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Por: Thais Moreira 04/05/2021
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Six Seasons and a Movie: Vamos Falar Sobre Community

Recentemente adicionada à Netflix, quem nunca assistiu Community agora tem a oportunidade de assistir. Porém, o que essa sitcom tem de tão especial?

No mundo dos programas de tv, as sitcoms são favoritas do público a anos. Aqui no Brasil, séries americanas como Um Maluco no Pedaço, As Visões da Raven e Eu, A Patroa e as Crianças, e brasileiras, como Toma Lá, Da Cá e Sai de Baixo fizeram parte das nossas vidas; é difícil achar alguém que nunca viu nenhuma dessas sitcoms. Nos Estados Unidos, que é onde esse formato de série de comédia surgiu, existem diversos outros exemplos clássicos que marcaram nossas vidas. Mas ,hoje, vamos falar de Community, série de 2009 que recentemente foi inclusa no catálogo da Netflix e, pessoalmente, é meu sitcom favorito.

Community
Community / Reprodução

Community é uma série com 6 temporadas e acompanha um grupo de estudos de 7 pessoas enquanto eles tentam se formar na faculdade comunitária de Greendale. O grupo, composto por Jeff Winger (Joel McHale), Annie Edison (Alison Brie), Shirley Bennett (Yvette Nicole Brown), Troy Barnes (Donald Glover), Abed Nadir (Danny Pudi), Britta Perry (Gillian Jacobs) e Pierce Hawthorne (Chevy Chase), se coloca em diversas situações no decorrer das temporadas, e tenta sobreviver em meio ao caos que é Greendale. Além do grupo, temos como personagens importantes o reitor Craig Pelton (Jim Rash) e o professor/aluno/segurança Ben Chang (Ken Jeong).

A série foi criada por Dan Harmon, que foi demitido da série ao fim da terceira temporada e readmitido somente na 5°. Isso fez com que a 4º temporada (conhecida como Gas Leak Era) fosse considerada a pior temporada da série (há quem discorde, eu inclusive, adoro a 4º temporada). Se você maratonar todas as temporadas, vai entender o porquê. Pode parecer apenas mais uma série acompanhando um grupo de amigos, mas o elenco talentosíssimo e enredo inteligente (e maluco) fazem com que Community se destaque em meio às séries do gênero.

Começando pelos personagens, cada possui particularidades que representam um humor bem pensando e, por mais que ainda seja vítima de algumas piadas problemáticas, comuns nos anos 2000, Community não é nem de perto tão ofensiva como poderia ser. Dentre os personagens, possui representatividade e abordagem de temas muito importantes, o que geralmente é um desastre em séries de comédia mais antigas, que parecem incapazes de trazer representatividade da comunidade LGBTQ+, por exemplo, sem ser somente com homofobia latente em formato de piadas de mal gosto. Community, por trazer muitas características no elenco, poderia ser um desastre de preconceito e insensibilidade. Mas não é.

A série tem 4 personagens racializados entre os principais: Abed, que é polonês e árabe; Troy e Shirley, que são negros; e Ben Chang, que é chinês. Com isso, já se abre o precedente para piadinhas racistas. A questão é que, sim, a série possui piadas racistas. Principalmente vindas de Pierce, que é abertamente homofóbico, racista, capacitista e bem machista. O ponto é: o preconceito, nesse caso, não é a piada: a piada é o preconceituoso. Quando Pierce insinua que Troy e Shirley são parentes, por serem negros, não é pra você rir do que ele diz, é pra você rir dele, porque ele é estúpido. E funciona muito bem.

Mesma coisa com Abed, que é autista. A série não explora muito o diagnóstico, mas fica claro pelos hábitos de Abed que ele faz parte do espectro, e existem algumas menções aleatórias sobre isso por parte dos outros personagens (principalmente Pierce). Mas, novamente, ele não é uma piada por isso. E o fato dele ser autista ou árabe não são as principais característica dele, ele não se resume a isso.

Danny Pudi faz um trabalho incrível em representar Abed como socialmente distante, com dificuldades de ler as pessoas, mas traz isso como característica, não como fator determinante. Tanto que, depois de assistir a série, você provavelmente vai lembrar do Abed como o rapaz que adora filme, macarrão amanteigado e ficção científica, o fato dele ter dificuldade em socializar é apenas um adendo. E, pessoalmente, é um baita personagem, meu favorito de todos os tempos.

Community
Community / Creditos: Não seja Cult

Sobre o ativismo performativo, temos Britta Perry, no papel da anarquista perdida. Claro, o foco da série não é fazer piada do feminismo, até porque a maioria dos personagens é socialmente consciente, até certo ponto. Porém, Britta é uma caricatura dos ativistas que nada fazem, apenas falam. Ela se mostra muito interessada em protestar e se mostrar consciente, sem fazer nada para mudar problemas reais. Tanto que, mesmo sem ter visto a série, você provavelmente já viu o meme ao lado:

Em contrapartida, temos Shirley Bennet no papel da típica mãe-cristã. Seu personagem é até bem familiar, muitos de nós conhecem pessoas como ela. Tolerante, porém nem tanto. Ela frequentemente usa religião como muleta para pensamentos antiquados e preconceituosos e, mesmo que não seja tão ruim quanto Pierce, está longe de ser uma pessoa socialmente consciente. E não é pra ser. A personagem é um retrato do conservadorismo velado, que não é extremo, mas também não é tolerante.

