Viúva de Ferro – robôs gigantes e cultura asiática, o livro perfeito para os amantes de meccha
Uma mistura de Gurren Lagann e Jogos Vorazes. Está pronto para conhecer Wu Zetian, protagonista de Viúva de Ferro?
Huaxia é um reino assolado por perversas criaturas chamadas hunduns. Estes monstros que chegaram dos céus destroem tudo o que a humanidade constrói. Agora os seres humanos precisam habitar em pequenas cidades dentro da Grande Muralha, cuja defesa só é possível graças aos pilotos de crisálidas, enormes máquinas de guerra humanoides com poder suficiente para liquidar até mesmo os maiores hunduns.
Mas o problema não existe apenas fora das muralhas. Wu Zetian perdeu a irmã mais velha para um sistema que entrega jovens mulheres para a morte.
Toda crisálida precisa ser controlada por um casal de pilotos, um homem e uma mulher. Porém, enquanto os homens prosperam e ganham fama como heróis celebrados por todo o reino, as mulheres morrem uma após a outra devido ao esforço da conexão mental com seu par.
Zetian não entende porque as coisas são da forma que são, e na sua tentativa de vingar a irmã e assassinar o piloto que a matou, ela vai conhecer um lado de Huaxia ainda mais perverso do que a ameaça hundun.
Avisos Iniciais: o livro tem um público alvo bem específico, e se você não faz parte dele, talvez tenha que estudar um pouquinho
Se por um lado a criação de um mundo sci-fi cheia de referências às produções asiáticas meccha – aquelas tipo Power Rangers, cheias de robozões gigantes enfrentando monstros ainda mais gigantes- levam os fãs mais ardorosos ao delírio, Xiran Jay Zhao aproveita do conhecimento prévio desse público para não tomar muito tempo explicando os detalhes do funcionamento do sistema de crisálidas, ou como acontecem as batalhas dentro e fora dessas enormes máquinas.
Para os já “iniciados” no gênero, a visualização do universo é instantânea, e o ritmo rápido das batalhas criam quase que um filme animado dentro da mente do leitor. Por outro lado, aqueles que nunca tiveram contato com produções do tipo vão se sentir um pouco abandonados, e certamente terão mais dificuldades.
Por isso mesmo, pega essa dica: assista a um ou dois episódios de algum anime meccha (Neon Genesis Evangelion ou Tengen Toppa Gurren Lagann são ótimos exemplos), ou ao filme Círculo de Fogo, para ter aquela ajuda visual antes de se aventurar nas páginas de Viúva de Ferro. Prometo que vai ajudar bastante!!
Mas o livro é bom?
É sim. E ao mesmo tempo não é.
Segue aqui pra eu explicar.
Como uma fã de animes e cultura oriental, fiquei feliz de verdade ao encontrar no livro tantas referências a coisas que eu amo, e saber que o fato delas estarem ali era reflexo do amor que ê autore também sente faz a gente se afeiçoar instantaneamente ao mundo e a pessoa por trás da história.
Com um fluxo rápido e uma narrativa que equilibra muito bem ação e descanso, Viúva de Ferro é o tipo de livro pra sentar, começar a ler, e não querer largar.
Um super elogio vai para a forma como Xiran conseguiu adicionar elementos culturais verídicos da cultura asiática na história não só pra criar uma ambientação oriental, mas também pra gerar discussão dentro do tópico mais abordado da história: papéis de gênero.
Antigas tradições como os “pés de lótus”, casamentos arranjados, entre outros aspectos milenares da cultura chinesa são abordados numa roupagem fantasiosa, e discutidos a partir do ponto de vista de uma protagonista completamente rebelde ao sistema que a obriga a ocupar um espaço no qual ela não se encaixa. A própria visão dê autore como uma pessoa não binária é também bastante aparente e agrega um grande valor a discussão apresentada no livro.
É claro que tudo é uma questão de medida, e o que poderia muito bem acabar virando um livro de “palestrinha feminista”, na minha opinião, ficou bem equilibrado, com discussões que chegavam bem suportadas pelo roteiro.
Mas nem tudo são flores. Mesmo dentro do roteiro existe uma série de pequenos furos que precisam ser apontados.
Por exemplo, é super interessante acompanhar a história de uma mulher que está lutando contra um sistema que oprime outras mulheres. Mas senti falta de que fosse trabalhado o porquê, aparentemente, só a Zetian é essa alma iluminada que enxerga além do status quo. Ela teve uma vida igual a todas as outras garotas, então porque só ela é tão “prafrentex”?
O que leva a outra discussão: as mensagens sobre feminismo do livro são sim bastante positivas, porém achei que faltou colocar a sororidade em prática. É um pouco frustrante ler uma história em que a personagem diz que tem o objetivo de mudar o sistema para evitar o sofrimento de outras mulheres, mas ela é a ÚNICA mulher interessante dentro do roteiro, e todas as suas interações com outras mulheres acabam sendo, mais cedo ou mais tarde, negativas…
Sobre a construção da própria protagonista, Wu Zetian é o tipo de personagem que leva a história pra frente. Ela é ativa e toma as rédeas do plot. Nos últimos capítulos, no entanto, achei que ê autore deu uma forçadinha no drama, e as escolhas de roteiro acabaram descaracterizando boa parte do que o livro tinha trabalhado até então: a lucidez de Zetian frente às dificuldades (lucidez e frieza, cadê vocês agora?) e sua capacidade de resolver os problemas por conta própria (Deus Ex Machina desceu bonito ali no final).
Um último comentário salvo para o romance dentro do livro que, embora eu fique extremamente feliz de ver outros tipos de resolução para triângulos amorosos acontecendo (obrigada, Xiran!!), também achei que ficou a desejar na construção dessas diferentes relações.
No geral, Viúva de Ferro é uma história boa e consistente que eu curti demais ler! Todos os pontos de crítica que tenho não fizeram desta uma história ruim, apenas não tão boa quanto poderia ter sido. Esses elementos, claro, terão um peso diferente para cada leitor, o que provavelmente fará deste um livro que terá uma legião de fãs, ao mesmo tempo que uma boa quantidade de resenhas negativas.
Sendo assim, minha dica é: leia você mesmo e tire a prova! Será que você vai gostar? Espero que se divirta no processo!
Autore
Xiran Jay Zhao nasceu em uma pequena cidade na China e cresceu sob a influência da internet. Formeu-se na Simon Fraser University, no Canadá, onde passou mais tempo do que deveria escrevendo fantasia e ficção científica. Xiran costuma postar memes no Twitter, cosplays e looks incríveis no Instagram, além de fazer longos vídeos no YouTube sobre história e cultura chinesas,
Texto por: Larissa Diniz (@kitsune.literaria)
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