
Presença: Inovador… até a página 2
Presença já está em cartaz nos cinemas
“Presença”, novo longa de Steven Soderbergh, diretor de “Magic Mike”, “Onze Homens e um Segredo” e “Contágio”, chega com uma premissa interessante: um filme de terror contado inteiramente pela perspectiva da entidade que assombra uma família que acabou de se mudar para uma casa nova.
À primeira vista, parece ser uma ideia genial, ainda mais levando em conta que é utilizada uma câmera subjetiva durante toda a projeção, nos colocando na pele da entidade e até dando um toque de voyeurismo em certos momentos. E é aqui que os problemas começam.
Apesar do balé realizado pela câmera ser bem executado, a lente grande angular traz uma distorção incômoda às cenas e as escolhas de enquadramentos e ângulos não impressionam, buscando sempre se manter no seguro. Entendo o propósito dos cortes secos e bruscos na montagem, porém a passagem de tempo poderia ter sido melhor exemplificada, sem necessariamente utilizar deste artifício de interrupção.

Em comparação, Alfred Hitchcock, em 1948, conseguiu realizar essa dinâmica brilhantemente e de forma orgânica em “Festim Diabólico”, longa inteiramente filmado como um falso plano sequencia, com uma história que se passa ao longo de um dia em um apartamento.
Em certa altura, eu já até esperava que aparecesse um lettering na tela informando “Noite 1 – Dia 04 de outubro de 2005” assim como ocorre na franquia “Atividade Paranormal”. Porém, a série de filmes criados por Oren Peli é infinitamente mais empolgante do que a narrativa que encontramos no longa de Soderbergh.
O roteiro de David Koepp tenta nos colocar em um jogo para descobrir a identidade da entidade durante toda a projeção, mas peca ao entregar respostas demais em seu último minuto, sendo essa uma das maiores decepções nesta produção.

Um final em aberto poderia ter deixado essa experiência minimamente melhor, já que abriria margem para interpretação dos espectadores e, consequentemente, inflaria a discussão nas redes sociais, incentivando o público a criar teorias sobre o que acabaram de presenciar. Porém, a falta de coragem para bancar essa decisão limou essa grande oportunidade que estava nas mãos dos realizadores.
Além disso, certos plots que vão sendo apresentados durante a narrativa caminham por duas estradas: ou não tem a devida atenção e desenvolvimento necessários ou ganham encerramentos simplificados demais, em uma corrida para garantir que nenhuma ponta ficasse solta.
Os personagens possuem personalidades muito bem delimitadas e com pouca abertura para complexidades, ou seja, sabemos quem é quem desde sua primeira cena e, novamente, isso soterra substancialmente qualquer grande surpresa que poderia surgir ao longo da jornada.

Como consequência, seus interpretes não têm espaço para surpreender com as suas atuações, entregando algo linear do começo ao fim. Nem mesmo o carisma de Chris Sullivan e o talento de Lucy Liu são capazes de tornar esse título memorável.
Portanto, “Presença” tinha tudo para se tornar uma nova febre na comunidade do terror/suspense, mas, devido a uma série de fatores, preferiu ficar apenas na superfície, perdendo oportunidades claras que poderiam ter sido melhor aproveitadas.
Texto Elaborado por Jamerson Nascimento.
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