Diversidade nas HQs: Mulher Maravilha brasileira causa polêmica entre os leitores
A Mulher Maravilha, Yara Flor, e a falsa diversidade nos quadrinhos
Yara Flor, a Mulher-Maravilha brasileira, foi um dos anúncios de 2020 que mais empolgou os fãs de quadrinhos. A série Future State foi criada com a intenção de apresentar versões futuristas dos personagens clássicos da DC Comics, e a Yara será a protagonista de uma minissérie de duas partes, cuja primeira edição foi lançada no exterior no último dia 5 de janeiro.
A pessoa escolhida para elaborar, escrever e desenhar as HQs de Yara foi Joëlle Jones, já conhecida no Brasil pelo seu trabalho nas HQs Lady Killers, publicadas pela Editora Darkside. Apesar do talento inegável, Joëlle é americana e, portanto, o maior temor dos fãs brasileiros era de que a quadrinista não conseguisse representar a cultura do nosso país de forma fiel e respeitosa.
Para falar sobre esse assunto, convidamos Carol Zara, uma quadrinista brasileira que descobrimos estar sendo cotada pela DC Comics. Confira!
O time por trás de Yara Flores
As grandes empresas do entretenimento já entenderam a importância de se ter diversidade em suas produções, mas parece que nem todas compreenderam a forma correta de se fazer isso. Um dos principais erros cometidos é tratar com leviandade uma cultura diferente ou deixar isso sob a responsabilidade de alguém que não tem propriedade sobre o assunto. No caso das HQs de Yara, não há nenhum brasileiro envolvido na produção – e isso fica claro quando se lê a história.
Em entrevista ao Omelete, Joëlle diz ter conversado com artistas brasileiros antes de escrever a HQ, como a Bilquis Evely, quadrinista que já trabalhou com a Mulher-Maravilha. Infelizmente, nem o nome de Bilquis ou de nenhum outro brasileiro, incluindo Suyane Moreira, a atriz que foi inspiração para o visual da personagem, entrou para os créditos e agradecimentos da primeira edição da história de Yara Flor.
Carol Zara é uma quadrinista brasileira que, atualmente, mora no Canadá e publicou de forma independente uma HQ que fez sucesso nos EUA.
“Gosto muito do trabalho da Joëlle, tanto é que eu já tentei contratá-la duas vezes! Quando eu soube que a DC criaria essa personagem brasileira, fiz um post no Facebook de forma despretensiosa, me colocando à disposição para trabalhar com o time nas HQs da Yara”, relata ela.
E não é que deu certo?
Logo sua postagem ganhou a curtida de José Luis García-López, um renomado quadrinista da DC, o apoio de vários lojistas americanos, e em seguida, um comentário de Daniel Cherry, SVP e gerente geral da DC Comics, que começou a trabalhar lá no ano passado. Ele encaminhou Carol para outros representantes da DC, que passaram a trocar e-mails com ela, iniciando uma conversa sobre potenciais oportunidades para a quadrinista na DC. Daniel é um dos únicos negros trabalhando com a DC Comics; ele sempre foi conhecido pelo seu engajamento com causas sociais e de minorias, então para ele é importante que haja diversidade tanto na ficção quando dentro da própria empresa.
A recepção do público
No Twitter, os fãs não se mostraram muito contentes com o resultado final da HQ. A maior parte dos comentários se referia à forma como o Deus Tupã teria sido retratado, bem como à representação infiel dada à Caipora, entidade do folclore brasileiro. Alice Pataxó, jornalista e ativista indígena, se mostrou indignada com a forma como a cultura indígena fora retratada na história. “Usam de nossos desejos de representatividade e protagonismo como entretenimento”, disparou ela em um dos seus tweets.
Para Carol Zara, uma história que envolve a cultura indígena deveria incluir representantes brasileiros indígenas.
“Eu não tenho etnicidade indígena, então eu não teria autoridade para escrever a Yara da forma como foi escolhida. A ideia que eu tentei propor para a DC era de uma Mulher-Maravilha brasileira enraizada na mistura de vários povos. Mas, já que escolheram focar mais no tema indígena, se eu fosse responsável pelo trabalho atualmente, teria feito uma história em co-autoria com mulheres indígenas brasileiras”, reflete ela.
A importância da real diversidade
É fato: o público atual de HQs anseia por ver personagens cada vez mais diversos, e isso já ficou claro para as grandes editoras. Quando Carol Zara se propôs a escrever a Mulher-Maravilha brasileira, não demorou para que recebesse o apoio de pessoas da indústria, como alguns dos donos de comic shops dos EUA, que ainda têm grande influência na hora da venda de um título novo. Daryl Collison, que trabalha na Gotham Central Comics, fez questão de se posicionar sobre a favor de se ter uma brasileira dentro do projeto.
“Isso faz muito sentido. Ouvimos tanto falar sobre adaptações que não fazem jus ao que está sendo retratado… por que não começarmos a melhorar isso agora?”, disse ele.
Fica então, a esperança de que a DC ouça os apelos dos fãs para as próximas histórias de Yara Flor. Segundo Joëlle, a minissérie Future State: Wonder Woman é apenas uma apresentação de Yara, e tem mais vindo por aí. Torcemos para que seja encontrado o melhor caminho para esses novos personagens – e que as grandes empresas passam a dar mais oportunidades para quadrinistas de outras nacionalidades e outros pontos de vista.
Sobre Carol Zara
Carol Zara é a editora e co-criadora da história em quadrinhos Alien Toilet Monsters®, série de terror e ficção científica que explora o conceito do multiverso. A primeira edição da HQ superou a venda de títulos renomados como Batman, Superman e The Walking Dead, segundo varejistas especializados dos Estados Unidos. Nascida no Rio de Janeiro, mas residente no Canadá, Carol já trabalhou como influenciadora para a Virgin Gaming, empresa de e-sports do Richard Branson, e como estrategista digital para os co-fundadores do Ethereum, uma plataforma blockchain.
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