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Por: Jamerson Nascimento 04/07/2024
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“Entrevista com o Demônio” e as consequências da briga pela audiência

“Entrevista com o Demônio” já está em cartaz nos cinemas

Exibido pela primeira vez em março de 2023 como parte do Festival SXSW, nos EUA, “Entrevista com o Demônio”, aos poucos, foi gerando um crescente boca a boca entre os amantes de terror. E, agora, mais de um ano depois, o longa dos irmãos Colin e Cameron Cairnes finalmente desembarca em terras brasileiras e, gosto de pensar que estamos presenciando o nascimento de um novo clássico do cinema de horror.

Produzido pelos responsáveis por “Atividade Paranormal”, em “Entrevista com o Demônio”, Jack Delroy (David Dastmalchian) em sua tentativa de alavancar a audiência do seu talk show noturno, “Night Owls”, decide por fazer um especial de Halloween em outubro de 1977. 

Dentre as atrações, temos o médium Christou (Fayssal Bazzi), o cético Carmichael (Ian Bliss), a parapsicóloga June (Laura Gordon) e, claro, Lilly (Ingrid Torelli), uma garotinha que sobreviveu a um suicídio coletivo de uma seita dita como satânica. Conforme o programa avança, Jack irá descobrir que arriscar tudo para conquistar popularidade pode ser uma péssima ideia.

Entrevista com o Demônio
David Dastmalchian | Divulgação

Eu pude conferir esse longa na pré estreia realizada pela Diamond Films na última terça feira (2) no Cine Marquise em São Paulo e, mesmo dois dias após a exibição, eu ainda sigo pensando no que presenciei, tamanha qualidade técnica e narrativa entregue por esse título.

Aviso de antemão que essa crítica não conterá spoilers para evitar estragar a experiência de quem pretende conferir o filme. Então, sem mais delongas, vou elencar alguns pontos que chamaram minha atenção em “Entrevista com o Demônio”.

O primeiro deles é, sem dúvidas, sua originalidade. O roteiro, que também é escrito pelos irmãos Cairnes, abre discussões sobre até onde uma pessoa é capaz de ir para atingir a fama e popularidade e sobre o quão disposto esse individuo está para encarar as consequências geradas por essas atitudes em troca de uma grande audiência.

Mas, além disso, é inteligente na forma de apresentar e desenvolver uma narrativa que, além dos tópicos citados acima, também envolve possessão demoníaca. Com tanto longas que já sugaram até a última gota deste tema, ele consegue encontrar ótimas alternativas para conduzir o espectador, mantendo o seu constante interesse.

Entrevista com o Demônio
Ingrid Torelli, Rhys Auteri, David Dastmalchian, Laura Gordon e Ian Bliss | Divulgação

Nesse sentido, a ambientação também é um trunfo gigantesco para essa obra. O fato de estarmos assistindo a um episódio desse programa, que está indo de mal a pior, é essencial para a nossa imersão.

Toda a estética dos anos 70, desde da concepção do cenário, passando pelos figurinos, maquiagem, cabelos e finalizando com a aplicação da ideia de found footage, tornam “Entrevista com o Demônio” em uma excelente adição ao gênero que já sofreu demasiadamente com tentativas frustrantes e fracassadas de causar o mínimo de incomodo na última década.

Em certa altura do longa, você até chega a esquecer que está vendo um filme e embarca profundamente na ideia de que aquele é um talk show que, facilmente, poderia e estaria na grade de programação da década de 1970.

Outro ponto que demonstra a genialidade dos irmãos é a sua abertura onde, brevemente, temos acesso ao background de Jack Delroy que é rico o suficiente para capturar a nossa atenção e nos dá o material necessário para comprarmos a sua história. Toda a construção do personagem é feita de forma ágil e é facilmente identificável com figuras reais do mundo do entretenimento, seja pelas possíveis polêmicas que envolvem a sua ascensão meteórica ou o seu dia a dia pessoal e familiar.

Porém, diferente de seu inicio, já alerto que o seu terceiro ato pode não agradar a todos. Existe um ponto na história no qual, caso a projeção se encerrasse naquele fatídico momento, seria de uma sacada excepcional.

