Young Royals: O adeus a Hillerska
Todas as temporadas de “Young Royals” estão disponíveis na Netflix
Depois de dois anos de espera, chegou a hora de dizer adeus aos alunos de Hillerska com o lançamento da terceira e última temporada de Young Royals na Netflix.
Na última leva de episódios, Wilhelm (Edvin Ryding) precisa lidar com as consequências de seu discurso e Simon (Omar Rudberg) começa a sentir na pele os desafios de estar envolvido com a Monarquia. Em paralelo, Hillerska enfrenta uma crise terrível que pode resultar no encerramento de suas atividades de forma definitiva. Será que a relacionamento de Wilhelm e Simon é forte o bastante para sobreviver a tudo isso?
Após o ótimo gancho deixado na segunda temporada, eu não sabia o que esperar desse novo capítulo. Expectativas altas? Completamente. Eu estava eufórico depois daquele novembro de 2022 e, justamente por isso, eu acabei demorando um pouco mais para conferir o encerramento dessa história.
Talvez por medo de como poderia acabar? Por receio de estragarem ou que houvesse uma queda na qualidade da produção? Por não querer dizer adeus a esses personagens? Enfim, por diversas razões.
Mas enfim me dei a oportunidade de ver os nossos colegas de Hillerska pela última vez e, na tarde de ontem, dia 25/03, finalizei essa produção. Aviso desde já que essa resenha conterá spoilers da terceira temporada de “Young Royals”, então caso não a tenha conferido ainda, continue a leitura por sua conta e risco.
Então, para começar, vamos logo tirar o grande elefante branco da sala: o final. Esse encerramento me causou emoções diversas.
Seria poderoso ver Wilhelm se consagrando Rei da Suécia e Simon assumindo o posto de primeiro príncipe? Sim, com toda certeza. Mas, cá entre nós, também não é lindo ver Wilhelm abdicando da coroa para ser verdadeiramente feliz ao lado de Simon?
Sem sofrer com a pressão constante que a Monarquia exercia sobre ambos, agora os rapazes podem ter um mínimo de liberdade para tomar as decisões por eles mesmos.
Por outro lado, também é triste notar que Wilhelm precisou tomar essa decisão por que o mundo ainda não tem a capacidade de aceitar um rei assumidamente queer em pleno 2024.
Teria sido extraordinário ver Wilhelm ser efetivamente a revolução para os métodos, costumes e tradições arcaicas que os monarcas continuam se agarrando com todas as forças. Não é possível sequer dimensionar o quanto seria representativo e significativo para a comunidade ter uma pessoa LGBTQIAPN+ a frente de um dos maiores símbolos de poder politico.
E você me diria: “Mas é uma ficção. Tudo pode ser possível.”. Sim, é verdade. Mas mesmo assim, sabemos que as chances disso realmente acontecer seriam mínimas, assim como é na vida real. Seria utópico demais e até incoerente com o que foi mostrado até esse momento na série.
Se tivéssemos mais temporadas para desenvolver esse plot, essa até poderia ser uma possibilidade plausível dentro da narrativa, porém esse não é o cenário atual. Tínhamos apenas 6 episódios com menos de 1 hora de duração cada para encerrar essa história.
Você pode achar que essa tenha sido a saída mais fácil e tudo bem, entendo totalmente. Mas eu enxergo essa decisão como a mais honesta para esses dois personagens. Como a mãe de Simon cita em certo momento: “O amor não deveria ser tão complicado”. E não é justo que Simon e Wilhelm possam viver o seu amor de forma calma por, pelo menos, uma vez depois de todo esse tempo?
Dito tudo isso, sim, eu me emocionei demais com a cena que encerra essa jornada que começou lá em 2021 e gosto de como termina, ainda mais depois de passar boa parte do tempo acreditando que não seria possível existir um final feliz. Como eu disse, muitas emoções.
Foi ótimo poder conhecer esses personagens, ver o desenvolvimento e acompanhar essa trajetória com tantos altos e baixos. A Netflix realmente acertou em escolher esse projeto.
O que falar da performance de Edvin Ryding? O seu Wilhelm cresceu tanto durante esses três anos e ver ele atingir o seu auge no episódio 05 dessa temporada, é simplesmente espetacular.
A explosão que ele causa em cena quando o seu personagem finalmente consegue confrontar os seus pais e verbalizar absolutamente tudo o que ele vem guardando desde a morte de seu irmão é impactante, forte e é capaz de preencher cada pedacinho daquele palácio que ficou pequeno demais pra esse jovem talento. É uma evolução e tanto.
Omar Rudberg também não fica pra trás. O seu talento vocal é sempre um deleite para os ouvidos e sua sensibilidade consegue conquistar até aqueles mais rígidos. Eu não aguento ver esse menino chorando. E o que dizer da música que ele compôs como presente de aniversário para Wilhelm? Devastadora.
Mais do que nunca, o seu Simon precisa encarar de perto os desafios de ser namorado de um membro da realeza sueca e entender as consequências que as suas ações podem gerar, não apenas para si próprio, como para a sua família e para a monarquia. Uma verdadeira batalha para sua saúde mental e sua segurança física, além do eterno dilema entre seguir os seus princípios ou o seu coração.
