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Por: Rafael Bittencourt 15/03/2022
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Djavan lança show inédito no festival de Montreux

Depois de 25 anos, gravação ao vivo do Djavan chega às plataformas digitais no dia 11 de março, reunindo hits do compositor e canções de seu então recém-lançado disco ‘Malásia’

Djavan é um artista do estúdio. Mas também do palco. Ali é seu chão, seu domínio. É onde ele visivelmente sente prazer em estar, mira o público com olhos de encantamento e se mune de um repertório que já faz parte do imaginário coletivo brasileiro. E o que significa para um artista da relevância de Djavan para a MPB pisar no palco do prestigiado Montreux Jazz Festival, na Suíça? O ápice. E também a consolidação da carreira internacional. Em 1997, o músico alagoano foi uma das atrações da seleta programação do festival, realizado no Auditorium Stravinski.

A apresentação chegou a ser gravada na época, mas permanecia inédita até hoje. Agora, 25 anos depois – a serem completados no próximo dia 5 de julho –, a Sony Music lança o show inédito ‘Djavan Ao Vivo no Montreux Jazz Festival’, que chega às plataformas de streaming na sexta-feira, dia 11 de março. Também a partir desse dia, três vídeos serão disponibilizados no YouTube toda semana, sempre às segundas, quartas e sextas.

Trata-se de um material raro, já que poucos shows registrados no festival estão disponíveis ao público. No caso do concerto de Djavan, a Sony Music conseguiu a liberação do conteúdo através de um acordo com o festival, com o objetivo de disponibilizar os conteúdos de artistas do catálogo da gravadora que fizeram parte do evento. Esse será o primeiro de uma série de discos com gravações de shows igualmente históricos realizados no evento.

Para Djavan, o lançamento foi uma surpresa. “Só depois que eu vi o material é que me recordei deste show feito há tantos anos em Montreux e fiquei feliz de as pessoas tomarem conhecimento dele agora”, ele comemora. “Na época, nós fizemos esse show sob uma expectativa grande, tanto nossa quanto do público que estava ali. Não sei se já tínhamos feito Montreux ou se era a primeira vez, não me lembro. Mas sei que foi um show que a gente gostou muito de fazer, e acho que vai ser bom revê-lo agora.”

O Montreux Jazz Festival foi criado em 1967 por Claude Nobs. Ao longo desses mais de 50 anos de história, ícones da música mundial se apresentaram, incluindo Nina Simone, Miles Davis, Aretha Franklin, Ella Fitzgerald, Marvin Gaye, Prince, David Bowie, Elton John, Stevie Wonder e Lady Gaga. Entre os brasileiros, além de Djavan, já passaram por lá nomes como Gilberto Gil, Elis Regina, João Gilberto, entre outros.

O festival de Montreux sempre se caracterizou pela democracia musical. É um festival que sempre acolheu todo tipo de música, todos os gêneros, músicas de todos os países. Isso é bom para todos. Sempre adorei essa forma de mostrar com generosidade as músicas do mundo para todos”, define Djavan.  

‘Ao Vivo no Montreux Jazz Festival’ traz o show de Djavan na íntegra, com 15 faixas e alta qualidade de som e imagem. A gravação original já apresentava excelentes condições técnicas, mas, para seu lançamento, passou por tratamento especial. A remasterização leva a assinatura do engenheiro de som Steve Fallone, vencedor do Grammy, e foi realizada no Sterling Sound, em New Jersey, um dos principais estúdios de masterização do mundo. Fallone já masterizou artistas como Bob Dylan, Taylor Swift, Tony Bennett & Lady Gaga, Beatles, entre outros. 

Djavan acompanhou tudo através de trocas de arquivos com o Sterling Sound, sob a supervisão de seu engenheiro de gravação, Marcelo Saboia.

Atemporalidade de ‘Seca’

Em 1997, quando brilhou no palco do Montreux Jazz Festival, Djavan estava em turnê com seu disco ‘Malásia’, lançado um ano antes. ‘Malásia’ ocupa um lugar especial na discografia do cantor e compositor. É um álbum expansivo, extrovertido, diversificado.

