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Por: Ana Paula Castro 10/08/2021
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“Dois + Dois”, comédia nacional de Marcelo Saback, tenta desmistificar a poligamia

Explorando essa dinâmica de relacionamento, Dois + Dois se propõe a discutir sobre amor, sexo, amizade e fidelidade.

Dois + Dois, comédia nacional que será lançada exclusivamente nos cinemas no dia 12 de agosto, é a estreia de Marcelo Saback na direção. Roteirista de outros grandes nomes da comédia brasileira como De Pernas Pro Ar, SOS Mulheres Ao Mar e Loucas Para Casar, Saback assina também o roteiro de Dois + Dois, adaptado de um filme argentino de mesmo nome lançado em 2012.

Dois + Dois | Pôster Oficial

No elenco, Marcelo Serrado, Carol Castro, Marcelo Laham e Roberta Rodrigues protagonizam uma história que envolve discussões sobre poligamia, amizade, fidelidade, lealdade e amor.

Diogo (Marcelo Serrado), um cardiologista de sucesso, e Emília (Carol Castro), a “garota do tempo” de um canal fechado, vivem um relacionamento morno de 16 anos, com uma filha adolescente e uma vida rotineira sem grandes surpresas. Seus melhores amigos, Ricardo (Marcelo Laham) e Bettina (Roberta Rodrigues), que estão juntos há dez anos, vivem o que parece ser uma ótima fase do relacionamento, com uma vida agitada e cheia de paixão.

Tudo muda quando Diogo e Emília descobrem que Ricardo e Bettina são adeptos do swing ― ou troca de casais ― e vivem um relacionamento aberto. Emília quer experimentar a prática para sair da rotina e por medo de que a mesmice acabe com seu casamento, enquanto Diogo tem receio de se permitir a experiência justamente por achar que é o envolvimento com outras pessoas que vai acabar com a relação.

O desenvolvimento dos personagens na trama começa quando Emília consegue convencer Diogo, e o envolvimento sexual dos quatro amigos desencadeia questões mal resolvidas em cada um. Para além da sexualidade, as discussões sobre amor, amizade, fidelidade, paixão, ciúme e posse são o que mais permeiam o filme, que consegue tratar ao mesmo tempo temáticas universais e tabus sociais sobre relacionamentos.

O humor de Dois + Dois, embora repita clichês e seja previsível em alguns pontos, não deixa muito a desejar para o que se espera de uma comédia romântica, focando mais em reações naturais dos personagens e em diálogos, ao invés de meras situações engraçadas.

Bettina (Roberta Rodrigues) e Ricardo (Marcelo Laham) | Dois + Dois
Bettina (Roberta Rodrigues) e Ricardo (Marcelo Laham) | Dois + Dois

O ponto forte do filme, no entanto, é trazer a temática da poligamia com certa naturalidade para uma sociedade como a brasileira que, como bem disse a atriz Carol Castro em coletiva sobre o filme, “julga demais e tem uma certa hipocrisia em certas regras de conduta.”

A ideia de colocar um casal que se entende como monogâmico para entrar no “mundo novo” da poligamia foi inteligente, pois é possível enxergar em Diogo e Emília certos valores permeados por machismo e questões religiosas muito fáceis de identificação. E quando o casal começa a desmistificar essas questões, o público vai junto com eles. “Nós tivemos a preocupação de não terminar o filme taxando nenhuma forma de conduta, porque não era essa a nossa intenção, e sim de levantar a questão apenas”, comentou Saback.

Emília (Carol Castro) e Diogo (Marcelo Serrado) | Dois + Dois
Emília (Carol Castro) e Diogo (Marcelo Serrado) | Dois + Dois

A trama é previsível até certo ponto, mas surpreende no último ponto de virada e no final. Ao contrário do longa argentino, que é muito mais erótico e apresenta um final moralista, a adaptação de Marcelo Saback priorizou a dinâmica de cada casal, a relação de amizade entre Diogo e Ricardo e entre Emília e Bettina, a maneira como o envolvimento sexual entre os quatro afetou essas relações e trouxe o protagonismo feminino, por meio da personagem de Carol Castro, para primeiro plano.

Houve uma preocupação clara no roteiro de diferenciar sexo de amor e de mostrar que infidelidade e poligamia, assim como amor e tesão, são coisas completamente independentes e não relacionadas.

Roberta Rodrigues, Marcelo Laham, Marcelo Serrado e Carol Castro | Dois + Dois
Roberta Rodrigues, Marcelo Laham, Marcelo Serrado e Carol Castro | Dois + Dois

Mas infelizmente, apesar da boa ideia e das mudanças feitas no roteiro do filme argentino, Dois + Dois ainda não consegue tirar completamente a poligamia do holofote do tabu. Talvez por usar a poligamia apenas como ponto de partida para tratar das questões internas dos personagens principais, ou talvez pelo fato do casal protagonista começar a sair da monogamia sem entender de fato o que é a poligamia, seja como for, o filme ainda reproduz alguns estereótipos em relação ao assunto.

Em certos momentos da trama, é possível concluir que a poligamia é apenas uma fase e não uma escolha de cada casal. A questão mais contundente, entretanto, é a falsa ideia de que o envolvimento sexual é o único responsável ― ou pelo menos o caminho mais curto ― pelo desenvolvimento de uma paixão, dando a entender que qualquer casal que se proponha a uma relação poligâmica está mais sujeito a paixões fora do relacionamento que um casal monogâmico, o que definitivamente não é verdade.

Segundo o diretor Marcelo Saback, houve também a preocupação de tratar o swing como algo praticado por pessoas comuns, de diferentes idades, sexualidades, tamanhos, estilos etc. De fato, na cena da primeira festa de swing que o casal Diogo e Emília participa, são poucos os figurantes e atores com a estética padrão que contracenam com o casal.

Contudo, o filme chega a ser um tanto transfóbico em alguns momentos, com um dos personagens querendo ter relações com uma mulher trans para “ver como é” e sempre se referindo a ela de forma pejorativa, o que é bastante problemático para qualquer filme, mas especialmente para um que tem a proposta de ser desconstruído.

Mesmo com esses defeitos, o filme consegue trazer uma discussão sobre amor e os diversos conceitos que permeiam essa palavra.

De certa forma, Dois + Dois é um filme que levanta a questão da poligamia para que pessoas monogâmicas entendam um pouco mais sobre o assunto.

A mensagem principal que fica é que a poligamia não é (ou pelo menos não deveria ser) uma tentativa de corrigir alguma coisa ou um meio de conseguir algo, mas que deve existir para o casal apenas quando ambos entendem seus sentimentos, seus desejos e, principalmente, quando simplesmente querem fazer isso.

Como pontuado por Marcelo Serrado em entrevista, “a dinâmica de cada casal é diferente, é de cada casal, e esse filme respeita isso.”

E como disse o diretor e roteirista Marcelo Saback, “quem não sabe brincar, não desce pro play! Mas se aprender a brincar direitinho, seja feliz! Isso que importa!

Confira o trailer oficial de Dois + Dois, que estreia dia 12 de agosto nos cinemas.

Classificação do autor:

Avaliação: 3.5 de 5.

*Texto por Ana Paula Castro


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