
Personagens LGBTQIA negros em séries
Junho é considerado o mês do Orgulho LGBTQIA, mas qual a valorização diária que damos a essas pessoas?
O Brasil é um país extremamente violento para a existência de quem se afasta do padrão hétero-branco, matando uma pessoa LGBTQIA a cada 25 horas. Quando se trata de pessoas negras, a situação de marginalização se intensifica. Não é por acaso que, no país que mais mata pessoas trans no mundo, 82% dessas vítimas (em 2018) eram pessoas negras.
Diversas estatísticas escancaram a violência sofrida nas diversas esferas, inclusive no entretenimento. Ainda naquele ano, segundo o GLAAD (Aliança de Gays e Lésbicas contra a Difamação), dos 110 filmes produzidos pelas maiores empresas de Hollywood, apenas 20 continham personagens que não fossem héteros. Detalhe: eu disse *continham personagens* isso não necessariamente significa protagonistas. É mais provável que não. Quanto a raça, não há dados específicos. Isso é tão problemático! Para quem se interessar pelos números, essa matéria explica outras informações.
Bom, é pensando nessa visibilidade negra que trago aqui algumas produções afro LGBTQIA
Começando por uma das minhas séries favoritas (e os leitores dos meus textos e do meu twitter já sabem), GREENLEAF, o meu afro casos de família gospel é também gay. Pois é! Entre toda confusão de dinheiro, liderança e segredos do passado, no presente, uma das filhas da família é surpreendida pela descoberta de que o marido têm “desejos ruins” aos olhos da Calvary Church. É provável que se eu disser o nome dos personagens envolvidos, isso seja um spoiler porque esse marido só começa a notar os sentimentos por outros homens no final da primeira temporada e escancara na segunda, explorando mais o tema.

Assim, dentro da história é mostrada a perspectiva do marido, da esposa, da família dela e da igreja e você sente a aflição do personagem em lutar contra algo que ele é. Isso é tão real, fazendo até mesmo a esposa perceber o quanto ele pode adoecer e se machucar tentando se afastar de si próprio indo a reuniões da igreja para pessoas com aqueles desejos ruins que comentei. Não dá certo né…
É aí que a grávida pede o divórcio e fica arrasada não pelo marido ser gay, mas por ele não ter contado a ela e por acreditar que não é amada por ninguém (isso é uma noia da personagem e pano pra outro texto). Mas a personagem é bem de boas quanto à sexualidade das pessoas, tanto é que mais pra frente, contrata um regente pra o coral que é gay e casado: a receita do surto da igreja né? Aos poucos a história vai mostrando esse (ex) marido se descobrindo e estabelecendo uma relação com outro homem preto da série.
A próxima é Cara Gente Branca (em inglês, Dear White People), que é um filme e uma série – eu prefiro a série, bjs.

Neste formato de produção, cada episódio é focado em um personagem do elenco pra contar a história a partir da sua perspectiva (e isso é muito perfeito!!!) e Lionel Higgins (na série, DeRon Horton, e no filme é vivido por Tyler James Williams) faz parte desta proposta.
Também é colega de quarto do filho do diretor, todo gostosão e que não tem problema em andar sem camisa ou de toalha na frente do colega -que fica nervosaço…
É por causa desse desconforto que ele inicia um questionamento sobre a sua sexualidade e acaba indo a uma festa pra ”ver como é” e sai de lá chocado com a experiência. É divertido acompanhar a busca de Lionel e também é algo reflexivo, já que ele passa uns perrengues dentro da comunidade gay por ser negro.
Cara Gente Branca deixa bem marcada a importância do aceitar a si mesmo e do quanto isso faz bem pra o personagem, inclusive na sua atividade profissional.

“Sou pró-sexo, poliamorosa e pansexual” diz Nola Darling (DeWanda Wise) logo no início de Ela Quer Tudo (ou She’s Gotta Have It). A série é inspirada e homônima de um filme do Spike Lee de 1986 (pasmem!) e tem como protagonista a artista plástica, moradora do Brooklin, que tem vários amores (e vários estresses tb).
A produção tenta mostrar uma mulher super independente com vários parceiros e livre de rótulos, mas acaba mostrando alguém problemática em suas relações por não resolver questões consigo mesma.
Aqui um ponto detestável dessa trama: As pessoas tratam Nola como uma excelente artista, mas que acaba dependendo de um seus amores pra comprar um quadro e ter dinheiro (e ele paga muito mais do que ela teria cobrado)… Pode até ser a realidade da classe artística -sobretudo a feminina negra-, mas é irritante ver como a protagonista sempre está com uma versão velhinha do Sr. Barriga lhe cobrando aluguel toda vez que entra/sai de casa.

Outra personagem que >eu< considero pansexual é Anissa Pierce, a Tormenta de Raio Negro (Black Lightning). Digo que a considero pan porque a série a retrata como alguém bissexual, mas em um determinado episódio, quase lá no final, ao se declarar pra alguém, que até então, era apenas um caso seu, Anissa diz algo como “eu te amo pelo que você é independente de como aparente”,ao tranquilizar Grace, que é uma transmorfo- alguém que tem o poder de se transformar a sua forma (aparentemente, inclusive pode se transformar em animais).
Ainda cito Curtis Holt (Echo Kellum), que aparece em Green Arrow (a partir da 4ª temporada). Apesar dele constar nesse texto, a série não explora tanto o personagem como eu gostaria e ele merece.
Holt aparece na série “por engano” ao descobrir o segredo de Oliver Queen e o time de vigilantes que o cara constrói. No início, é apenas uma pessoa excelente em tecnologia e fica no bunker com a Overwatch como suporte técnico, mas, no desenvolver da produção, Curtis se torna mais um cara da rua e se dá o nome de Senhor Incrível.
P.S.: Ele decide treinar e ir a campo depois de um episódio em que apanha horrores e não sabe se defender, então jurou que nunca mais isso iria acontecer.
Pra quem já assistiu a série, Curtis também passa pela saga do herói quando ele descobre o que pode fazer e acha super perigoso pra sua vida… inclusive o casamento dele fica super instável por isso.
Essas são as minhas séries com pessoas negras LGBTQIA e, como vocês puderam ver, não citei nenhuma com personagens trans. Erradíssimo, né? Escrevi esse texto também como um registro da minha falha e ausência de incentivo às produções que retratam a realidade dessas vidas. E para provar que essas tramas existem, cito uma das mais famosas: Orange is the New Black, que possui a personagem Sophia Burset (Laverne Cox). A série se passa numa penitenciária feminina. E Pose, que é uma história da NY do final da década de 1980, onde várias trans que foram expulsas de casa são abrigadas por Blanca e, entre algumas personagens negras, há Elektra Abundance.
Aqui incluo alguns links que possam interessar
- A thread construída pelo Lista Preta com séries com o mesmo tema deste texto: https://twitter.com/listapreta/status/1078341522804916224
- Os 10 filmes LGBTs de maior bilheteria: https://poenaroda.com.br/pop/os-10-filmes-lgbts-de-maior-bilheteria-da-historia/
- 13 Indicações de filmes com LGBTQIA Negros: https://almapreta.com/editorias/realidade/13-filmes-com-protagonistas-lgbts-negros
- Textos importantes sobre a negritude: https://catracalivre.com.br/tag/consciencia-negra/
LEIA TAMBÉM: 11 Recomendações de Livros com Protagonistas LGBTQA+
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