Foi também nesse trabalho que Djavan quebrou o próprio protocolo, de só gravar canções autorais, e se mostrou apenas como intérprete ao incluir três músicas de outros autores no repertório do álbum: o samba ‘Coração Leviano’, de Paulinho da Viola; ‘Correnteza’, de Tom Jobim e Luiz Bonfá, que recebeu arranjo para orquestra de cordas escrita pelo próprio músico; e ‘Sorri’, tema de Charles Chaplin na versão de Braguinha. Aliás, esse exercício como intérprete, Djavan aprofundou ainda mais anos depois, em 2010, ao lançar ‘Ária’, seu primeiro disco só com composições de outros autores.

No disco ‘Malásia’, Djavan expandiu um pouco mais a banda, como ele explicou certa vez, trazendo os metais para enriquecer a atmosfera musical. E é essa sonoridade marcante de trompetes e sax que ele imprime em seu show no Montreux Jazz Festival. Enquanto isso, para o set list da apresentação, Djavan preferiu investir no próprio cancioneiro: combinou canções que ele compôs para ‘Malásia’ e outros grandes hits.

Djavan (vocal, violão e guitarra) abre o show já em alta voltagem com o blues ‘Que Foi My Love?’, que integra o disco ‘Malásia’. Do mesmo álbum, o músico incluiu outras três canções no repertório da apresentação: a salsa ‘Irmã de Neon’; e a faixa-título ‘Malásia’, que, no show, é descrita pelo compositor como “estranhamente interessante”; e a contundente ‘Seca’, que se torna agora faixa-foco do ‘Ao Vivo no Montreux Jazz Festival’.

Após duas décadas, Djavan lamenta a atemporalidade da canção ‘Seca’, que retrata o sofrimento do povo nordestino. “Todo nordestino conhece muito bem esse evento tão destruidor de vidas, de sonhos. A seca impõe uma tragédia ao Nordeste e é uma coisa, a meu ver, de muita gente que conhece de perto o problema, sabe que isso já deveria ter sido resolvido há muitos anos. É uma questão de governos terem vontade política para resolver. Não tem mais cabimento hoje a seca impor um sofrimento tão grande aos nordestinos, mesmo com o tempo completamente louco de hoje, onde os eventos naturais ocorrem cada vez mais com força e poder de destruição”, afirma o compositor.

Melhores memórias afetivas

De volta ao show em Montreux, depois de apresentar ‘Que Foi My Love?’, Djavan fala para uma plateia lotada, parte dela formada por brasileiros, fazendo uma conexão entre o começo de sua carreira e o momento importante que vivia ali na Suíça. “Esse show é mais um show que pretendemos que seja muito feliz, numa turnê que decorre de uma carreira iniciada em 1975, na cidade de São Paulo, no festival chamado Abertura, com essa música”, disse músico, para logo em seguida cantar o sucesso ‘Fato Consumado’.  

Numa apresentação ora intimista, ora dançante, Djavan emenda outros hits de seus discos anteriores, que já faziam – e ainda fazem – parte da trilha sonora da vida de seus fãs: ‘Meu Bem Querer’, seguida em coro pelo público; ‘Cigano’; ‘Aquele Um’; ‘Oceano’; ‘Mal de Mim’; ‘Samurai’; ‘Sina’; ‘Flor de Lis’. Ele ensaia uma despedida em ‘Boa Noite’, volta para o bis com ‘Lilás’ e faz um final naturalmente catártico.

Acompanhado por uma banda virtuosa, alto-astral e muito bem azeitada – sobretudo por já estarem todos havia algum tempo na estrada com a turnê ‘Malásia’ –, Djavan ativa todas as melhores memórias afetivas num show grandioso, ainda atual. E mostra, num palco sagrado como o do Montreux Jazz Festival, a consagração de um artista brasileiro perante os olhos estrangeiros. E de seu próprio público. “O palco é o âmago da alegria de ser músico, de ser compositor, cantor. Eu gosto muito de fazer show. Vou fazer shows a vida inteira, porque, além de ser o meu destino, é o meu grande prazer”.


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