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Por: Letícia Couto 14/09/2022
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Bendita Trupe propõe ‘antropofagização contemporânea’ em Desmascarados

Com direção de Johana Albuquerque, DESMASCARADOS nasce de um longo processo em criação colaborativa, que parte de um olhar oswaldiano para identificar e “devorar” os acontecimentos bizarros do Brasil contemporâneo

DESMASCARADOS, resultado de uma pesquisa cênica, é uma (des)homenagem aos Reis da Vela do século XXI. No Centenário da Semana de Arte Moderna, a Bendita Trupe presta uma homenagem a Oswald de Andrade (1890-1954), realizando uma desconstrução de O Rei da Vela. Com direção de Johana Albuquerque, o espetáculo está em cartaz no Teatro de Contêiner até 18 de setembro, com temporada de quinta-feira a domingo.

O elenco de criadores é composto pelos atores Marcelo Villas Boas, Vera Bonilha, Joca Andreazza, Fernanda Dumbra, Luciano Gatti, Cris Lozano, Sérgio Pardal, Pedro Birenbaum, Silvia Suzy, Jaime Branco, Ma Reys e Lisi Andrade. Completa a equipe em cena, 05 jovens atores que se destacaram no processo formativo como colaboradores bolsistas, contrapartida do Fomento, Lei Municipal que subsidiou o projeto.

Como seria “O Rei da Vela” de Oswald de Andrade, caso ele o escrevesse nos dias atuais? Para responder a tal pergunta, a Bendita Trupe trabalhou com a criação de cenas a partir de fontes documentais, em processo colaborativo. As cenas surgem de um cruzamento entre os materiais modernistas, o ideário oswaldiano, um olhar sobre a peça e os acontecimentos que atravessam a todos em 2022. É dessa mistura e desta colaboração coletiva que surge este novo texto, DESMASCARADOS, que é construído no corpo dos atores.

Ainda sobre esse esforço de “comer” a obra oswaldiana, a diretora e idealizadora do projeto Johana Albuquerque acrescenta: “A ‘devoração’ parte do conceito de se alimentar de referências “de fora” para fortalecer “dentro”, e a desconstrução que estamos realizando surge exatamente deste lugar: olhar para um Brasil sem empatia e sem máscaras, numa linguagem debochada e demolidora – assim como fez Oswald de Andrade – mas agora com as nossas palavras, com foco no contemporâneo.”

DESMASCARADOS pode ser visto como um espetáculo em camadas, um panorama lúdico e ácido que faz o público rir, constrangedoramente, diante do que nos tornamos depois que a ‘elite da barbárie’ tomou as rédeas do país. O que ressoa da longa investigação da Bendita Trupe sobre o legado modernista e o ideário oswaldiano é a constatação de que os princípios da exploração despudorada que domina o nosso cotidiano não advêm de agora, e sim desde que conquistadores, donos do mundo e fabricantes de impérios dominaram as terras brasileiras em nome de suas majestades reais.

Desmascarados. Foto: Maria Clara Diniz
Desmascarados. Foto: Maria Clara Diniz
Sobre a encenação

A encenação explora a linguagem do circo e da música (interpretada ao vivo) buscando intensificar as críticas e reflexões propostas pela dramaturgia. “Ao estudar os Modernistas descobrimos que eles realizaram um banquete antropofágico para devorar Piolim. Ele era um palhaço muito admirado nos anos 1930, tinha o seu próprio circo, e Oswald era um amante inveterado do picadeiro. Dizem, inclusive, que desejou ser palhaço e Piolim o aconselhou a escrever. Mergulhamos, então, no circo-teatro, na palhaçaria e na bufonaria, para nos aproximarmos da estética oswaldiana”, comenta Albuquerque.

Para mergulhar nessas linguagens, a trupe contou com a provocação em sala de ensaio de verdadeiras feras: Fernando Neves, Fernando Sampaio, Luciana Viacava e Jhoão Jr.

“Estamos construindo este espetáculo como uma vacina antropofágica em homenagem aos 100 anos da Semana de Arte Moderna. Partimos de um olhar sobre “oS modernismoS”, conceito plural que abarca os acontecimentos e reflexões desde o advento do “modernismo” até às apropriações e debates que se estabelecem hoje, em razão das intensas atividades em torno da efeméride da Semana de 22″.

