Uma Família Feliz: O mundo de aparências de Raphael Montes
O novo longa escrito por Raphael Montes, “Uma Família Feliz”, estreia nesta quinta-feira, 04 de abril, nos cinemas
E Raphael Montes nos surpreende mais uma vez. Chegando aos cinemas nesta quinta-feira, dia 04 de abril, o novo longa nacional “Uma Família Feliz” guarda surpresas até o último segundo e é uma ótima adição ao cenário do gênero de suspense e terror brasileiro.
Dirigido por José Eduardo Belmonte, no longa, Eva (Grazi Massafera) enfrenta uma depressão pós parto enquanto acontecimentos estranhos colocam em risco a aparente felicidade de sua família.
Particularmente, eu estava ansioso para conferir essa produção. Já acompanho o Raphael através dos livros e gosto da maneira como desenvolve suas histórias, colocando seus personagens em situações extremas e, por vezes, chocantes, mas nunca de forma gratuita ou leviana.
E eu não poderia ter saído mais satisfeito da sala de cinema já que este é um daqueles filmes que, quando você o assistir pela segunda vez, ele se transformará em algo totalmente diferente. Por isso, evitarei ao máximo entregar qualquer ponto em relação ao enredo para não estragar a sua experiência.
O roteiro de Montes nos apresenta aquela clássica família branca de comercial de margarida, classe média que, ao olhar dos outros, é perfeita. Porém, nem tudo é o que parece e essa ilusão vai se desfazendo a partir do momento que começamos a fazer parte do dia a dia dessas pessoas.
Com isso, conhecemos Vicente interpretado por Reynaldo Gianecchini, um marido passivo agressivo; as gêmeas que acabam de completar 10 anos de idade, Sara e Ângela, frutos de um relacionamento antigo de Vicente e interpretadas pelas atrizes Luiza Antunes e Juliana Bim; Luquinhas, o recém-nascido e, por fim, Eva, a protagonista dessa história vivida pela talentosíssima Grazi Massafera.
Eva personifica muitas questões que as mulheres ainda precisam enfrentar nos dias atuais como, por exemplo, ser desacreditada ou taxada como “louca” ao agir de determinada forma a qual não é considerada como um comportamento adequado pela sociedade.
Ou também, o fato de ser mãe e ter que anular seus outros desejos e vontades como individuo em prol da criança ao passo que o homem nunca precisa fazer isso.
Sem contar todo o julgamento que uma única fala ou menção sobre a maternidade não ser o “verdadeiro paraíso” pode gerar. Apenas observem nas redes sociais, a última vez aconteceu há poucas semanas com uma fala dentro do Big Brother Brasil e o efeito foi imediato.
É inegável o quanto Grazi está espetacular neste papel. O seu trabalho consegue nos transmitir todo o caminhão de sentimentos, dúvidas e complexidade que a sua personagem carrega e, por vezes, é possível notar tudo isso apenas pelo seu olhar, sem a necessidade de palavras. Um grande desempenho que nos hipnotiza desde a primeira cena.
Gianecchini também convence com o seu Vicente, gera indignação em certos momentos e, quando contracena com Grazi, acreditamos que aquele é um casal real.
Trabalhar com crianças em um set de filmagens é sempre desafiador, mas Belmonte consegue extrair de Luiza e Juliana as emoções necessárias para o contexto em que estão inseridas, resultando em uma ótima performance.
Inclusive, a direção de Belmonte é brilhante nesse quesito. Muita coisa está escondida no subtexto dos personagens e nós como espectadores trabalhamos constantemente para decifrar o que não está sendo dito. Com isso, os pré-conceitos que geramos sobre eles são remodelados a cada novo acontecimento. É empolgante e instigante na medida certa.
Além disso, a escolha de utilizar diferentes formas de fotografia trazem mais uma camada para o clima misterioso instaurado no cotidiano dessa família. Afinal, toda a estética envolvida em uma gravação de câmera de segurança, por si só, já é o suficiente para causar calafrios, não é mesmo?
O design de som é impecável, trazendo a profundidade necessária para os ambientes e nos fazendo dar breves pulos na poltrona quando menos se espera.
Para encerrar, a narrativa também aborda questões envolvendo a cultura do cancelamento e a pressão social que pode ser potencializada através dela. Como provar sua inocência quando você não sabe o que está havendo? Como não se deixar atingir por um linchamento virtual que pode afetar sua vida, pessoal e profissional, de forma irreparável? Como se manter centrado, quando você recebe ameaças de vizinhos que, até o dia anterior, pareciam ser seus amigos?
E a cada tópico que é adicionado sobre os personagens, vemos uma avalanche de tensão se formando que culmina em uma excelente cena pós-créditos, a qual me deixou completamente indignado até esse momento que vos escrevo.
É emocionante ver o que o cinema brasileiro é capaz de produzir, apesar de todas as adversidades que o setor enfrentou no último governo. E ver um gênero que é pouco explorado por aqui, ganhar um título como “Uma Família Feliz” com tamanha qualidade entregue por Belmonte, Montes e Massafera é gratificante demais. Quem sabe, a partir de agora, possam surgir ainda mais projetos seguindo essa linha.
“Uma Família Feliz” vai te prender e engajar desde o primeiro momento. Vai te fazer questionar e repensar inúmeras vezes sobre o que você acha que as pessoas são e sobre quem elas são de verdade em seu íntimo.
Hoje já é clichê dizer que as redes sociais são apenas um recorte minúsculo da realidade, mas a cada dia que passa, elas ganham mais e mais poder para definir destinos, para o bem e para o mal. E esse filme evidencia muito bem isso.
Texto Elaborado por Jamerson Nascimento.
[…] UMA FAMÍLIA FELIZ, 15º longa-metragem dirigido por José Eduardo Belmonte, estreia nos cinemas brasileiros nesta quinta-feira, 4 de abril. O filme, que foi gravado na capital paranaense, é protagonizado por Grazi Massafera e Reynaldo Gianecchini, tem produção da Barry Company, em coprodução com a Globo Filmes e Telecine, e distribuição da Pandora Filmes. […]