
Starless Sea (Erin Morgenstern)
“Everyone wants the stars. Everyone wishes to grasp that which exists out of reach. To hold the extraordinary in their hands and keep the remarkable in their pockets.” (Starless Sea – Erin Morgenstern)
(Todo mundo quer as estrelas. Todo mundo deseja agarrar aquilo que existe fora do alcance. Segurar o extraordinário nas mãos e guardar o excepcional nos bolsos – Tradução livre)
Passando inocentemente pelas estantes da livraria do shopping, dei de cara com Starless Sea, livro de 2019 da autora Erin Morgenstern, que também escreveu Circo da Noite, publicado no Brasil em 2012 pela editora Intrínseca. Olhei pra capa do livro: chaves, abelhas, título impactante. Cheguei mais perto. Fagulhas de energia estalaram no ar entre nós, daquele jeito que rola toda vez que, sem motivo absolutamente nenhum, você sente que que aquele livro é perfeito pra você. Comprei.

Fui ler no finalzinho do ano passado, e assim que comecei, imediatamente entrei numa cápsula espaço-temporal da qual saí só quando o livro terminou e percebi que dois dias tinham se passado (ok, não tão drástico assim, mas foi quase kkkk).
A leitura de Starless Sea foi uma experiência única. Essa é uma daquelas tramas do tipo “A Origem” – uma história, dentro de uma história, que está dentro de outra história, e assim até o infinito – na qual você precisa prestar atenção a cada detalhe pra conseguir entender o panorama completo. Não é um livro pra ler no “modo preguiça”. Aproxime-se dele só quando estiver se sentindo disposto, do contrário a experiência pode ser bem confusa. Fica aí o conselho.
Vou explicar melhor o que estou falando. O livro é fragmentado em duas narrativas principais, que variam de um capítulo para o outro: a visão do protagonista, e trechos de livros fictícios chaves para a trama.
Pela narrativa do protagonista, acompanhamos Zachary, um estudante de pós graduação apaixonado por livros e video-games. Certo dia, Zachary começa a ler um livro de contos chamado Sweet Sorrows (Doce Tristeza), que encontrou na biblioteca da universidade.
O primeiro capítulo desse livro conta a história de um menino, o “filho da vidente”, que encontra nos fundos da sua casa o desenho de uma porta na qual estão entalhadas as figuras de uma abelha, uma chave, e uma espada. O menino vira as costas sem abrir a porta (claro, era só um desenho), embora o narrador nos conte que a porta poderia sim ser aberta, e que por trás dela existia o Starless Sea (Mar Sem Estrelas). O menino, no entanto, jamais saberá isso, pois escolheu não abrir a porta.
É nesse instante que Zachary percebe duas coisas: a primeira é que aquela história é sobre ele. Ele é o filho da vidente. Ele encontrou a porta desenhada na parede quando pequeno. E a segunda é que Zachary perdeu a chance de começar sua história, e perdeu a chance de chegar ao Starless Sea. Agora, se quiser conhecer esse lugar misterioso, vai ter que correr atrás de outras portas que possam levá-lo até lá.
“A boy at the beginning of a story has no way of knowing that the story has begun.”
(Um menino no início da história não tem como saber que a história começou – Tradução livre, fragmento de Sweet Sorrows)
Enquanto Zachary vai desvendando seu caminho até chegar ao Starless Sea, o outro foco narrativo nos apresenta, a cada capítulo, fragmentos de Sweet Sorrows, Fortunes and Fables (Fortuna e Fábulas) e Ballad of Simon e Eleanor (A Balada de Simon e Eleanor), livros que contém histórias de pessoas tão reais quanto Zachary. O mais interessante de levar junto as duas narrativas é exatamente a expectativa de quando os personagens descritos nos contos vão aparecer na narrativa de Zachary, e como tudo isso se encaixaixará para explicar o porquê de o mundo por trás das portas estar ruindo, fadando lindas histórias ao esquecimento.
Os fragmentos de contos, admito, eram minha parte favorita. Erin Morgenstern escreve belíssimamente. Uma escrita de contos de fadas comparável ao trabalho de Laini Taylor ou Patrick Ruthfuss, autores com as escritas mais lindas que já tive o prazer de ler. Esse trabalho impecável dá origem a uma ambientação que com certeza é o ponto mais forte do livro. É impossível não ficar encantado pelo universo. Não tem como não sentir a magia da história. Inclusive, por mais que os aqueles fragmentos de livros tenham por volta de 8 páginas, fiquei impressionada com a minha capacidade de verdadeiramente me importar com personagens apresentados de maneira tão rápida (estou falando de vocês, Lua e Estalajeiro!).

Pena que não posso dizer o mesmo do protagonista, e aí começam as minhas principais críticas sobre o livro. Zachary não tem uma personalidade muito bem desenvolvida, está looooonge de ser um personagem memorável. As próprias motivações que impulsionam a trama pra frente são bem fraquinhas. Ele basicamente é levado pelo fluxo.
Ah, tem também aquele insta-love básico, que eu até aceito dado as desculpinhas de destino, histórias cruzadas e tal. Mas não comprei o desenvolvimento do romance não. Nas horas em que eu finalmente achava que ia rolar umas conversas profundas, interações pessoais pra aprofundar o sentimento… nada. Como eu consegui comprar um romance de 20 páginas entre um garoto e uma menina-coelho, mas não consegui comprar um de 100 páginas entre o protagonista e seu par romântico, tudo no mesmo livro? Não sei…
Enfim, esses detalhes, mais alguns contos que não foram bem amarrados no enredo principal, foram os elementos que deixaram o livro com nota final de 4 estrelas. Apesar disso, essa foi umas daquelas histórias que cresceram em mim depois de terminar o livro. Percebi que realmente ia sentir saudade daquele mundo e do quão bem eu me senti enquanto lia essa história. Por causa desses sentimentos, favoritei o livro, e espero reler em breve, talvez quando lançarem a versão em português. A editora Morro Branco já comprou os direitos de publicação anunciou o lançamento para esse ano. Vamos esperar!
Classificação da Larissa (cons.ciencialiteraria): 4 estrelas, favoritado.
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