O filme de comédia da Telecine “Cadê o dinheiro?” me resultou na questão: cadê o final do filme? 

A produção conta a história de uma espécie de “herança perdida” dentro de uma fraternidade de jovens, tem um ótimo desenvolvimento, cumpre com a ideia de besteirol e nos entrega esquetes sarcásticas no minuto ideal. Tem inclusive pinceladas de críticas no mesmo nível de Operação Supletivo, também do streaming, mas não finaliza bem. 

Bom, aqui escreve alguém que definitivamente não gosta de histórias sem fim, e sem fim é diferente de “reticente”, ou seja, que sugere uma continuação, ou pelo menos deixa a entender o destino das personagens que nos cativaram ao longo do percurso. 

É como ouvir da boca do seu amigo uma história super detalhada, que te ganha e, no final, ele despeja uma finalização seca e direta, sem nenhuma preparação. Depois do ponto alto, você simplesmente despenca no susto e fim, sobem os créditos. 

Mas pra quem quer descansar a mente de obras super reflexivas, quer dar umas risadas ou só quer assistir algo com uma proposta diferente, Cadê o dinheiro? é uma opção muito viável, pois para encontrar esse dinheiro, Del Goodlow (King Bach), o amigo Juice (Allen Maldonado) e sua crush, Alicia (Kat Graham), esbarram em dois obstáculos: uma fraternidade masculina branca (guardem este detalhe) da Universidade do Sul da Califórnia, nos Estados Unidos, e o tio Leon (Terry Crews, sim o pai do Cris ou Latrel!).

A dificuldade 1 é difícil, principalmente por Del ser um garoto negro de um bairro pobre e não fazer faculdade, mas não é pior que o b.o 2: Leon, o nada flexível e perigoso prisioneiro fugitivo da prisão. Maaaas, ainda assim, motivado pela vontade de mudar a realidade da academia de boxe da família, que está a ponto de falir.

Falei para guardarem a informação >fraternidade masculina branca<, guardaram? Pois prestem atenção que o filme se apropria principalmente desse viés pra construir a crítica e a sátira do filme, e não esconde. 

Cadê o dinheiro? começa com cenas do bairro, e Del como narrador-personagem, contando como funcionam as coisas no bairro e explicando a gentrificação que estão passando. Durante o longa, alguns dos garotos da irmandade inclusive mencionam isso explicitamente quando tentam sequestrar Del “na parte mais pobre do bairro pobre”. 

Esse é só um dos momentos em que a condição de ambos os grupos se contrastam. Outra cena do tipo, é quando vai haver o leilão dos novatos, uma tradição que a gente sempre assiste em filmes do gênero besteirol (inclusive em As Branquelas) e que tais integrantes não veem problemas, até que Del se opõem em ser leiloado ~vamos estabelecer que esta é uma questão óbvia, ok? Não existe a possibilidade de algumas reproduções, mesmo que “sem maldade”. 

O filme faz isso com frequência e não nos deixa esquecer o tom crítico quanto a racialidade. 

Ocupando a vaga de principal antagonista, está o tio Leon, que foi preso junto com o pai de Del por um assalto gigante no qual a polícia não recuperou o dinheiro. Este dinheiro que agora todos procuram. 

Falando no pai dele, o cara perdeu basicamente toda a vida do filho por causa do assalto. Foi ele quem abriu a academia, com o intuito de atrair crianças e jovens para que não se interessassem pelo crime, e acabou justamente por recorrer às atividades ilícitas para tentar quitar as dívidas da empresa que abriu. Não deu muito certo. 

Preso há 17 anos, ele convida o filho a ir visitá-lo e tenta compensar o tempo perdido e, mesmo que fosse possível, o fez de maneira nada lógica -e cômica, obviamente-, botando o filho que já é um homem no colo e lendo um livrinho, literalmente. 

Aí chega o auge de Cadê o dinheiro?, as confusões chegam ao ápice do caos… e a gente chega ao final de maneira rápida e menos trabalhada do que o restante da história. Aí chovem perguntas, né? Nos últimos minutos o filme se propõe a resolver rapidamente a vida das personagens, inclusive tirando alguns do crime, e eu fiquei “cadê o filme?” 

Bom, aqui é o trailer de “Cadê o Dinheiro”:

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