The Husky and His White Cat Shizun – como não viver um relacionamento
O quão longe vai à obsessão de uma pessoa…
The husky and his white cat shizun (no original: Èr Hā Hé Tā De Bái Māo Shī Zūn; tradução não oficial: O husky (raça de cão) e seu gato branco shizun) é uma novel chinesa, de gênero danmei, xianxia (já falamos bastante disso por aqui), que traz a reencarnação de um protagonista com ares de vilão, que tenta refazer suas escolhas, ou talvez não (não se deixe levar pelo título, nada é o que parece)…
Mo Ran era um jovem que sempre sofreu por ser de origem humilde, filho de uma prostituta, sempre tratado como um cão, até que o jovem cresceu, virou um colírio, pegador de muitas e muitos e, através do treinamento, se tornou muito poderoso, virando a ser Taxian-Jun, o imperador tirano do mundo cultivador que não tem pena de ninguém.
Suas crueldades acabaram por deixar o povo contra ele, que resolveu atacar seu palácio para acabar de vez com sua soberania. Mal sabiam que o sacana já estava pretendendo se matar, por não aguentar mais viver esse tipo de vida, sem as duas pessoas de maior importância para ele, seu primeiro amor e seu mestre, Chu Wanning (shizun), por quem ele nutria um ódio imenso e que acabou morto por ele.
Complexo, confuso, abusivo, tóxico, esse é nosso protagonista que, ao que parece, recebeu uma segunda chance após a morte e voltou no tempo para reviver tudo isso novamente, a não ser que ele mude as coisas. Agora, esse Mo Ran de 16 anos tem duas vontades nessa nova vida: impedir que seu amado morra, por culpa de seu mestre, e atormentar a vida do tal mestre.
*Atenção: Não recomendado para menores de 18 anos. Alerta de vários gatilhos, a relação do protagonista com o seu shizun é bem tóxica, então fique esperto que o que você mais lerá é o protagonista pensando querer abusar de Chu Wanning até que ele morresse, assim como fez na última vida. Então temos extrema violência gráfica, relacionamento abusivo, relações não consensuais, dinâmicas de mestre/escravo, entre outros (leia por sua conta e risco).
Comentando mais sobre o primeiro livro, apenas, para não gerar tantos spoilers…
O protagonista é um ser detestável, cujo verdadeiro lado somente nós, leitores, conhecemos, seus pensamentos mais íntimos. Para os demais, ele é apenas um aprendiz como outro qualquer. A história do livro narra os acontecimentos, hora do ponto de vista do protagonista, hora do ponto de vista de seu Shizun, para entendermos, também, os sentimentos de Chu Wanning por seu discípulo (e, sim, existem sentimentos aí).
“Agora que ele pensou sobre isso, esses prazeres nada tinham a ver com ‘felicidade’ ou ‘amor’. Em vez disso, era como se ele tivesse afundado em um pântano e caído nele, tornando-se ainda mais sujo, mais profundo e mais autodestrutivo, desejando que seus ossos pudessem ser tingidos de preto. No seu ponto mais escuro, já não desejaria luz ou esperança de salvação. Ele não ousaria mais tentar segurar a última bola de fogo do mundo.”
Diferente de todo o desprezo que Mo Ran acha que seu shizun sente sobre ele, Chu Wanning, de fato, esconde seus verdadeiros sentimentos por Mo Ran, seu “primeiro amor”. Em contrapartida, Mo Ran também esconde seu desejo por Chu Wanning, esconde, principalmente, de si mesmo, nunca admitindo sentir qualquer coisa além de ódio pelo cara, sendo que, claramente, não é esse o caso. Shi Mei aqui, se torna uma válvula de escape para esse conflito de sentimentos.
Mas, sejamos sinceros, o relacionamento do casal principal deve ser apreciado com várias críticas, já que a relação entre Mo Ran e Chu Wanning é tóxica, abusiva, voltada para uma montanha-russa de ódio, amor e luxúria, e gera uma dependência psicológica nem um pouco saudável. É o tipo de relacionamento que você, na vida real, precisa pular fora e não romantizar. E, se ver alguém nesse tipo de situação, intervir mesmo!
Acho que um ponto que vemos muito é a confusão com os fatos que aconteceram em sua primeira vida e que se repetem agora, às vezes antes do previsto, às vezes de forma um pouco diferente da última vez e que fazem Mo Ran se questionar sobre suas ações. Como o caso do único beijo que ele conseguiu roubar de Shi Mei, o que, ele pensa que conseguiu, já que, dessa vez, não foi Shi Mei que teve seus lábios roubados, mas seu shizun (por que a história mudou? Será que ela, de fato, mudou ou nunca foi o Shi Mei que estava lá naquele momento?)
E o passado é algo que vai e volta nessa história, vira e mexe vamos pausar essa timeline atual para acompanhar algum momento que aconteceu na última vida de Mo Ran. O próprio se pega confuso às vezes com os desdobramentos.
Com o passar dos capítulos, Mo Ran vai notando que seu shizun não parece ser aquela pessoa detestável de sua vida passada. Diferente da pessoa fútil, egoísta e sem coração que ele pensa que Chu Wanning é, seu shizun vai mostrando cada vez mais como se importa com seus discípulos, como daria tudo para protegê-los.
Dessa forma, vamos notando que Mo Ran começa a se arrepender um pouco das coisas que fez na vida anterior com seu todos, mas, especialmente, com seu shizun. Se arrepender de toda aquela relação abusiva, de ter forçado seu shizun a se tornar praticamente uma concubina para ele. Mo Ran começa a lutar contra seus desejos mais intensos e sombrios, para não repetir seus erros do passado.
“Ele não acreditava no amor, não acreditava em encontros casuais e certamente não queria correr atrás de nada. Se ele penosamente mordesse o casulo coberto de feridas e saísse rastejando desajeitadamente sem que ninguém o esperasse do outro lado, o que ele faria?”
The Husky and His White Cat Shizun também possui uma versão em manhua e um jogo mobile (Hao Yi Xing), além de estar sendo adaptada para um live action (censurado, claro, é China, né) e um donghua está aí na porta para ser anunciado, também. Atualmente sem adaptação licenciada para o português, mas a obra em inglês está sendo publicada pela editora americana Seven Seas, podendo ser adquirida em versão física ou e-book (este último seguindo aquele esquema de trocar seu país de origem para conseguir comprar).
No mais, a novel não é aquele romance açucarado, o tipo de relação que a gente busca e romantiza. Ela é sombria, ela é perigosa, mas bem escrita, e gera curiosidade de como essa relação tóxica entre o casal principal se desenrola, uma relação que tinha tudo para dar certo, mas, pelas escolhas de ambos (e a personalidade pobre do protagonista), só vai dando errado.
Por: Letícia Vargas
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