The Last of Us: HBO entrega uma carta de amor aos fãs do jogo
A história se mantém extremamente fiel, ao mesmo tempo em que melhora o que já era exemplo de excelência.
O TEXTO A SEGUIR CONTÉM SPOILERS!!!
Lançado em 2013, The Last of Us é um jogo da Sony lançado, inicialmente, para o console PlayStation 3. Desde o seu lançamento, o jogo conquistou uma legião de fãs, sempre figurando em listas e opiniões sobre os melhores jogos já feitos, por muitos considerado até mesmo o melhor jogo de todos.
A sinopse oficial do jogo diz: “Em uma civilização devastada, em que infectados e sobreviventes veteranos estão à solta, Joel, um protagonista abatido, é contratado para tirar uma garota de 14 anos, Ellie, de uma zona de quarentena militar. No entanto, o que começa como um pequeno serviço se transforma em uma jornada brutal através do país”.
Na trama, o mundo foi dominado por um fungo que transforma as pessoas em infectados, criaturas semelhantes a zumbis. Além de terem que lidar com essa ameaça, Joel e Ellie também precisam lidar com os grupos de pessoas que encontram ao longo de sua jornada e, praticamente sempre, se mostram como o verdadeiro inimigo.
Devido ao grande sucesso do primeiro jogo, tivemos uma continuação chamada The Last of Us Part II, que chegou ao PlayStation 4 em 2020. A sequência foi tão aclamada que se tornou o jogo mais premiado da história, perdendo o posto somente em 2022, com o lançamento de Elden Ring.
Anos antes mesmo do lançamento da segunda parte do jogo, um remaster do primeiro foi lançado para o PlayStation 4, intitulado The Last of Us Remastered e trazendo melhorias visuais incríveis. Também devido ao sucesso do segundo jogo e ao lançamento do PlayStation 5, o primeiro jogo ganhou mais uma versão, dessa vez um remake chamado The Last of Us Part I, inicialmente sendo um exclusivo do PS5.
Também em 2020, a HBO anunciou que uma série adaptando a história dos games seria lançada, com uma produção conjunta entre a HBO, Sony Pictures Television, PlayStation Productions, Naughty Dog, The Mighty Mint e Word Games. Ou seja, os envolvidos na produção e desenvolvimento do jogo também iriam participar da criação da série.
Em 15 de janeiro de 2013, a série finalmente estreou no serviço de streaming HBO Max, mas será que ela fez justiça ao material original?
A relação de Ellie e Joel em The Last of Us
Pedofilia, estupro, desigualdade social, superioridade do governo, terrorismo, contrabando, violência, ansiedade, traumas emocionais, físicos e psicológicos são alguns dos diversos termas que a história aborda. Talvez seja justamente isso que torne The Last of Us um jogo único e uma verdadeira obra-prima.
Contudo, um dos pontos mais elogiados e, talvez o que seja toda a essência de toda a história de The Last of Us, é justamente a relação entre Joel (Pedro Pascal) e Ellie (Bella Ramsey). Joel é uma pessoa traumatizada, antes do mundo ser destruído, Joel cuidava sozinho de sua filha Sarah (Nico Parker), enquanto trabalhava como carpinteiro com seu irmão Tommy (Gabriel Luna).
O surto que causou o fim do mundo começou no dia de seu aniversário, o que também se tornou o dia em que a sua filha morreu nos seus próprios braços. A história do jogo e, também da série, se passa 20 anos após esses acontecimentos, quando Joel vive em uma zona de quarentena e atua como contrabandista por baixo dos panos. A série trouxe algumas alterações em relação a isso, com Joel precisando ir procurar por seu irmão Tommy, longe da zona de quarentena em que mora.
Porém, para isso, ele precisaria de um carro e equipamento, junto de Tess (Anna Torv), sua parceira, Joel assume uma missão dada pelo grupo terrorista chamado Vagalumes. A missão era levar Ellie até um prédio do lado de fora da zona de quarentena, pois a garota era imune ao vírus e aos fungos que transformam as pessoas, com isso, poderia ser possível criar uma cura, após isso eles receberam o que foi combinado.