Além disso, a série dá um show quando falamos de semiótica e easter eggs. Além das milhares de referências à cultura pop, a série é capaz de contar uma história totalmente diferente no plano de fundo, enquanto você está prestando a atenção no que acontece em foco. Um exemplo é no episódio 2 da segunda temporada, Abed conhece uma moça grávida, briga com o namorado dela e faz o parto do bebê no porta malas de um carro, tudo isso no plano de fundo, enquanto uma história totalmente diferente se passa no episódio em foco. E existem muitos outros exemplos. Então, se você vai assistir, foco nos detalhes. Muitos só são perceptíveis depois que você reassiste.

Mas não deixe que tudo isso te engane, Community não é um mar de rosas. Como qualquer série feita antes de 2010 (com sorte), existem muitos tópicos mal abordados, e algumas piadinhas que não são tão conscientes assim. Um exemplo é a forma como o relacionamento entre Troy e Abed é abordado. Eles são melhores amigos e muito, mas muito próximos. Algumas pessoas (eu sou uma delas) acredita haver a oportunidade de explorar a relação romântica dos dois, pois existe potencial, e muito! Não muito diferente do que acontece com outras séries da mesma época, o possível relacionamento dos dois foi escondido debaixo de um “bromance”.

Community
Community – Troy and Abed / Reprodução

E não me entenda mal, eu acho a amizade dos dois um dos pilares da série, e não me incomoda que eles sejam só amigos, mas é difícil de ignorar o motivo pelo qual não existe ao menos uma tentativa de relacionamento ali. A homofobia e medo de repercussão negativa por um casal homoafetivo é maior do que o medo de repercussão negativa por colocar blackface na série, por exemplo. E, convenhamos, entre um casal gay e o blackface, só um é de extremo mal gosto. E não é o casal gay. Enfim, independentemente de ser real ou não o ship Trobed vive no coração dos fãs. Fora isso, existem sim muitas menções problemáticas na série, então fica aqui um possível aviso.

Fora isso, existem vários outros pontos que fizeram a séria cair no conceito de alguns. Começando por Chevy Chase. O ator que interpretou Pierce na série não é muito distante do seu personagem na vida real. O elenco da série conta, em algumas entrevistas, que Chevy fazia comentários desconfortáveis e preconceituosos sobre o elenco. Além disso, ele e o criador da série, Dan Harmon, não se davam bem e tretavam bastante (e de forma pesada!).

Além disso, depois da saída de Dan, os fãs acharam que a série perdeu a qualidade, a quarta temporada ficando marcada como Gas Leak Era e, mesmo com o retorno de Dan, as temporadas 5 e 6 também dividem opiniões, principalmente depois de Donald Glover deixar a série para seguir sua carreira musical (que deu super certo, inclusive. Stream no Childish Gambino!). Logo após a saída de Donald, no meio da 5º temporada, Yvette Nicole Brown também deixa a série no início da 6° temporada, por questões pessoais. A série, na verdade, foi cancelada pela NBC no fim da 5º temporada. Mas a pedido dos fãs, o falecido Yahoo! renovou para a 6° temporada, então independente das opiniões divergentes, foi um marco importante para os fãs da série.

Além de seu potencial em ser consciente em um tempo onde as séries não costumavam ser, Community pavimentou o terreno para sitcoms que viriam depois, como Brooklyn 99. Alguns personagens de B99 aparecem em Community, como Joe Lo Truglio (Charles Boyle) e Jason Mantzoukas (Adrian Pimento). Além disso, a famosa frase “Cool, Cool, Cool.” De Jake Peralta, foi inspirada em uma frase muito usada por Abed em Community: “Cool. Cool, Cool, Cool.”. Inclusive, há quem diga que os episódios especiais de Halloween de Brooklyn 99 também são inspirados nos episódios de paintball de Community.

Da mesma forma, Community utiliza de referências de sticoms que vieram antes dela, como Friends e Cougar Town. Cougar Town, inclusive, é a série favorita de Abed, e eles deliberadamente mencionam a série em vários momentos. O ator Danny Pudi até fez uma aparição especial em Cougar Town, como parte de uma referência de Community. No final, tudo está interligado.

Sendo assim, é possível afirmar que Community estava à frente de seu tempo (streets ahead) e marcou uma geração de amantes de sitcom. Se você nunca assistiu, eu recomento 100%! É muito divertida, e vale muito a pena. Inclusive, se você gosta de piadinhas internas e frases de efeito, essa série é pra você. Prepare-se pra sair cantando “Troy and Abed in the mooorning!” aleatoriamente sem ninguém entender nada. E se juntar aos fãs, como eu, que seguimos esperando pelo filme. #SixSeasonsAndAMovie

Texto por Thais Moreira


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