“Você” – O ponto de vista de um psicopata “incompreendido”
Em “Você”, aprendemos como usar o amor para justificar suas ações doentias?
“Você” é uma série da Netflix que traz uma premissa comum de uma série de romance: um cara conhece uma moça e as coincidências da vida levam os dois a se apaixonarem e viverem esse romance, com vários empecilhos no caminho. Até aí, tudo bem, não fosse o fato desses empecilhos serem a pilha de corpos que esse cara vai largando para trás, em busca desse “amor”.
Atenção: essa série é recomendada para +18 anos, porque tem cenas de violência, sexo, etc. (O combo de sempre).
Joe Goldberg (Penn Badgley) trabalha em uma livraria em Nova York e um cara simples, sem redes sociais e amante de livros. Um belo dia, Guinevere “Beck” (Elizabeth Lail) entra nessa livraria e logo chama a atenção de Joe que já puxa um papo, indica alguns livros e decide que ela pode ser o que ele estava procurando esse tempo todo. Poderia ter sido um único encontro, porém desse momento em diante, Joe começa a stalkear a moça.
Pelas redes sociais dela, ele descobre toda sua vida, seus amigos, onde mora e estuda. Ela mora no térreo e as janelas são grandes, ele passa o dia ali, vigiando, e até a noite, se bobear, já chegou a invadir e, até, roubar itens pessoais dela. Joe vê Beck acordando, se encontrando com o “namorado” babaca, amigas esnobes, assediada por seu professor de mestrado…A partir daí, ele já tem certeza que ela é o amor de sua vida e que ela está infeliz por conta dessa gente toda. Depende dele, salvá-la de seus tormentos e garantir que eles vivam “felizes para sempre”.
Primeiro de tudo, se não ficou claro que Joe é tóxico e perigoso, então você precisa buscar ajuda psicológica. A série já é praticamente toda do ponto de vista dele para a gente entender como sua mente funciona e como ele consegue justificar todas as suas ações por amor. Isso não quer dizer que eles passam pano, a série simplesmente conta a história e cabe aos demais personagens, que descobrem sobre a verdadeiro personalidade de Joe, e a nós, tirarmos nossas próprias conclusões sobre ele.
Beck é apenas uma jovem que nunca teve sorte em relacionamentos, mas que também não é pintada como santa. Ela também tem suas falhas e suas questões internas, como o fato de viver uma vida que não é exatamente a dela, querer se relacionar com amigas com coisas a oferecer a ela. E nessa história, seu “namorado” é o primeiro que dança e acaba morto por Joe, após ficar vários dias em cárcere privado (estão entendendo o nível que esse cara pode chegar, né?).
Quando ele pensa que se livrou do peso morto que atrapalhava sua futura relação com Beck, seu novo alvo se torna a melhor amiga da jovem, que não vai com a cara dele. Claro que ele roubou o telefone de Beck e o usa para monitorar suas conversas particulares para descobrir tudo isso. Não é justificável essa perseguição, mas a amiga vira alvo por se mostrar uma amiga tóxica, também, sempre querendo sabotar os sonhos de Beck, para mantê-la só para si.
Um fator de contraponto na série é a existência do Paco, um garotinho que é vizinho de Joe e vive recebendo livros emprestados do cara para se distrair dos problemas familiares dele. Acredito que o Paco está ali para mostrar que o Joe pode ser essa pessoa de bom coração, se preocupando com a criança e enganando a todos com suas ações, enquanto sai stalkeando a Beck e matando quem ela conhece por aí. São as várias facetas de um psicopata.
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Sessão de spoiler, se não quiser saber detalhes, pode pular pro final da linha.
A primeira temporada me deixou intrigada sobre o que seria abordado nas demais, visto que a relação entre Joe e Beck vai se degradando por conta das atitudes de Joe e, principalmente, quando chegamos no ápice e Beck descobre sobre tudo que ele fez. No final, ela acabou morta por ele e a segunda temporada já nos mostra que, além de psicopata, Joe vai se tornando um possível assassino em série. Beck não foi a primeira e ele já está de olho em sua próxima vítima/amor, em uma nova cidade.
E palmas para o roteiro que não repetiu mais do mesmo. Os padrões dele são os mesmos, mas a forma como a história rolou na segunda temporada. A Love Quinn (Victoria Pedretti) e o Forty foram uma escolha perfeita para a segunda fase. Não falarei mais nada, mas o final da segunda temporada, e a terceira em si, rolam coisas que não dá para prever.
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Se tem uma conclusão para essa série é observar os sinais para saber se não está caindo em algum relacionamento com tendência a ser tóxico. Quando a pessoa chega e fala que faria “tudo por amor”, ela pode estar falando a verdade mesmo. E nosso romance, baseado em um livro de mesmo nome, da Caroline Kepnes, se tornou uma bela série de drama psicológico, com 3 temporadas na Netflix e já renovada para a 4° temporada.
Por: Letícia Vargas
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