A jornada acaba sendo muito mais complicada do que isso, o que não vamos detalhar tanto para não prejudicar a sua experiência. Devido a alguns fatores, Joel e Ellie precisam continuar sozinhos e irem para muito mais longe. Enquanto Joel segue procurando por seu irmão, que é um ex-vagalume, ele também procurará uma forma de entregar Ellie ao grupo.
O relacionamento entre os dois vai se desenvolvendo de uma forma espetacular, sendo uma aula de como trabalhar a interação e desenvolvimento entre dois personagens. Vemos ambos passando por situações de quase morte nas quais eles são obrigados a se proteger.
A interação de ambos é, provavelmente, o ponto mais alto da série, onde vemos eles irem de ódio entre si, para tolerância da companhia um do outro, até a relação de pai e filho que eles desenvolvem.
Muito da perfeição da relação funciona graças a grande química que Pedro Pascal e Bella Ramsey possuem em cena. Eles conseguem trazer de forma perfeita a sensação de drama, tensão, leveza, ódio, amor e cura que um possui na vida do outro. Isso está presente até mesmo fora de tela, quando acompanhamos entrevistas e vemos como Pedro e Bella se tornaram próximos igual aos seus personagens.
Mesmo se passando em um mundo destruído, infestado por criaturas e pessoas más, o jogo e a série não focam em trabalhar o terror, suspense ou violência que está naquele mundo, assim como a crueldade humana. É claro que ainda temos isso, já que é uma parte essencial da história, contudo, conseguimos entender claramente que a história que estamos acompanhando não é sobre isso.
Estamos vendo a história de pessoas em um mundo cinza, em especial duas pessoas quebradas e que conseguem encontrar amor, companhia e, especialmente, a cura de seus traumas e medos um no outro.
Mesmo após 20 anos, Joel está totalmente traumatizado e atormentado pela perda de sua filha, não conseguindo superar o que aconteceu em seus próprios braços. Ellie está praticamente sozinha, carregando o peso de poder ser a cura da humanidade, crescendo sem pai, mãe e família, tendo apenas uma única amiga e romance, que não está mais com ela.
Joel se torna essa figura paterna que ela tanto precisava, a pessoa que a protege, não importante o que acontece, a pessoa que faz com que ela se sinta segura, sentimento esse não muito presente em sua vida. Ellie é a pessoa que faz com que Joel perca o medo de se aproximar dos outros, de sentir novamente, de se perdoar e se curar da perda de sua filha.
É claro que existem diversos outros pontos da relação deles que a série trouxe, se aprofundando ainda mais do que no jogo. Contudo, se falarmos tudo aqui, qual será o sentido de assistir a série?
A excelência do que foi entregue
Sabemos que o histórico de adaptações de games para o cinema ou para a tv não é dos melhores. Porém The Last of Us chega para quebrar essa sequência. A série não traz somente uma relação perfeita e melhorada entre Ellie e Joel, mas também mostra que para ser fiel ao material original, não basta apenas copiar e colar, é preciso melhorar.
É claro que, na maioria dos momentos, vemos cenários, paisagens, diálogos de personagens, visuais de personagens, trilha sonora, sequências de filmagens e diversos outros fatores que são extremamente iguais ao do jogo, inclusive na escolha de alguns atores, que são os mesmos dos games. No caso da dublagem brasileira, para o elenco principal tivemos até mesmo os mesmos dubladores.
São essas as semelhanças que mais atraem os fãs do jogo e que mais fazem a série se destacar. Além disso, essas semelhanças e fidelidades também são um dos pontos centrais para a série se tornar tão aclamada não só entre as adaptações de videogames, mas de forma geral.
Porém, o toque de ouro para o sucesso da série de The Last of Us vai além, eles pegam o que já era bom e aprimoram, sem medo de fazer algumas mudanças quando necessário. Acredito que muito disso se deve pelo fato do criador do jogo também ser o responsável pela adaptação da série, estamos falando de Neil Druckmann. Druckmann basicamente recebeu uma segunda chance de pegar a sua história e fazer as alterações que sempre quis, melhorar o que sempre quis.