“As propostas modernistas passavam por olhar o Brasil, nos seus temas e cores, a partir das vanguardas do começo do século 20. Hoje buscamos uma ReAntropofagia, que é olhar o Brasil a partir de uma perspectiva nossa, brasileira, sem o suporte de ‘talheres franceses’. Dar luz à nossa cultura, à nossa diversidade, às diferentes vozes, corpos, ritmos e visualidades que atravessam o nosso território”, explica a encenadora.

Desmascarados. Foto: Maria Clara Diniz
Desmascarados. Foto: Maria Clara Diniz

A visualidade do espetáculo também presta uma homenagem a Hélio Eichbauer, cenógrafo da montagem de “O Rei da Vela” do Teatro Oficina de 1967, no auge do tropicalismo, priorizando a carnavalização das cores da bandeira nacional (o verde, amarelo e azul), em contraste com o dourado e o vermelho, referenciando o ouro conquistado pelos grandes exploradores em contraponto ao sangue escorrido dos corpos explorados.

“A autoficção e a territorialidade vieram com a presença dos nossos colaboradores bolsistas, 10 jovens artistas em formação que habitam as margens vulneráveis da cidade, e trazem para o trabalho as questões em torno das representatividades”.

Johana

O cenário é de Júlio Djocsar; os figurinos são elaborados por Silvana Marcondes; a trilha sonora é criada por Pedro Birembaum e a luz do espetáculo é assinada por Aline Santini. Essa é a mesma equipe criativa do último espetáculo da Bendita Trupe, “Protocolo Volpone”. Juntos aprofundam e ampliam a pesquisa por uma linguagem que traz luz às questões atuais, com irreverência, deboche e forte teatralidade.

Sinopse de Desmascarados

“DESMASCARADOS” é uma homenagem que traz a cena o próprio Oswald de Andrade, que ressurge do mundo dos mortos para se espantar com o que se tornaram seus personagens no tempo presente. O universo do circo espetaculariza a miséria, revelando um Brasil despudorado, sem empatia e sem máscaras. Bufões carniceiros e sádicos se divertem em explorar, humilhar e até fazer desaparecer os clientes endividados, que assediam desesperados os cruéis credores de empréstimos.

Os donos do circo, o casal Abelardo e Heloisa, são também sócios empresários engajados com o poder público, que investem numa floresta particular na Amazônia, território a ser explorado por Mr, Jones, o americano parceiro investidor. A aberração dos familiares que os cercam – todos puxa-sacos do gringo endinheirado – ostenta a ausência de escrúpulos, chegando a lugares inusitados.

É daí que Oswald marca presença no contemporâneo, projetando a revolução Carahiba num banquete antropofágico que repudia o universo do grande capital, e resgata o seu ideário pela origem matriarcal em Pindorama, unificando todos os movimentos eficazes em direção á vida e ao bem viver.

Desmascarados
Sobre a Bendita Trupe

A Bendita Trupe é um premiado conjunto paulistano, encabeçado por Johana Albuquerque (diretora e produtora), que já realizou 18 espetáculos na cidade de São Paulo, ao longo de seus 22 anos de existência.

Destaca-se na produção para o público adulto e infanto-juvenil, tendo como linha de pesquisa a criação de espetáculos com linguagem crítica e poética voltada ao Brasil contemporâneo. Tem como princípio fundamental estimular a inteligência e o humor do público de todas as idades, perseguindo o ideal de um teatro “sério” (em termos temáticos) e paradoxalmente, divertido.

Em 2020, em comemoração aos 20 anos da Bendita Trupe, encenou “Protocolo Volpone, um clássico em tempos pandêmicos”, primeiro espetáculo presencial a estrear na pandemia, em São Paulo. A Bendita Trupe já realizou 03 espetáculos em processos colaborativos a partir de fontes documentais: “Os Collegas”, 2003; “Miserê Banfdalha”, 2006; e agora, DESMASCARADOS.

Serviço – Desmascarados

Desmascarados – Uma (des)homenagem aos Reis da Vela do século XXI
Temporada: 18 de agosto a 18 de setembro, de quinta a sábado, às 20h, e aos domingos, às 19h.
Teatro de Contêiner – Rua dos Gusmões, 43, Luz
Ingressos: R$30 (inteira) e R$15 (meia-entrada)
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Classificação: 12 anos
Duração: 120 minutos
Capacidade: 80 lugares


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