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Por: Redação Nerd Recomenda 19/03/2021
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Lembrando de Buffy e esquecendo Joss Whedon

Seguindo a recente enxurrada de declarações a cerca de Whedon, é possível continuar olhando para suas principais obras da mesma maneira?

Na semana passada, em entrevista ao Insider, a produtora Deborah Snyder afirmou ter relatado à Warner um acontecido envolvendo o diretor, Joss Whedon. “Houve um incidente do qual eu estava ciente e que tive de reportar para o estúdio pouco antes do filme (Liga da Justiça) estrear”, ela afirma. Apesar de não se aprofundar no assunto, sua menção foi feita como resposta às recentes denúncias acerca do comportamento de Whedon no set de filmagem. Denúncias estas, que tem transformado a imagem do diretor e provocado questionamentos acerca de sua obra.

As alegações começaram em julho de 2020, quando o ator Ray Fisher, o Cyborg de Liga da Justiça, afirmou em seu twitter que o comportamento de Whedon no set de filmagem era “nojento, não profissional e completamente inaceitável”. Seguindo esta declaração, outros membros do elenco, como Jason Momoa e Gal Gadot, também se manifestaram junto a uma série de ex-colegas de trabalho de Whedon. Os relatos, cada vez mais contundentes, reafirmam e reforçam uma discussão previamente iniciada pela carta de sua ex-esposa, Kai Cole: Joss Whedon é mesmo a figura progressista que ele construiu ao seu redor?

Em sua carta, publicada pelo The Wrap em novembro de 2017, Cole afirmou que o diretor era um “hipócrita pregando o feminismo”. Nela, ela conta sobre como ele agrediu sua vida escondendo múltiplos affairs ao longo dos seus quinze anos de casados, tendo o primeiro desses casos, surgido no set de “Buffy, a Caça-Vampiros”. A discussão iniciada por esse relato foi agora reforçada pelas declarações de atrizes como Charisma Carpenter, Sarah Michelle Gellar e especialmente Michelle Trachtenberg, quem, na época da série, tinha apenas 15 anos e declarou que “havia uma regra que dizia que Joss não tinha permissão para ficar num quarto sozinho com Michelle outra vez”.

Pelo seu trabalho em Buffy, Whedon foi honrado múltiplas vezes por organizações como a Equality Now, que promove e protege direitos humanos para mulheres ao redor do mundo. A série foi um verdadeiro marco na história da TV, apresentando personagens femininas multifacetadas, empoderadas e resilientes. Mas, à luz das novas evidências, ainda podemos considerá-la uma obra de conceitos e mensagens honestas? Se Whedon tem tão pouco respeito pelas mulheres ao seu redor, então era tudo uma mentira? Uma isca para levá-lo ao topo, no lugar de sucesso que ele tanto desejava? Uma resposta curta seria: não. Buffy não foi uma mentira.

Muitas vezes, ao descobrirmos a verdadeira natureza de alguns de nossos criadores favoritos, tentamos encontrar saídas para continuar amando a obra sem mencionar o autor. Quando falamos de livros o assunto tem poucas esperanças, mas ao tratarmos de conteúdo audiovisual é importante lembrar que existem várias outras pessoas envolvidas na produção, além do que apenas o criador.

“Buffy, a Caça-Vampiros” tinha um competente time de escritores que se dedicou ao máximo a dar vida aos seus personagens. Destacam-se entre eles as escritoras Jane Espenson, que co-escreveu o penúltimo episódio da série, e Marti Noxon, quem foi responsável por alguns dos mais icônicos episódios, em termos de desenvolvimento de personagem, como episódio “Villains” da sexta temporada, que dá início ao arco final com a morte de uma das personagens principais e transformação de outra em antagonista. Ambas as autoras estão muito presentes ao longo das sete temporadas.

A trama principal da série gira em torno de Buffy Summers, interpretada por Sarah Michelle Gellar, uma garota comum, escolhida por um poder maior para defender a humanidade das criaturas das trevas. Tendo que lidar com essa responsabilidade, pareada aos desejos comuns a uma adolescente, a série é basicamente uma metáfora sobre amadurecimento, onde os vampiros e demônios que Buffy enfrenta são representações dos obstáculos que todos enfrentamos ao amadurecer.

O elenco, da esquerda para a direita: Nichollas Brandon, Anthony Head, Sarah Michelle Gellar, Charisma Carpenter e Alyson Hannigan

Ela apresentou conceitos complexos de serem tratados, como relacionamentos abusivos, tema abordado na segunda temporada, onde o vilão principal é o ex-namorado da protagonista. Ou mesmo vício e uso de drogas, discutidos na sexta temporada quando a personagem Willow Rosenberg (Alyson Hannigan) desenvolve uma dependência à magia, surgida a partir de seus traços mais humanos. Luto, crescimento, responsabilidade… Todos esses conceitos foram explorados ao longo das sete temporadas, todos apresentados a partir dos conflitos internos das suas personagens principais.

“Buffy A Caça-Vampiros” foi indicada diversas vezes a diferentes prêmios, incluindo o TCA Award (Associação de Críticos de TV) para Série ou Programa de Importância Histórica. Foi listada entre os 50 melhores programas de TV da revista TV Guide, entre os 50 melhores da Empire e os 100 melhores da All-Time Magazine. A série é considerada um “cult”, qualquer um que assista pode atestar sua qualidade e o mérito não é apenas do criador.

Os atores a quem Whedon agrediu as vidas, em especial as mulheres que hoje revelam sua hipocrisia quanto às ideias feministas, foram as responsáveis por dar vida às personagens fortes e complexas que eram Buffy, Willow, Cordelia, Dawn, Anya e muitas outras. E os escritores que trabalharam ao lado de Whedon garantiram a autoria compartilhada que alivia o peso de sua influência.

Então sim, Joss Whedon não é uma boa pessoa e seu comportamento inaceitável causou danos a muitos ao seu redor. Separar o autor da obra é uma tarefa difícil e um conceito quase impossível de ser aplicado, mas no caso de “Buffy, A Caça-vampiros”, assim como outras de suas obras, não precisamos apenas tentar salvar o que é bom e esquecer o que foi péssimo, mas também podemos lembrar que Whedon não era o único escritor ou diretor, nem foi o único responsável por tudo que a série alcançou e por toda a sua significância histórica.

Texto por: Aquiles Rodrigues

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