Moneyboys: Um drama contemplativo
“Moneyboys” já está em cartaz nos cinemas brasileiros
Na última quinta-feira, 08 de fevereiro, chegou aos cinemas nacionais o novo filme do diretor C.B. Yi, “Moneyboys“, marcando sua estreia na direção de longas-metragens. A produção, que teve suas primeiras exibições no Festival de Cannes em julho de 2021, chega agora ao Brasil pelas mãos da Pandora Filmes.
Em “Moneyboys”, conhecemos Liang Fei (Kai Ko), um garoto que decidiu partir da aldeia onde cresceu em busca de uma vida melhor na cidade grande e, de fato, ele a consegue através da prostituição. Sua família, que permanece na aldeia, aceita o dinheiro enviado por Fei de bom grado, mas tudo muda quando o garoto descobre que essas mesmas pessoas não aceitam sua sexualidade e nem o seu modo de vida.
Confesso que expectativas foram criadas quando eu descobri a premissa do longa, porém, já adianto que a realidade não foi tão satisfatória quanto esperava.
Para começar, é indiscutível que a fotografia de “Moneyboys” é belíssima, com planos abertos que nos permitem contemplar a beleza presente nos ambientes, porém, ainda assim, uma ou outra escolha técnica me incomodou por não conseguir visualizar com clareza certos detalhes que pediam que fossem mostrados em planos mais fechados.
Outro ponto a ser levantado é sobre como as situações são desenvolvidas no roteiro. Alguns dos temas abordados aqui são tratados de maneira rasa e, apesar de possuir bons diálogos, eu esperava ter um vislumbre mais encorpado de como as pessoas que trabalham com a prostituição são perseguidas pela polícia chinesa, os desafios que enfrentam e os resultados em decorrência disso. Porém, o que ganhamos é apenas uma cena abordando o assunto onde a consequência não fica clara o bastante, uma vez que o personagem alvo dessa ação volta a realizar seus atendimentos normalmente após algum tempo.
Também notei uma deficiência em conduzir o espectador do ponto A ao ponto B de modo que faça sentido com o que está sendo apresentado e, nesse quesito, incluo a montagem. Para exemplificar esse momento em especifico, cito uma cena onde ocorre um confronto físico entre dois personagens em plena rua.
Em uma cena temos o personagem A atacando (com uma espécie de bastão de aço) o personagem B, que está ao chão, desarmado. Porém, na sequência seguinte, ambos os personagens estão no chão em um ambiente totalmente diferente, o qual não ficou claro, geograficamente, quão longe era do local inicial e o bastão é substituído por uma marreta. Como eles chegaram aquele espaço? Como o personagem B conseguiu criar alguma vantagem sobre o personagem A?
São detalhes que podem (e devem) ser desconsiderados em situações rotineiras, por exemplo, justamente para dar mais ritmo a produção mas, durante um enfrentamento, são essenciais para entendermos a progressão daquele confronto.
No que se refere a família de Fei e ao conflito gerado pela descoberta de sua sexualidade, nos é entregue um momento de tensão mas não é algo que toma muito tempo da projeção.
O que se destaca neste bloco, na verdade, é a apresentação de Liang Long (Bai Yufan) na trama, um personagem que pouco a pouco vai crescendo no decorrer da narrativa e entrará como terceiro elemento do triângulo amoroso que também envolve Han Xiaolai, interpretado por JC Lin.
E, por falar em personagens e nos seus interpretes, a entrega dos atores Kai Ko, Bai Yufan e JC Lin em cena é o que de fato me prendeu a essa história. Mesmo com as questões mencionadas acima, a performance dos três rapazes é o ponto alto da produção.
Kai Ko nos coloca em uma montanha russa de sentimentos com a complexidade de seu Fei, o que o torna aquele tipo de protagonista pelo qual você não vai se apaixonar e, por vezes, vai querer invadir a tela para dar um chacoalhão para que ele acorde.
Do outro lado, além de ser o responsável por tentar deixar as coisas mais leves, Bai Yufan veste essa camisa de conselheiro em certo ponto da narrativa, mas em troca, recebe uma das frases mais dolorosas que alguém poderia dizer pra outra pessoa, a qual você sabe que é apaixonada por você. E, sem dúvidas, sentimos esse golpe junto ao seu Long.
Por fim, temos JC Lin com o seu Xiaolai que, mesmo machucado em vários sentidos, precisou seguir em frente para que pudesse colocar a sua vida nos eixos e, arrisco dizer, que ele tenha se tornado o meu personagem favorito em toda essa jornada com a sua força e determinação tão latentes.
Gostaria também de destacar outros 3 personagens coadjuvantes que me conquistaram com a sua trama secundária, mesmo que apareçam por pouco tempo em tela. A história deles ainda refletem a realidade de muitos LGBTQIAPN+ que precisam fazer certas escolhas, mesmo que não concordem totalmente com elas, para poder sobreviver em um mundo tão preconceituoso e conservador.
Como primeira experiência, C.B. Yi entrega um trabalho que poderia ter sido um pouco melhor lapidado para que se tornasse memorável e, como resultado no final do dia, “Moneyboys” se torna um drama contemplativo e visualmente bonito sobre preconceito e questões amorosas mal resolvidas, mas envoltos em uma trama mediana que tinha tudo pra dizer muita coisa, mas prefere ficar apenas na superfície. Uma pena.
Texto Elaborado por Jamerson Nascimento.
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