Round 6: O entretenimento de uns é o desespero de outros
O que é certo e errado num jogo de vida ou morte, do qual você mesmo escolheu participar?
Round 6 (ou Squid Game) é um dorama sul-coreano curtinho, de apenas 9 episódios, mas com uma temática de sobrevivência, daquelas que te fazem julgar as escolhas dos personagens, mas te deixam sem saída, se estivessem no lugar deles.
*Pode conter um ou outro spoiler mais superficial, mas nada que comprometa a experiência.
Começamos como uma história qualquer, Seong Gi-hun (Lee Jung-jae) um homem de meia-idade, endividado até a alma e viciado em apostas, que sofre ameaças de seu fiador. Sem perspectiva de melhora, ele tem um encontro “inesperado” com um homem de terno que o oferece uma generosa quantia em dinheiro, em troca de uma partida de um jogo infantil. Se o protagonista ganhar, leva o dinheiro, se o homem ganhar, pode dar um tapa na cara dele. Uma proposta ridícula até, mas que o protagonista aceita, perde dezenas de vezes, até finalmente ganhar o dinheiro e, com ele, um cartão de visitas que o levará, futuramente, ao verdadeiro jogo.
Mesmo processo de ingresso, mais de 400 pessoas diferentes, mas com uma coisa em comum, afundadas em dívidas e desesperadas por dinheiro. Assim começa o jogo. Todos os participantes concordaram em participar, mesmo sem saber exatamente do que, foram apagados e levados para uma ilha, onde cada um recebeu um número e a informação de que o último participante que restasse receberia o valor total do prêmio, a soma de todos os participantes.
Até aí, tudo já tem uma atmosfera meio estranha, os funcionários do lugar não têm permissão de mostrar o rosto, para preservar a identidade, os participantes não têm acesso a nenhuma forma de comunicação com o meio esterno e todos seus pertences foram confiscados. As instalações são gigantes, dá para perceber que, com certeza, teve muito dinheiro investido naquilo e ficamos nos perguntando, para quê?
O primeiro jogo já dita como será o resto do dorama, um jogo clássico infantil, inocente à primeira vista, mas mortal. Os participantes nem estavam levando a sério, mas depois que alguém é fuzilado na sua frente, a história é outra. Só no primeiro jogo várias pessoas são eliminadas e o próprio protagonista escapa por muito pouco.
Por incrível que pareça, o responsável pelo jogo é democrático e cumpre com sua palavra, de forma que ele dá a opção para as pessoas de desistirem de jogar. Se a maioria concordar, o jogo para e todos voltam para casa. Ele, também, não tenta dar vantagem para ninguém lá dentro, pois quer que todos sejam vistos como iguais e tenham as mesmas chances de ganhar, diferente da realidade do lado de fora. Assim como seus funcionários, não sabemos sua identidade, pois está sempre de máscara e quem descumpre as regras, paga o preço e serve de exemplo.
Mesmo que de forma torta, essa é a forma que dele mostrar sua crítica ao sistema capitalista, baseado em competição e lucro, mostrar resultados a todo custo, o que acaba afetando o povo e aumentando a desigualdade social. Os participantes do jogo são todos vítimas do sistema que acabaram afogados em dívidas absurdas e que aumentam a cada dia mais e trabalham até morrer só para pagar dívidas.
Por mais que tenham mais de 400 participantes, logo identificamos os personagens chave da história e as necessidades que os fizeram entrar nessa loucura, como é o caso da Kang Sae-byeok (HoYeon Jung) uma desertora da Coreia do Norte, Cho Sang-woo (Park Hae-soo) amigo do protagonista, também endividado. Temos também um imigrante indiano, Abdul Ali (Anupam Tripathi), o gangster Jang Deok-su (Heo Sung-tae) e um idoso, Oh Il-nam (Oh Yeong-su), que simplesmente está lá porque não tinha mais nada a perder.
Fora da realidade do jogo, temos o que pode ser considerada a “única esperança” de salvação dessas pessoas. O policial Hwang Jun-ho (Wi Ha-joon) que consegue se infiltrar na ilha, como funcionário e começa a investigar, em busca de pistas sobre o desaparecimento de seu irmão mais velho, ao mesmo tempo em que coleta provas para expor a existência do local.
Não se engane só por ser um dorama, jovens. Diferente do que estamos acostumados, que são os doramas produzidos por emissoras de televisão, por isso com censura em relação a armas, violência, nudez, esse aqui não é o caso. Sendo uma produção original da Netflix, Round 6 não economizou no realismo das cenas, nem nos litros de sangue. Ironicamente, para contrastar com as pinceladas de sangue e miolos, os cenários são todos bem coloridos, com desenhos e temas infantis, assim como a proposta das brincadeiras.
Não vou mentir, queria ter visto um destaque maior para as personagens femininas, mas compreendo a narrativa de ser um jogo de sobrevivência onde a maioria são homens, especificamente coreanos. A Coreia do Sul tem um histórico de ser um país um tanto machista, então os personagens não fogem dessas características ao não quererem incluir mulheres nos grupos dos jogos para garantir que o grupo não fique “desfalcado”, por exemplo.
Apesar de alguns acontecimentos terem acontecido conforme o previsto, a forma como se deram foi interessante. Em relação aos jogos, teve uns que me deixaram bem tensa, como o do cabo de guerra e da ponte de vidro. Os que menos curti, por assim dizer, eram os que a morte dos participantes se deva simplesmente por perder a partida e ser executado pelo funcionário com um tiro. Já que é para ser absurdo, queria uma morte absurda também (minha opinião).
O fato de ter apenas 9 episódios foi uma boa escolha, mais do que isso poderia ter arrastado muito a história e deixado as coisas chatas. Ainda assim, o final deixou a possibilidade para uma continuação com várias teorias e que, se bem trabalhado, pode seguir o sucesso dessa primeira temporada que conseguiu nada menos que 100% de aprovação no Rotten Tomatoes. E, aos que preferirem, o dorama está disponível com dublagem em português, então nem tem desculpa para não ver.
Trailer:
Por: Letícia Vargas
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