
Perfect Blue e a mudança desafiadora
Às vezes, mesmo que queiramos a mudança, essa escolha passa pela decisão dos outros
Tentar novas coisas e redescobrir seu lugar no mundo enquanto enfrenta uma perseguição física e psicológica que a impedem de mudar, essa é a história tratada em Perfect Blue, animação japonesa lançada em 1997 que foge do modelo mais infantil estabelecido pelas produções do Studio Ghibli.
O filme mostra a vida de Rumi, uma cantora japonesa, integrante de um famoso trio musical que passa por uma mudança de carreira, largando os palcos para se dedicar como atriz. Entretanto, a personagem começa a ser perseguida por um fã obcecado e ao mesmo tempo, descobre um blog que tem por objetivo ser um diário de Rumi feito por alguém. No início, a personagem acha divertido ler as postagens a seu respeito, mas começa a ficar assustada quando alguns detalhes de seu cotidiano começam a ser muito específicos sobre sua vida pessoal e até mesmo sobre seus pensamentos.
Enquanto vai desenvolvendo sua carreira de atriz, Rumi começa a passar por alguns dilemas em sua vida e percebe as dificuldades que tem de enfrentar para conseguir consolidar seu novo trabalho, como aceitar as decisões de empresários da área e tentar remediar com suas opiniões.

Perfect Blue é uma produção que chama a atenção. O traço mais simples e o visual carregado no sentido da violência e terror psicológico nos coloca dentro da história e o mistério envolvido nos incentiva chegar até o final. Depois que Rumi muda de carreira, parece que sua antiga identidade vai desaparecendo para dar espaço a uma nova, e a confusão que acontece entre a vida real e a imaginação acabam sendo confundidas pelo uso de cores fortes na trama.
Esse suspense psicológico também levanta outras questões, como a imagem que os japoneses cultuam da identidade da mulher delicada e pura. Rumi é a representação da mulher que busca a mudança, sai do mundo rosa e encantado e que vai em busca de um vida mais realista. Seu stalker, que a acompanha direto, está colocado como aqueles fãs mais conservadores que não aceitam as mudanças de seus ícones, querendo apenas cultuar suas imagens, suprir os desejos pessoais e que não entendem que artistas e conteúdos de mídia são produtos que tem de se adequar ao novo mercado.
A produção, que serviu de inspiração para o filme “Cisne Negro” (2010), é um exemplo de que nem todas as animações foram feitas exclusivamente para crianças, apresentando um conteúdo que seria difícil para que menores de 18 anos conseguissem consumir, tratando de temas mais pesados e reflexivos. Dar espaço para uma nova identidade, ao mesmo tempo em que ela bate de frente com a antiga, é uma dificuldade que muitos passam para se adequar ao novo mundo em que vivem.
*Texto escrito por Renata da Silva
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