É verdade que algumas de suas atitudes me incomodaram durante essa nova temporada, mas adolescentes tomam decisões erradas na maior parte do tempo, não é mesmo? Mas concordo que uma parcela do sofrimento dele poderia ter sido evitada apenas clicando em uma opção chamada “desativar comentários” em seu instagram.
E quando esses dois estão juntos, era natural surgir um sorriso no rosto. Como eu gosto desse casal. A química inegável que eles transmitem, o magnetismo que eles sentem um pelo o outro, os olhares, os toques, é algo bonito de se testemunhar.
Além disso, o roteiro também faz questão de colocá-los em meio a debates sobre diferenças de classes, a importância de movimentos e protestos e, claro, o significado político por trás de ser uma pessoa LGBTQIAPN+. Um grande acerto.
São momentos rápidos mas importantes e válidos para plantar uma semente nas mentes dos espectadores adolescentes que assistem a série mas que ainda não tiveram um despertar para esses tópicos.
Outro ponto que também é abordado e dessa vez é trazido pela atriz Nikita Uggla envolve as óbvias diferenças raciais e falta de pessoas não-brancas em Hillerska. Enfim, a sua personagem, Felice, consegue expor as diferenças de tratamento direcionados a ela e como isso a afeta. Contudo, também gostaria de ter visto mais dela durante toda a temporada, acredito que ela tinha muito mais a contribuir.
Em relação ao (não) casal Sara e August, mesmo com uma breve redenção deste último e Sara sendo a protagonista da cena que deu inicio ao nó na minha garganta que perdurou até o último minuto do episódio final, ainda assim, eu não consigo realmente gostar de ambos.
No começo de tudo, Sara chamava minha atenção e me gerava curiosidade, porém, com o decorrer da narrativa e com as escolhas questionáveis realizadas por ela, a vontade de seguir acompanhando o seu plot começou a diminuir.
Sendo assim, não tem como não elogiar o trabalho exercido por Malte Gårdinger e Frida Argento que dão vida a esses dois personagens. Ambos conseguem convencer que essas pessoas são reais e conseguem gerar na audiência esse sentimento de antipatia contínua. Um ótimo trabalho, sem dúvidas.
Agora partindo rapidamente para as questões técnicas, a fotografia está belíssima com destaque para as cenas ao por do sol. Que construção bonita, que momento emocionante e que sequência tocante intercalando diálogos e contemplação.
Ao passo que é muito contido, sensível e particular para Simon e Wilhelm, a grandiosidade que a natureza impera é de cair o queixo e torna tudo ainda mais sublime.
A trilha sonora continua impecável como as anteriores com destaque para “Arcade” de Duncan Laurence que, para mim, era a cereja do bolo para coroar o quinto episódio dessa temporada como o melhor de todos esses anos. É um grande episódio, não tem jeito.
O roteiro de Lisa Ambjörn amarra as pontas soltas deixadas nas temporadas anteriores e, apesar de um ou outro desenvolvimento receber uma resolução rápida e simples demais, consegue entregar um final digno e emocionante para a história de cada um desses jovens. Mas é claro que isso não significa que precisamos concordar com todos esses finais, não é, August?
E, agora, ficamos órfãos de mais uma série com temática LGBTQIAPN+. Caso você deseje prolongar um pouco mais o seu tempo com a turma de Hillerska, sugiro que assista ao documentário “Young Royals Forever” (2024) também disponível no catalogo da Netflix.
Com cerca de 55 minutos de duração, nele será possível acompanhar os bastidores das gravações dessa última temporada e ver depoimentos do elenco e da equipe por trás da produção.
E caso você tenha vontade de continuar acompanhando nossos garotos, Edvin Ryding estará no vindouro “En del av dig” (Uma parte de você, em tradução livre) que tem previsão de lançamento para 31 de maio de 2024. No longa sueco, Agnes é uma adolescente com inveja da popularidade de sua irmã mais velha, porém, quando uma tragédia acontece, ela é forçada a recalcular seus planos.
Enquanto que Omar Rudberg segue construindo sua carreira musical e, sinceramente, é uma música melhor que a outra. Neste momento, ele está com o pre-save de seu próximo lançamento, “Red Light”, mas caso queira ouvir o que ele já produziu, recomendo “She Fell In Love In The Summer”, “Yo Dije OUFF” e “I’m So Excited”.
Young Royals chegou ao fim mas, como Edvin menciona, a história de Simon e Wilhelm continua. Gosto de pensar que eles conseguiram encontrar uma forma de fazer dar certo, mesmo que tenha sido por um único verão antes de seus caminhos se separarem novamente.
Foi uma jornada e tanto meninos e vocês cresceram demais durante esse tempo, mas agora é o momento de vocês trilharem o seu próprio caminho, sem os olhares do mundo. Mas sempre estaremos aqui caso, algum dia, desejem compartilhar esses novos momentos conosco.
“Porque nós éramos uma revolução, nem que seja um para o outro. Não deveria ser uma revolução, amar alguém em seu coração. Mas você foi minha revolução, antes que tudo desmoronasse.”
Texto Elaborado por Jamerson Nascimento.
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