Fica entre nós – e alguns agregados
Me apaixonei pelo meu colega na boyband e olha no que deu (parece que isso não “fica entre nós”)
Fica entre Nós é um romance LGBTQIAPN+, co-escrito por Sophie Gonzales e Cale Dietrich, que conta sobre uma boyband super famosa, na qual dois integrantes se apaixonam e tem que viver essa nova relação em segredo. No Brasil, o livro foi publicado pela Editora Seguinte, em formatos físico e e-book.
Ruben, Zach, Angel e Jon são os 4 integrantes da famosa boyband Saturday e estão, atualmente, em uma grande turnê. Diferente do que pensam os fãs, os rapazes não vivem livremente, as mil maravilhas, tendo que cumprir uma agenda cheia, com tarefas exaustivas, poucos períodos de descanso e, além de tudo, interpretar uma “persona”, idealizada pela empresa. Ou seja, eles não têm direito nem de ser eles mesmos.
Ruben, pode-se dizer, é ainda o mais reprimido pela empresa, visto que ele é um jovem gay que tudo que mais deseja é se assumir publicamente, o que é vetado pela empresa, sempre com mil e uma desculpas. Além disso, ele acaba com a identidade meio apagada, propositalmente (ainda que não digam isso), para não chamar atenção. Então as roupas não se destacam dos demais integrantes, nunca fala muito, não tem muitos solos nas canções, etc.
Mas mesmo a empresa tentando apagar essa estrelinha, ela ainda conseguiu brilhar o suficiente para atrair Zach, outro membro da banda. Zach, até então, era assumidamente hétero, mas sua atração por Ruben (que também tem fortes sentimentos por ele), o ajudam a se descobrir bissexual. Ruben e Zach, começam então, um relacionamento em segredo, depois de um mega mal-entendido que chegou a gerar uma crise para banda.
Mas que segredo é esse que todo mundo sabe?
Pois é, não dura muito, eles acabam contando para os demais membros que os apoiam, prontamente. Contam, também, para a empresa que diz que os apoia, mas que seria melhor manter o segredo no privado, até que a turnê termine, com a desculpa que fariam passagem pela Rússia, conhecida por ser um país intolerante (mais uma vez, mais desculpas).
“Ruben é o cara mais doce e incrível do mundo. Mas parece um ímã para caras que só querem usá‑lo. Nem faz sentido; objetivamente, Ruben é bonito, engraçado e legal — a santíssima trindade. E, mesmo assim, sempre é tratado como se fosse descartável. Um dia alguém vai descobrir que ele é o cara dos sonhos. É só questão de tempo.” - Zach, sobre o Ruben
Achei muito interessante estar na mente do casal principal, o livro ele é narrado do ponto de vista dos dois, Ruben e Zach, assim eu sabia o que cada um estava pensando e me frustrava duplamente com as ideias erradas que um desenvolvia sobre o outro (parte daquele mal-entendido que comentei). Às vezes um dizia algo de uma forma, mas não era isso que queria dizer, aí sofria internamente… complicado.
Ruben, por exemplo, tem muito problema com relacionamentos porque só teve relações tóxicas na vida, gente que só queria usá-lo para se descobrir ou ter sucesso. Então ele meio que tenta manter um pé na realidade, ele é bem resolvido com sua sexualidade e as coisas que quer, mas tem um problema de achar que nunca está “bom” o suficiente, por conta de sua mãe, que é super abusiva e crítica a tudo o que faz. Todos detestam ela, você detestará também. A influência dela sobre o Ruben é tanta que o coitado às vezes questiona se ele não é exatamente iguala ela.
Diferente de Ruben, Zach chega nessa história como personagem que está se descobrindo sexualmente. Ele superficialmente tenta passar a imagem de bad boy, por conta da empresa, mas ele é um fofo, coração mole que está sempre preocupado em deixar todos felizes, mesmo que em detrimento da sua própria felicidade.
Esse é até um dos pontos discutidos no livro, até que ponto deixar de se impor, de ter vontade própria é bom para os outros e para si. Não dá para agradar a todos, é lindo pensar na felicidade dos outros, mas e quanto a sua própria? Tudo o que ele queria era só compor músicas, e nem era do gênero que ele atualmente canta com a banda… complicated.
Dos outros dois integrantes, eles não estão lá só para cumprir tabela. John é filho do dono da empresa, ou seja, ele sofre as pressões de ter que manter o grupo na linha, para agradar o pai. Ele foi orientado a ser o “sex symbol” do grupo, mas é um rapaz bem religioso e odeia esse tipo de exposição (mas John não é pau-mandado, até ele tem limites!). Já Angel é o mais problemático de todos e o que traz uma outra grande discussão para esse livro.
Angel, cujo nome real é Reece, precisa se apresentar como o jovem “puro” do grupo, como o nome sugere. Porém, ele é o mais p*rr@ louca dos quatro e, como uma forma de escapar das restrições impostas pela empresa, começa a se envolver com drogas. Quando chega na turnê então, só ladeira abaixo, incluindo quadros de paranoia, tudo acobertado pela empresa, que prefere fechar os olhos e fingir que está tudo bem.
Achei pertinente trazerem a discussão sobre as drogas porque é algo comum nesse meio, especialmente com artistas que começam na indústria muito jovens. Acho até que Angel merecia um spin off só dele para nos aprofundarmos mais na sua mente e entender como foi que ele começou, porque no livro ele já usava “recreativamente”.
Ficou claro que os quatro integrantes se adoram como família mesmo e a união deles foi provada ao longo do livro, por mais que os tabloides e sites de fofoca insistisse em dizer que eles se odeiam. O apoio deles na relação de Ruben com Zach, o problema com as drogas… não tem melhor família que aquela que a gente escolhe para a vida, ou seja, os amigos.
Sobre a indústria do entretenimento em si, achei incrível e assustador ver como uma pessoa pode ser tão amada por tanta a gente a ponto de ser sufocada por essa idolatria. O livro conta os relatos sobre não ter mais liberdade para fazer muita coisa porque sempre precisam de um segurança por perto, fãs que querem estar cada vez mais perto, pegar, tocar, levar uma parte deles. Além disso, tem a relação tóxica com a empresa que financia a banda, com contratos abusivos, coisa que vira e mexe temos conhecimento em bandas de kpop, por exemplo.
Fica entre Nós, não fica exatamente entre nós, como disse no título, muita gente fica sabendo, só o público que não. Eu peguei o livro sem expectativas, mas achei bem divertido, uma leitura fácil. Os que querem saber, não, não temos cenas altamente descritivas de sexo. Temos cenas, mas o livro é mais para adolescentes, então temos um limite de idade aí. O que não atrapalha nem um pouco a experiência porque o casal é muito fofo! (E Angel e John não são um segundo casal no livro, antes que pensem, apenas bons amigos héteros, isso ainda existe).
Por: Letícia Vargas
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