Hamilton: A história americana com uma repaginada contemporânea
O grande musical que mistura história, representatividade e hip-hop
Seu nome é Alexander Hamilton e há milhões de coisas que tem para fazer. Sob uma batida de hip-hop e R&B, um dos pais fundadores do que viria se tornar os Estados Unidos da América, que conhecemos hoje, conta sua ascensão à vida política como primeiro Secretário do Tesouro dos Estados Unidos. O musical é uma rica aula de história que acompanha desde a chegada de Hamilton a Nova York, no início da Guerra Revolucionária Americana, até o duelo com Aaron Burr em 1804, que culminou em sua morte (está nos livros de história, não é spoiler).
Antes de tudo, aproveito para indicar outra resenha feita pela Thaís Moreira, aqui no Nerd, sobre Hamilton, mas focando na representatividade feminina presente na obra: ‘Hamilton’ e o protagonismo feminino na história.
Alexander é um órfão imigrante que teve uma infância muito difícil antes de imigrar do caribe para os Estados Unidos, onde ingressou nos estudos com o intuito de se juntar à revolução. Para isso, ele vai em busca de aconselhamento com Aaron Burr, mas acaba saindo um pouco decepcionado com a imparcialidade do homem que prefere se calar, sem opinar sobre nada, em troca de sua própria segurança. Ao mesmo tempo, ele faz vários aliados que marcarão presença no musical, como o Marquis de Lafayette, John Laurens e Hercules Mulligan.
Um dos pontos chave do musical, tirando as próprias músicas, é a escolha proposital de um elenco diverso, composto de afrodescendentes, latinos, asiáticos, representando os pais fundadores e todos que deixaram sua marca na história. Foi uma jogada muito ousada de Lin-Manuel Miranda, fugindo dos padrões, já que todos que possuíam algum grau de autoridade naquela época eram homens brancos, vide que a escravidão ainda não havia sido abolida no país (*Lembrando que o país era dividido entre: norte industrializado, onde se passa a história; sul exploratório e escravocrata). Em uma entrevista sobre essa escolha, Lin-Manuel disse:
“Não vamos fingir que isso é um livro de história, vamos fazer os fundadores do nosso país se parecerem com o que o nosso país parece agora. Somos de todas as cores e tons... ”
Além do elenco o cenário também é intrigante. Sem muito luxo, objetos, decoração e sem troca de cenário (apenas de objetos em cena) o musical segue firme até o final. O foco fica inteiramente na atuação dos atores, movimentos corporais e danças que ocorrem.
O detalhe mais utilizado é a existência de um palco giratório, que ocupa um grande espaço no centro do espaço e auxilia nas transições de cenas e de tempo, por exemplo.
O Musical ainda aborda temas como os conflitos entre Inglaterra e os Estados Unidos, guerra, revolução francesa, a traição de Hamilton e o perdão que recebeu de sua esposa, após a morte de seu filho mais velho, Philip Hamilton.
Hamilton: O Musical está disponível na plataforma do Disney+, legendado. Inclusive, o “filme” se trata da gravação de uma das apresentações feitas com o elenco original, incluindo o próprio Lin-Manuel Miranda no papel de Alexander Hamilton (o direito de distribuição foi comprado pela Disney por uma “pequena quantia” de 75 milhões de dólares).
O filme foi muito bem recebido pelo público e pela crítica, ainda mais tendo sido lançado na plataforma em meio a pandemia da COVID-19, o que obrigou teatros mundo afora a fechar as portas por tempo indeterminado. No mais, a disponibilidade do filme também facilita o acesso desse tipo de conteúdo, com legendas, para o público internacional que não tem condições de assistir à peça ao vivo, em teatros americanos.
O musical em si, estreou fora da Broadway, em fevereiro de 2015, foi transferido para a própria Broadway em agosto do mesmo ano, sendo inspirado na biografia “Alexander Hamilton”, escrita por Ron Chernow. O próprio escritor participou da criação do musical como consultor, já que Lin-Manuel Miranda dava muita atenção a exatidão histórica da obra, tendo lido várias cartas e trabalhos publicados por Hamilton. Não é à toa que ele passou seis anos escrevendo a peça.
E, antes mesmo de ser uma peça, a ideia inicial era escrever um álbum de músicas conceitual, ainda que Lin-Manuel tivesse o desejo de performar suas músicas. A primeira vez em que teve essa oportunidade foi em 2009, em um “recital de poesia” na Casa Branca, onde ele então cantou a música de abertura “Alexander Hamilton”.
Só para citar alguns grandes nomes do elenco original da peça: Leslie Odom Jr. (Aaron Burr), Phillipa Soo (Elisa Hamilton), Renée Elise Goldsberry (Angelica Schuyler), Christopher Jackson (George Washington), Daveed Diggs (Marquis de Lafayette/Thomas Jefferson), Anthony Ramos (John Laurens/Philip Hamilton), Okieriete Onaodowan (Hercules Mulligan/James Madison), Jasmine Cephas Jones (Peggy Schuyler/Maria Reynolds), e Jonathan Groff (George III, rei da Inglaterra).
Uma curiosidade: Lin, antes mesmo de Hamilton, produziu outro musical de sucesso, ‘In the Heigths’, que já até contou com a passagem de alguns atores de Hamilton por lá. In the Heights ganhou, recentemente, uma versão para o cinema, pela Warner, estrelado por Anthony Ramos.
E se pensou que eu iria acabar aqui, sem citar as músicas, pensou errado. Todas são sensacionais, então é difícil escolher as melhores, mas, segundo minha opinião: “Satisfied”, cantada por Renée Elise Goldsberry; “The Room Where It Happens”, cantada por praticamente todo o elenco; “Burn”, uma das mais sentimentais da peça, na voz de Phillipa Soo; “Who Lives, Who Dies, Who Tells Your Story”, pelo elenco inteiro.
A discografia completa de Hamilton está disponível no Spotify, além da ‘The Hamilton Mixtape’, com canções variadas, interpretadas por vários artistas, bem como algumas canções excluídas ou alteradas do musical (essa versão de “Burn”, meus amigos…).
Por: Letícia Vargas
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