas por todos.
O início do sono
A primeira edição de Sandman foi publicada pela Vertigo, selo de HQs da DC Comics, em 1989 e foi o fruto de uma proposta de Gaiman à editora. O autor desejava continuar a serie de mesmo nome, escrita por Joe Simon e Michal Fleisher e ilustrada por Jack Kirby, que contava as aventuras um vigilante que colocava os bandidos para dormir com gás do sono.
Os planos mudaram e a proposta de Gaiman foi retomada quando a então diretora da Vertigo, Karen Berger, propôs que ele fizesse um novo projeto, com o mesmo nome, mas inteiramente novo. Ao lado de artistas como Dave McKean e Mike Dringenberg, Gaiman construiu ao longo dos anos uma série de fantasia adulta que explorou um cenário pouco visto anteriormente e em suas 75 edições The Sandman ganhou inúmeras premiações.
Sendo a mais notória delas a World Fantasy Award na categoria Best Short Fiction (melhor conto de ficção, em tradução livre). Foi a primeira HQ a ganhar a premiação que se concentrava apenas em literatura na forma tradicional dos livros. A história que resultou nessa condecoração foi publicada no volume 19 e intitulada Sonho de uma Noite de Verão.
Nela, Morpheus cobra o preço de uma barganha feita com ninguém menos que William Shakespeare. No seu acordo, realizado em edições prévias, Shakespeare deveria escrever duas peças para o Lorde Moldador. A primeira delas, Sonho de Uma noite de Verão, ele performa para Sonho e seus convidados: Rainha Titânia, Rei Auberon e as prórias fadas descritas na peça que visitam o plano mortal para assistir ao espetáculo.
No Brasil, Sandman foi primeiro publicado pela Editora Globo, por volta dos anos noventa e em seu formato original de revistas mensais. A HQ passou por encadernados da Corad, divididos em arcos e os volumes mais populares no momento são as quatro edições definitivas da Panini. Para quem deseja ler ainda há a opção dos volumes de comemoração ao décimo trigésimo aniversário, também pela Panini.
A leitura pode se seguir do início, mas após o termino ainda existem as histórias individuais de Noites Sem Fim e o arco Prelúdios, um prequel em três volumes que conta a história do conflito cósmico que enfraqueceu Morpheus o suficiente para que ele fosse capturado. Para além da história principal ainda se pode encontrar duas HQs dedicadas à icônica irmã mais velha de Sonho, a Morte, e também outras histórias à parte sobre os outros Perpétuos.
Até agora, um pouco do que sabemos sobre a adaptação é que o próprio autor esta fazendo parte da equipe, que ela adaptará pelo menos dois dos arcos iniciais em sua primeira temporada e que a escolha do elenco esta sendo feita com muita atenção. A série ficara pronta lá para 2021 e até lá da tempo de ler todas as HQs e conhecer essa história encantadora.
Texto por: Aquiles Rodrigues
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