O Homem dos Sonhos, dos pesadelos e das frustrações
“O Homem dos Sonhos” chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira, 28/03
Nicolas Cage está de volta aos cinemas com o novo longa da A24, mesmo estúdio de “Fale Comigo” (2023), “Tudo em Todo Lugar Ao Mesmo Tempo” (2022) e “A Zona de Interesse” (2023).
Em “O Homem dos Sonhos” (Dream Scenario, no original) acompanhamos o professor universitário Paul Matthews (Cage), um homem comum, triste e frustrado por não ter conseguido alcançar todos os objetivos profissionais que tinha em mente.
Misteriosamente, a figura de Paul começa a surgir nos sonhos de diversas pessoas, lhe trazendo uma fama inesperada. Mas quando esses sonhos se tornam pesadelos, o professor terá que lidar com as consequências deste súbito estrelato.
É evidente a inspiração na famosa lenda urbana do “This Man”, principalmente na caracterização do protagonista, para a criação desta história. Mas, de qualquer forma, o roteiro de Kristoffer Borgli, que também dirige o longa, é agradável de acompanhar, trazendo até uma leve sensação de que este poderia ser facilmente um dos episódios de “Black Mirror“.
A maneira como as situações vão se desenrolando e como o sistema, em certo ponto, arranja uma maneira capitalista de se apropriar de toda a ocorrência envolvendo Paul é assustadoramente crível quando analisamos os avanços atuais da tecnologia.
Sua narrativa ainda reflete e até ironiza a já saturada, porém sempre reacendida, cultura do cancelamento, onde pessoas comuns vão do céu ao inferno em questão de horas, de ídolos a exilados com direito até a sentenças emitidas pelo tribunal da internet, o qual já se mostrou diversas vezes sofrer de perda de memória recente.
Além disso, me agrada como os eventos que Paul enfrenta no mundo real e suas reações emocionais em relação a eles afetam a personalidade da sua personificação no mundo dos sonhos, gerando um paralelo interessante entre essas duas dimensões mas que, infelizmente, não é tão aprofundado.
Porém, o drama que começa a ser desenhado do segundo ato em diante não convence e, apesar de Nicolas Cage estar razoável em cena, eu não consigo enxergar em sua performance algo tão memorável.
Digo isso, pois, mesmo abrindo o longa de forma comedida, não foi possível criar uma conexão verdadeira com o seu personagem e os já costumeiros maneirismos e exageros em cena do ator, quando surgem, apenas contribuíram para que esse distanciamento fosse aumentando com o decorrer da projeção.
Qual o resultado disso? A sua atuação não foi capaz de me emocionar quando a história pedia por isso, nem mesmo com o adicional da trilha sonora ao fundo.
Enquanto isso, Julianne Nicholson que interpreta Janet, esposa do professor, e Michael Cera que aparece como Trent, um chefe de uma empresa especializada em marketing viral, se saem um pouco melhor que Cage mas, novamente, desinteressantes e simplesmente esquecíveis.
A montagem e edição me causou um certo incomodo com cortes secos em alguns breves trechos, mas, refletindo posteriormente sobre isso, compreendi qual era a proposta colocada aqui e, agora, concordo que faz sentido ela ser dessa forma.
Afinal, não é como se os nossos sonhos também seguissem uma ordem de acontecimentos claríssima e linear, não é mesmo?
Importante ressaltar que “O Homem dos Sonhos” é vendido como uma comédia com toques de terror, porém o meu sentimento enquanto o assistia pendeu muito mais para o lado constrangedor e de vergonha alheia do que o cômico em diversas cenas, mesmo entendendo a sátira por trás de alguns contextos. E o terror? Bom, se ele existiu em algum momento, não surtiu qualquer efeito.
Você poderia me falar: “Talvez o terror real esteja nas atitudes dos próprios seres humanos.”. Sim, concordo que essa pode ser uma boa alternativa a ser levada em consideração. Por isso, te convido a dar uma chance para essa produção para que você faça sua própria análise.
Com 1 hora e 40 minutos de duração e distribuído pela Califórnia Filmes, o mediano “O Homem dos Sonhos” transporta um antigo viral da internet para a atualidade e te faz refletir sobre como um grupo ou fanbases fanáticas têm o poder de transformar certas pessoas, por mais ordinárias e tediosas que sejam, em grandes ícones e o preço, por vezes, desproporcional à se pagar na menor derrapada.
Texto Elaborado por Jamerson Nascimento.
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