
‘Capitão América: Admirável Mundo Novo’ se beneficia das baixas expectativas para novos filmes do MCU
Quarto filme da franquia é o primeiro com Sam Wilson assumindo o escudo, mas acaba se conectando muito mais com o Hulk do que com o Capitão
O momento fraco da Marvel nos cinemas não é novidade para ninguém e já virou até piada em Deadpool e Wolverine (2024). Tantos filmes sem apelo, com baixa avaliação da crítica e do público, abalam todo o MCU e tiram a antiga empolgação do espectador para novos lançamentos. Curiosamente, Capitão América: Admirável Mundo Novo, o quarto filme da franquia, consegue se beneficiar dessa situação e se sair ligeiramente bem considerando que o público já esperava pelo pior.
O longa representa um retorno às origens, trazendo novamente uma fórmula bastante parecida com os primeiros filmes do MCU, da época em que o sucesso ainda não era garantido e que a Marvel Studios ainda tentava se estabelecer. Prova disso é que o novo Capitão América se relaciona muito mais com O Incrível Hulk (2008), do que com seus antecessores, tanto na trama quanto na narrativa.
Este é o primeiro longa em que Sam Wilson (Anthony Mackie) assume de vez o uniforme que pertenceu a Steve Rogers (Chris Evans), mas com um upgrade no traje que se adequa a um super-heroi que consegue voar. Trabalhando para o presidente estadunidense recém-eleito Thunderbolt Ross (Harrison Ford), ele começa a história em uma missão para recuperar adamantium e acaba se envolvendo em uma trama política que pode culminar em uma guerra. Tudo isso enquanto luta para provar ao mundo e a si mesmo que é merecedor do legado do Capitão América.

O filme começa promissor e se mantém assim até certo ponto, assumindo um tom investigativo que lembra muito o de Capitão América 2: O Soldado Invernal, embora nem de longe seja tão bem feito quanto este. Contudo, os mistérios que motivam a trama são resolvidos na primeira metade do longa, sobrando para a segunda metade apenas algumas consequências das descobertas para justificar longas batalhas e cenas de ação que são boas — embora alguns movimentos de câmera sejam um pouco cansativos e o CGI não seja dos melhores —, mas que acabam prejudicando o ritmo da narrativa.
Essa falta de coesão pode ser fruto tanto de um momento um tanto desorientado da nova fase da Marvel quanto das diversas mudanças de roteiro e refilmagens que a produção sofreu.
Outra questão que pode incomodar é o excesso de exposição. A escolha de associar o filme com um longa de 2008, que nem de longe teve o mesmo impacto que a primeira trilogia do Capitão América, acaba trazendo a necessidade das constantes explicações para situar o público no enredo, mas é inegável que o roteiro se torna engessado com esse recurso. Assim, embora se construa no passado e traga elementos para o futuro do MCU (leia-se, adamantium), Capitão América: Admirável Mundo Novo se perde em si mesmo em diversos momentos.

Mas o que ele tem de melhor são as atuações. Anthony Mackie prova que consegue segurar o legado do Capitão América dentro e fora das telas, e a produção vem para estabelecê-lo de vez como o novo heroi, em uma versão mais humanizada e realista, que se relaciona muito mais com um “ideal” do que com força física. Boa parte do carisma de Sam Wilson também se deve à sua dinâmica divertida com o novo Falcão, Joaquin Torres, muito bem interpretado por Danny Ramirez.
Contudo, quem definitivamente rouba a cena é Harrison Ford como Thunderbolt Ross. O ator tinha a difícil tarefa de reviver o personagem do saudoso William Hurt (1950-2022) e fez bem em não tentar substitui-lo ou imitá-lo. Em vez disso, Ford traz sua própria versão do general, entregando boa parte da carga dramática do filme, guiado pela relação com a filha, Betty Ross (Liv Tyler).
A transição para o Hulk Vermelho é bem construída e condizente com o drama particular do personagem, e teria elevado muito o nível do longa se não tivesse sido quase completamente revelada nos trailers. Ainda assim, após uma batalha cheia de tensão com o protagonista, o desfecho da luta e do personagem decepciona.

Outro que merece destaque é Isaiah Bradley. Carl Lumbly retorna para o papel que foi apresentado na série Falcão e o Soldado Invernal (2021) e, novamente, é um dos mais interessantes de se ver. Mesmo com pouco tempo de tela, ele acrescenta profundidade a uma história que se mantém na superficialidade na maior parte do tempo (provavelmente porque talvez não seja uma boa hora para a Marvel se arriscar muito). Além dele, o retorno de Tim Blake Nelson como Samuel Sterns e a participação de Giancarlo Esposito como Coral, líder da Irmandade da Serpente, também merecem destaque.
Em resumo, a sensação que fica após assistir Capitão América: Admirável Mundo Novo é a de que poderia ter sido pior, o que definitivamente não é um mérito. Devido às baixas expectativas por conta de tantas mudanças e regravações, o longa se sobressai por apresentar uma história até consistente em meio à sequência de filmes sem carisma lançados pelo MCU nos últimos anos. Contudo, ele ainda fica mais perto do medíocre do que do memorável e não está muito longe dos filmes considerados “classe C” da Marvel.
Capitão América: Admirável Mundo Novo estreia nos cinemas brasileiros nesta quinta-feira, 13 de fevereiro. Confira o trailer:
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