Em cenários típicos do agreste, O Auto da Maga Josefa é uma aventura com gosto de Brasil em todos os sentidos, mesmo quando as assombrações vem de outros países

Já dizia Dean Winchester “Salvar pessoas, caçar coisas, o negócio da família”. Assim como os irmãos Winchester em Supernatural, Toninho vem de uma família de caçadores de demônios, e seu ofício envolve andar pelo nordeste montado na Véia, sua mula mágica capaz de encontrar assombrações, e acabar com qualquer ser sobrenatural que esteja dificultando a vida das pessoas.

Um vida solitária e difícil, mas que complicou ainda mais quando decidiu juntar forças com a maga Josefa, uma cria do próprio Tinhoso, mas que não tem nada a ver com o pai. Além de ser inteligente e poderosa, a bichinha também é caçadora de demônios. Mas por que ela está disposta a caçar seus próprios irmão? Eis a questão.

O Auto da Maga Josefa é um livro escrito pela autora Paola Siviero e lançado inicialmente em 2018 pela editora Dame Blanche, mas que foi relançado agora em 2021 numa linda edição ilustrada pelo artista Vito Quintans pela editora Gutemberg.

Nas páginas de O Auto da Maga Josefa, a cada capítulo, vamos acompanhar Toninho e Josefa chegando a uma nova cidade do nordeste a fim de enfrentar mais uma assombração: tem vampiro, tem sereia, tem lobisomem e até chupa-cabra (a da vampira é, particularmente, minha favorita!). Cada aventura, além de fazer o trabalho de nos envolver no conto correspondente à criatura mágica, nos mostra mais dos nossos protagonistas, cujas interações são divertidíssimas.

Dá só uma olhada:

“Tu vai fazer um boneco de vudu?!”

“Vou. Vudu de demônio foi meu projeto de doutorado” – ela explicou (…) – “Pelo de rato é um ingrediente ótimo, sempre cheio de sujeira.”

“E as folhas de maracujá?”

“É só pra disfarçar o cheiro.”

“E esse sangue que tu tá pingando aí, é de quê?”

“De corno. A brabeza fortalece a magia que é uma beleza. (…) Mas acabou. Tu me dá um pouquinho do seu?”

“Sai pra lá que eu nunca fui corno não, abestada!”

Josefa riu com desdém.

“Homem às vezes é bicho bobo, não é? A gente já tá em 1961 e vocês ainda achando que é vergonha ser traído.”

– O Auto da Maga Josefa (Paola Siviero)

Se você entendeu que a Josefa é a nossa musa encapetada, feminista, empoderada e maravilhosa, então você entendeu certo. E com Toninho do lado dela, tendo as melhores interações, não dá pra não gostar dessa dupla.

Se existe uma crítica que eu possa fazer ao livro, ela é apenas uma: exatamente por conta de seu estilo episódico, é impossível não ter suas histórias favoritas, e por conta disso acabar achando outras não tão legais assim, por uma questão de comparação apenas, pois todas mantêm uma qualidade ótima de problema e resolução. Além disso, por ser um livro curtinho, é complicado ter o mesmo grau de imersão que teríamos em uma obra maior com uma história única, por isso o aprofundamento dos personagens pode acabar ficando ligeiramente superficial.

Claro, tudo isso é perfeitamente esperado para a forma como a história é contada, e a Paola faz um trabalho excelente em tirar o melhor proveito do estilo escolhido. Ganha-se incrivelmente no lado da diversão, e perde-se um tantinho no lado da imersão/emoção. Não se pode ter tudo, não é?

Para finalizar, preciso comentar que AQUELE FINAL!!!! Entendo se alguns acharem que a resolução do enredo principal ficou um pouco a desejar, mas como uma fã de Rick Riordan, admito que estou muito satisfeita (fãs do tio Rick e sua tendência ao ridículo entenderão).

E sim, eu caí igual a um patinho no lance do pacto da Josefa. Não direi mais nada por motivos de spoiler, mas o tempo todo enquanto eu lia eu pensava “Uau!! Que sensacional, porque eu nunca li isso em nenhum outro lugar?! É uma ideia incrível!”

O Auto da Maga Josefa é um livro curtinho, pra ler num final de semana, e curtir uma história divertida, criativa, que enche nosso coração de orgulho de saber que dá sim pra fazer uma história misturando tudo o que a gente vê nas fantasias internacionais e fazer isso ficar com toda a carinha de Brasil.

Texto por Larissa Diniz (@kitsune.literaria)

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