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Por: Ana Paula Castro 15/03/2025
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‘Better Man – A História de Robbie Williams’ se cobre de recursos visuais para dar mais vida a uma narrativa comum

Filme dirigido por Michael Gracey já está disponível nos cinemas

Quando uma cinebiografia de um artista musical é lançada, o público já sabe de cor o que esperar. Algum trauma mal trabalhado, o deslumbramento e as consequências negativas da fama, vício em drogas e álcool, conflitos com empresários e gravadoras, jornadas de autodescoberta, problemas na vida amorosa e uma suposta redenção no final para dar um encaminhamento decente à linha narrativa. Better Man, filme que conta a história de Robbie Williams, não foge do script, mas utiliza de recursos visuais muito bem explorados que o fazem “pisar fora da caixinha” de uma cinebiografia clássica.

O popstar britânico, que esteve diretamente envolvido na produção e até narra certos momentos da história, encaixa-se perfeitamente no arquétipo de um super-astro da música. No filme, ele é influenciado pelo pai (Steve Pemberton), um grande fã de Frank Sinatra, a buscar a fama e o sucesso. A relação entre pai e filho torna-se conturbada após o mais velho abandonar a família, o que acaba tendo consequências traumáticas para Williams depois que ele finalmente alcança o status de popstar, ao ser selecionado para a boyband Take That.

Mas é principalmente em seu voo solo que vemos os maiores conflitos do cantor. Enquanto lida com o bônus e com o ônus da fama, ele se vê preso no vício em drogas e é vítima das próprias ambições e expectativas, que de tanto incutidas, acabaram gerando um ódio contra si mesmo — disfarçado por um narcisismo que torna o protagonista ao mesmo tempo carismático e insuportável — e afetando seus relacionamentos e sua carreira.

Até então, apenas mais uma cinebiografia. Porém, logo de cara somos apresentados a uma escolha visual que chama a atenção: Robbie Williams é representado por um chimpanzé antropomórfico ao longo de todo o longa. O que poderia parecer só uma tentativa de atrair o público para assistir “algo diferente” em uma história batida acaba se tornando uma alegoria que contribui para trazer mais complexidade à trama do protagonista, permitindo que o diretor Michael Gracey (O Rei do Show) diminua as fronteiras entre fantasia e realidade para contar a mesma história de forma bem mais criativa.

Better Man - A História de Robbie Williams (Divulgação)
Better Man – A História de Robbie Williams (Divulgação)

E funciona! O estranhamento inicial de ver um chimpanzé como um ser humano se dilui rapidamente devido à naturalidade dos efeitos visuais e à própria construção narrativa. O CGI é impecável, lembrando até mesmo os filmes mais recentes da franquia Planeta dos Macacos, uma vez que a mesma WETA foi utilizada em Better Man. Jonno Davies, que dá vida ao protagonista via captura de movimento, faz um trabalho marcante, que vai muito além da mera imitação do músico, e chega a ser uma pena que seu rosto não será lembrado por este filme. O mérito também vai para Gracey, que possui um grande background em efeitos visuais e, pelo visto, uma grande paixão pelo espetáculo.

Todo o aspecto visual e técnico merece destaque, pois é justamente isso que faz o filme funcionar. A narrativa não tem medo de assumir seu narcisismo, o que combina bastante com Robbie Williams, e o faz por meio de cenas grandiosas, especialmente com os números musicais. Gracey utiliza o recurso narrativo do gênero com as canções do biografado para a evoluir a história de forma dinâmica, dispensando diálogos forçados tão comuns em cinebiografias e ajudando o espectador a se conectar com aquele momento da trama.

A qualidade visual, principalmente dessas cenas, torna praticamente impossível que o público caia no tédio. Um exemplo disso é a cena que representa a ascensão do Take That no mercado fonográfico, um plano sequência cheio de figurantes, figurinos, coreografias e jogos de câmera que resume anos de história em poucos minutos e coloca certos musicais modernos no chinelo.

Além do macaco, em diversos momentos o filme se utiliza de recursos narrativos fantásticos para metaforizar momentos-chave da vida do protagonista. Better Man mergulha de cabeça na poesia visual e procura dissolver qualquer linha que tente enquadrar a obra em uma caixa. A estratégia para se afastar dos clichês funciona ao ponto de um chimpanzé popstar nem ser o que a produção apresenta de mais diferente.

Better Man - A História de Robbie Williams (Divulgação)
Better Man – A História de Robbie Williams (Divulgação)

Contudo, tratando-se de uma cinebiografia musical, é impossível que Better Man consiga escapar de todos os clichês. Analisando friamente, a narrativa não apresenta nada de muito diferente de outros longas do gênero, e se não fosse pelo uso do CGI e dos momentos de explosão criativa, para contrabalancear e dar uma cara diferente para a obra, seria mais um filme perdido no meio de tantos outros.

Ainda assim, Better Man é uma experiência sensorial que vale a pena mesmo para quem não é fã do cantor britânico. As escolhas de Michael Gracey podem não agradar a todos, especialmente os que apreciam biografias mais tradicionais, porém é impossível não perceber a maneira criativa com que a história é contada, sem romantizar nem tratar o artista como um mocinho injustiçado. É um bom filme para quem busca sair da zona de conforto sem abrir mão do entretenimento.

Better Man – A História de Robbie Williams já está disponível nos cinemas brasileiros.

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