Mas, da mesma forma que alguns consideram o terceiro ato desnecessário por entregar algumas das respostas para as perguntas que surgem durante o desenvolvimento da narrativa, em contrapartida, caso ele não existisse, provavelmente, geraria uma outra parcela de pessoas o massacrando justamente por não responderem os questionamentos levantados. O que o torna um daqueles filmes que você ama ou odeia.

Na minha opinião, independente da existência do terceiro final, o longa funciona de ambas as formas. Da mesma maneira que, caso não existisse o segmento dos bastidores, “Entrevista com o Demônio” ainda seria capaz de ser um ótimo entretenimento. Por que esse título conseguiu a façanha de ser funcional de jeitos diferentes, mas ele se torna brilhante justamente por saber trabalhar de forma competente com cada um dos fatores inseridos na produção.

Para encerrar o tópico narrativo, não tem como não citar a excelente interpretação de David Dastmalchian. O ator, além de extremamente carismático, consegue emular com facilidade todos os maneirismos de um apresentador sensacionalista da década na qual ele está inserido. 

Além disso, a sutileza com que a sua expressão se quebra em breves momentos e vai se modificando conforme a sua preocupação, e também a sua gana por querer extrair mais e mais de suas atrações, crescem, é de aplaudir de pé.

Outra escolha acertadíssima da direção estar relacionada com Lilly, interpretada por Ingrid Torelli que, sempre que possível, está olhando diretamente pra câmera. Esse simples ato já é o suficiente para causar tensão no espectador e, até mesmo, posso dizer que nos intimida ao passo que aumenta nossa curiosidade sobre essa figura hipnotizante.

Seguindo para outros tópicos, eu sou um completo fã de efeitos práticos e, toda vez que vejo um filme que opta por seguir esse caminho ao invés de usufruir de todas as tecnologias existentes na atualidade, me causa uma felicidade imensa. “Entrevista com o Demônio” une o digital com o prático e, como resultado, gera um aspecto visual impressionante que, pode soar até exagerado em um certo momento mas, ainda assim, atinge o seu objetivo com eficiência.

A maquiagem também é um elemento essencial para complementar e, em parte, tornar mais crível o trabalho do pessoal de efeitos. 

E, por fim, a montagem e edição que também é assinada pelos irmãos Cairnes, é dinâmica, fluída, conduz o espectador com facilidade e nos faz ansiar por mais a cada novo segmento do programa. Além disso, em certa altura, eles também brincam com a percepção de quem está assistindo de forma que te faz parar e questionar: “Será que eu vi isso mesmo?”. 

Entrevista com o Demônio
Divulgação

O filme tem um pouco mais de 01 hora e 30 minutos de duração, mas você não sente o tempo passando. Isso é um claro sinal de que souberam encontrar o tempo ideal para contar essa história de forma que não ficasse cansativa ou se tornasse desinteressante em algum momento. Ainda assim, afirmo com tranquilidade que poderia ficar muito mais tempo imerso nesse universo.

Genial em todas as suas propostas, “Entrevista com o Demônio” caminha em direção a se tornar um grande nome do cinema de terror, algo que é merecidíssimo. Porém, também me causa receio ao pensar na possibilidade de que o estúdio queira inflar e sugar ao máximo esse título, gerando uma franquia caça níquel desnecessária.

Como filho único, esse longa já entrega uma excelente experiência que, caso tentem replicar, não será eficaz no mesmo nível. Então, por mais que eu tenha gostado de absolutamente tudo o que foi apresentado aqui e tenha um anseio de ter acesso a mais coisas, eu não gostaria de ver esse universo se tornar mais uma vítima de Hollywood.

Não espere jumpscares exagerados ou uma piscina de sangue e tripas ao ver esse filme por que essa não é, nem de perto, a proposta aqui. Mas, nem por isso, ele deixa de ser inovador em um nível sobrenatural, além de diabolicamente viciante. E, pode ter certeza, quando o “Night Owls with Jack Delroy” começar, você vai querer tudo, menos trocar de canal.

Texto Elaborado por Jamerson Nascimento.

Trailer Oficial
Cameron Cairnes Colin Cairnes David Dastmalchian Diamond Films Entrevista com o Demônio
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