Oppenheimer: Christopher Nolan em escala atômica
O novo filme de Christopher Nolan, “Oppenheimer”, estreia nesta quinta feira, dia 20/07, exclusivamente nos cinemas
A Segunda Guerra Mundial já foi retratada de diversas formas nos cinemas e muitas dessas adaptações foram indicadas e premiadas em grandes eventos do mundo cinematográfico.
Já tivemos a história de um empresário alemão que salvou mais de mil refugiados judeus do Holocausto emprengando-os em sua fábrica em “A Lista de Schindler” (1993). Vimos também o início, o meio e o fim deste terrível, triste e doloroso capítulo da história através dos olhos de Władysław Szpilman, um pianista de Varsóvia que foi separado de sua família, escravizado e também ajudou no Levantamento do Gueto de Varsóvia contrabandeando armas em “O Pianista” (2002).
Na produção alemã “13 Minutos” (2015) acompanhamos a história de Georg Elser, o homem que tentou assassinar o ditador alemão plantando uma bomba caseira em um dos locais de seus discursos e em “O Jogo da Imitação” (2014) vimos como um grupo de cientistas junto ao matemático Alan Turing conseguiram decifrar o código da máquina “Enigma” que era utilizada para a troca de mensagens criptografadas pelo exército da Alemanha.
E, por último, em “A Queda!” (2004) , somos levados para o ano de 1945 durante a Batalha de Berlim, onde o ditador alemão passou as suas últimas horas antes de atentar contra sua própria vida.
Esses foram apenas alguns exemplos das diversas produções que existem por aí retratando partes da história mundial e, nesta quinta-feira, dia 20 de julho, o diretor Christopher Nolan (de “Memento” (2000), “Inception” (2010) e “Interstellar” (2014)) nos entrega mais um capítulo que resultará em duas grandes tragédias nas cidades de Hiroshima e Nagasaki no ano de 1945.
Em “Oppenheimer” acompanhamos a história do físico teórico J. Robert Oppenheimer (Cillian Murphy) que ficou conhecido mundialmente por participar do “Projeto Manhattan” em Los Alamos, projeto este responsável por trazer a alcunha, posteriormente, de criador ou pai da bomba atômica para o físico.
Com um rolo de filmagem de mais de 270 kg (você não leu errado), Nolan nos entrega um longa de três horas de duração que, sem dúvida alguma, entrará para o hall de filmes de guerra que agradará os responsáveis pelas indicações do Oscars.
Podemos esperar, por exemplo, indicações merecidíssimas de “Melhor Ator” para Cillian Murphy, “Melhor Atriz” para Emily Blunt que está espetacular no papel de Katherine Oppenheimer e “Melhor Ator Coadjuvante” para Robert Downey Jr. que também se sai muito bem interpretando o Almirante Lewis Strauss.
O roteiro de “Oppenheimer”, basicamente, intercala entre duas linhas temporais e já adianto que o foco principal não são as bombas atômicas. Temos o início da carreira do físico teórico, passando pelo início das suas aulas na Universidade de Berkeley e sendo nomeado para assumir o “Projeto Manhattan” entre meados dos anos de 1930 e 1940 e, em paralelo, também presenciamos a Audiência de Segurança onde a lealdade de Oppenheimer para com o governo americano é questionada durante os anos 1950. E claro, tudo isso, permeado com doses e doses do já conhecido patriotismo norte-americano.
Apesar das constantes idas e vindas no tempo, não temos um filme narrativamente confuso, porém como toda produção que traz termos físicos e científicos em seus diálogos, pode ser um tanto quanto difícil o entendimento em alguns rápidos momentos.
Inclusive, por ser um filme focado essencialmente em diálogos e debates, a montagem e edição de Jennifer Lame capricha e é essencial para manter o espectador ligado à história e quando há qualquer sinal de desgaste, o seu trabalho consegue capturar o interesse do público novamente.
Toda a grandiosidade das locações e toda a profundidade desses locais são repassados à altura através da fotografia e do som, nos trazendo para dentro do espaço em que a ação dos personagens ocorre, seja ela em um ambiente aberto ou fechado. Cito aqui uma das sequências durante a audiência de segurança em que o incômodo de Oppenheimer durante o interrogatório é sentido por nós imagética e sonoramente falando.
E então acontece a fatídica cena a qual rendeu até boatos afirmando que Christopher Nolan havia, de fato, detonado uma bomba atômica durante as gravações desse longa, afirmação a qual já foi refutada pelo próprio diretor em entrevista ao The Hollywood Reporter.
O impacto que sentimos durante as cenas envolvendo o último teste de “Trinity” é absurdamente assustador e, imediatamente, somos atravessados pelo iminente ataque que resultará na morte imediata de mais de 100 mil pessoas em um espaço de três dias. O fato desta sequência ter sido realizada utilizando apenas efeitos práticos torna tudo ainda mais grandioso.
Então, após expor todos os pontos citados acima, é possível que “Oppenheimer” acumule diversas indicações em categorias técnicas e, provavelmente, vencerá algumas delas. Mas será que essa produção também conquistará o público na mesma medida? Essa é grande questão.
“Oppenheimer” é um exemplo claro de um filme “escrito para as telas” como o próprio material de divulgação do estúdio evidencia em seu marketing pois, a grandiosidade e experiência que temos ao assistir em uma tela IMAX dificilmente será reproduzida à altura quando o longa for assistido no conforto da nossa casa (algo que irá demorar para acontecer, já que é previsto que ele fique por um bom tempo em cartaz). Porém, todos nós sabemos que o custo para se ter essa experiência é ligeiramente alto.
Se eu gostei do filme? Sim, gostei, principalmente pelos quesitos técnicos e pela utilização de efeitos práticos, os quais eu sou apaixonado. Se eu me emocionei com a história pessoal do físico teórico? Sinceramente, apesar das ótimas atuações, não. Essa história merecia ou deveria ter sido contada? Apenas o futuro poderá nos dizer.
Mas uma coisa podemos concluir. Essa longa chega para nos lembrar, mais uma vez, do nível de atrocidade catastrófica que o ser humano é capaz de cometer contra sua própria espécie.
A criação da bomba atômica não deveria ser algo a ser comemorado. A quase extinção de todo um povo em detrimento da “vitória” de outro não deveria ser algo a ser considerado quiçá colocado em prática como ocorreu durante toda a década de 1940.
Neste momento, quase 80 anos nos separam dos momentos retratados no longa, porém as guerras ao redor do mundo continuam acontecendo. Será que nunca aprenderemos nada com o nosso passado? Até quando continuaremos a cometer os mesmos erros? Infelizmente, essas perguntas parecem ainda estar longe de receberem uma resposta.
“Eu me tornei a Morte, o Destruidor de Mundos”
Texto Elaborado por Jamerson Nascimento.
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