A sensibilidade que esse documentário traz sobre Paulo Gustavo é praticamente uma carta de amor em forma do espetáculo “Filho da Mãe”

Filho da Mãe é um filme documentário sobre a carreira do ator, humorista, produtor e roteirista brasileiro, Paulo Gustavo, mostrando sua intimidade com sua mãe, Dona Déa Lúcia, e suas inspirações para o surgimento da famosa dona Hermínia, seu papel mais consagrado. O longa é de direção de Suzana Garcia (que também dirigiu “Minha mãe é uma peça 3”) e Juliana Amaral, irmã do ator.

Classificação para 14 anos porque Paulo Gustavo e Dona Déa sempre foram muito desbocados (e a gente adora)

Repleto de imagens inéditas, entrevistas com colegas e familiares de Paulo, acompanhamos os bastidores da última turnê musical do espetáculo “Filho da Mãe” (último projeto do ator), onde Paulo e Dona Déa se apresentavam, contando histórias dos dois, fazendo palhaçadas e cantando para o público. A turnê acabou em 2019, meses antes de entrarmos em quarentena, com a pandemia da COVID-19. O que era apenas um making-of da turnê, na época, tornou-se essa linda homenagem ao legado do ator.

Podemos seguir Paulo entre as gravações, nos camarins, viagens de negócios e um pouco em sua vida pessoal, contando sobre sua relação com o marido, Thales Bretas, anunciando para a família a gravidez de Gael e Romeo, com fotos, vídeos, postagens em redes sociais.

Alguns fatores já são conhecidos por nós, como o fato da famosa personagem, Dona Hermínia, de “Minha mãe é uma peça”, ser baseado na própria mãe de Paulo, além de ter começado como uma peça de teatro mesmo, antes de ir parar nas telas de cinema. Aqui vemos mais do processo criativo de Paulo, a interação dele com colegas de equipe, cheio de piadas sobre ser famoso e acessível.

Dona Hermínia, assim como é mostrada, não era só uma personagem, tornou-se uma mãe para todos os que se sentiam desamparados, todos os que se identificavam com o jeitinho dela. Mostrou que o mais importante na vida é celebrar o amor. Como diria Lulu Santos, na música: “Consideramos justa toda forma de amor”.

Mas nem só risos o documentário serve, não tem como deixar aquele sentimento em nós de “ele não está mais aqui”, ainda mais quando vamos ouvindo seus planos, conversas sobre o “para sempre”, seus sonhos de ver seus filhos crescendo. Além das piadas sobre quando ele morresse, num futuro distante, de como queria seu caixão. O tipo de comentário que todos já fizemos alguma vez, mas a gente nunca espera que esse momento chegue tão cedo.

Acho que as partes mais “pesadas” do documentário foi quando entramos na narração do começo da pandemia, com postagens do Paulo, em redes sociais, sobre não entender porque as pessoas ficavam quebrando a quarentena, saindo de casa sem máscara. Seus entes queridos falaram como Paulo era preocupado com todos com quem trabalhou, já que o meio do entretenimento foi muito afetado. Paulo ajudou vários colegas financeiramente, além de sofrer muito pelas coisas que eram noticiadas nos jornais (acredito que todos lembramos da grande doação que ele fez de tanques de oxigênio para ajudar a crise em Manaus).

Ali, em seus momentos finais, no hospital, sua família conta que ele tinha esperança, mas, ao mesmo tempo, medo, que queria ver os filhos, que queria se vacinar. E, após sua passagem, as homenagens em todo o Brasil e no resto do mundo: pessoas aplaudindo das sacadas dos prédios, a luz do Cristo Redentor, no Rio de Janeiro, apagada, a criação da lei Paulo Gustavo, de incentivo ao setor cultural.

Dentre as participações, mais que especiais, no documentário, estão: Marcus Majella, Iza, Mônica Martelli, Pedro Bial, Preta Gil, Regina Casé, Ingrid Guimarães, Thales Bretas, Fil Braz, João Fonseca, Ju Amaral e Suzana Garcia (ambas responsáveis pela direção do filme), Iafa Britz, Malu Valle, Zé Ricardo e a própria Dona Déa Lúcia.

Com quase duas horas de duração, Filho da Mãe está disponível para assinantes no Amazon Prime Video, tendo chegado em 5° lugar, na lista de mais assistidos da plataforma, em apenas 24h após a estreia. Posso garantir que vale muito a pena prestigiar a obra desse grande ator, o legado que ele nos deixou, com apenas 42 anos. Esse filme, em duas horas, conseguiu me fazer rir e me debulhar em lágrimas e, garanto, fará o mesmo com você.

Por: Letícia Vargas