
‘É preciso morrer para não morrer’? ‘Vitória’ entrega força, medo e indignação
O que você faria se morasse próximo a um lugar dominado pelo tráfico e testemunhasse uma série de crimes através de sua janela? Em ‘Vitória’, filme protagonizado por Fernanda Montenegro, Nina procura ajuda policial, mas se vê obrigada a juntar provas sozinha para acabar de uma vez com uma rede de tráfico no Rio de Janeiro.
O longa estreia nesta quinta-feira, 13/03, nos cinemas nacionais, trazendo ao público uma história de coragem, determinação, afronta e, principalmente, real. Baseado na vida de Joana da Paz, que teve sua identidade revelada apenas em 2023 após sua morte, o filme narra a história de uma senhora que comprou uma câmera e da janela de seu apartamento filmou toda a ação de criminosos do morro.
Com tudo registrado, a personagem busca as autoridades, mas só com a ajuda do jornalista Fabio (Alan Rocha), ela conseguirá chegar até um departamento policial que a ajudará de verdade. No entanto, acaba dividida ao precisar ‘morrer para não morrer’, entrando no serviço de proteção a testemunha, mudando de nome e de cidade.

O poder e a coragem dessa mulher transparece na tela do cinema, com Fernanda transmitindo em seu olhar toda a indignação e revolta com a forma que foi ignorada pela polícia, que estava envolvida no esquema. Além da forma ousada e destemida de questionar as autoridades, buscando uma forma de resolver a situação de uma vez por todas.
Uma história que surpreende
Apesar de ser uma história que já é de conhecimento público, a produção surpreende e prende quem está assistindo. Isso porque o elenco entrega além do que já era esperado. Com Montenegro como protagonista, não dá para deixar de comentar a atuação de Linn da Quebrada (a vizinha Bibiana), Alan Rocha (o jornalista Fabio) e o ator mirim Thawan Lucas (Marcinho).
Dentre os três, Alan é o que mais tem tempo de tela, já que ele foi o responsável por fazer ‘a ponte’ entre dona Nina e a Polícia. Linn aparece poucas vezes, mas surpreende com a forma acolhedora e carinhosa com a protagonista. Aliás, é essa amizade que traz um tom de descontração e leveza para ‘Vitória’.
Mas o destaque fica com Thawan que, apesar da pouca idade, entregou uma atuação de tirar o fôlego. No decorrer das cenas, é nítido a evolução do personagem, que vai perdendo a inocência aos poucos ao se envolver com o mundo do crime. Assim como Montenegro, que mostra a força do personagem no olhar, o jovem mostra essa evolução com os olhos.
Toda essa construção é resultado do roteiro de Paula Fiuza, feito com a colaboração de Breno Silveira, e que seguiu na missão após o falecimento do colega logo no começo da produção. Além da direção impecável de Andrucha Waddington que, juntos, conseguiram unir o drama, medo e uma pitada de humor no enredo.
Por fim, outro ponto que não deve ser ignorado é a diferença raciais dos artistas e seus personagens. Joana da Paz era uma preta e Fernanda é branca. Já no caso jornalista, o ator Alan é preto e Fabio Gusman, que ajudou a senhora na vida real, é branco. A mudança foi feita para proteger a identidade dos personagens, já que o filme ‘Vitória’ foi gravado antes da morte de Joana, ou seja, antes de sua identidade se tornar pública.
Comentários