Alguns exemplos disso são alguns personagens como Bill, Frank, Sam e Henry que, embora tenham sua grande relevância no jogo, não foram tão aprofundados. Já na série, Bill e Frank ganham uma história bastante diferente da do jogo, porém isso melhorou ainda mais a trama do casal. Eles se tornaram mais humanos, mais reais, mais críveis e entregaram um dos melhores episódios de uma série de tv e uma das melhores histórias de romance dos últimos tempos.
No caso dos irmão Henry e Sam, ambos já tinham uma história bastante tocante no jogo, porém a série leva isso para outro nível, especialmente no caso de Sam, que no jogo tinha quase a mesma idade de Ellie, entre 12 e 14 anos, mas na série passou a ter 6 anos, além de ser surdo. Isso deixou a relação de ambos, e o destino que eles tiveram, muito mais relevante e importante para a evolução da dupla protagonista.
Essas mudanças não estão somente nesses personagens, que protagonizaram os episódios 3 e 5, respectivamente, mas também em vários outros momentos da série. Essas mudanças estão presentes justamente naqueles episódios que se tornaram os melhores nessa primeira temporada de nove episódios.
O que precisa melhorar para a já confirmada segunda temporada?
Porém, nem tudo são flores, e com The Last of Us não seria diferente, especialmente devido ao histórico que as adaptações de jogos possuem. Alguns pontos precisam ser aprimorados para a já confirmada segunda temporada da série, que irá adaptar a história do segundo jogo.
O primeiro ponto que precisamos destacar é o ritmo que a série possui. Em alguns momentos, a história parece corrida, com pressa de fazer as coisas acontecerem. Definitivamente, nove episódios parecem pouco para adaptar um jogo de, aproximadamente, 15 horas.
Acredito que isso aconteceu justamente devido ao fracasso que a indústria tem em adaptar jogos. Essa temporada única de nove episódios pode ter sido o que foi disponibilizado para a série mostrar o seu valor adaptando o primeiro jogo para a HBO. Vale ressaltar que isso é somente uma dedução, não sendo nada confirmado.
Devido ao seu grande sucesso como adaptação, entre o público e a crítica, esse problema rítmico deve desaparecer na segunda temporada. Especialmente pois o segundo jogo é muito maior e muito mais denso, sendo impossível de adaptar em tão poucos episódios.
Outro ponto que ficou em falta na série é a presença dos infectados. Embora os momentos em que eles apareçam sejam incríveis e definitivamente valem a pena, temos diversos episódios em que eles nem mesmo aparecem.
Particularmente, esse não foi um ponto que me incomodou tanto, pois foi o que deixou as aparições ainda mais marcantes. Porém, compreendo e até concordo em alguns pontos de quem queria ver mais infectados, afinal, estamos acompanhando um mundo que foi dominado por essas criaturas, certo?
Embora já tenha sido confirmado que na segunda temporada teremos uma presença maior de infectados, esperamos que eles mantenham a qualidade de maquiagem e figurino que tivemos na primeira temporada. Os infectados se tornam assustadoramente fiéis e temíveis justamente por utilizarem efeitos práticos e não CGI, assim é essencial que isso continue na próxima temporada.
Conclusão
Podemos concluir então que a série de The Last of Us é definitivamente uma carta de amor que a HBO, Neil Druckmann e a Sony entregaram para os fãs dessa incrível história. Muito disso se dá principalmente pelo carisma e atuação digna de prêmios que Pedro Pascal e Bella Ramsey entregaram como Joel e Ellie.
Embora precise alinhar alguns pontos para elevar ainda mais alguns pontos em sua segunda temporada, The Last of Us pode ser facilmente considerada a melhor adaptação de um jogo da história, além de uma das melhores séries não só do ano, mas da década.
Atuações, cenários, trilha sonora, maquiagem, direção, cenas de ação, narrativa e mais precisam ser elogiados nessa série que dificilmente ficará de fora das principais premiações que estão por vir, com Pedro Pascal e Bella Ramsey como grandes possibilidades de vencerem pela grandiosa atuação que entregaram.
Texto por: Galbi Junior
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[…] THE LAST OF US foi escrita e produzida por Craig Mazin e Neil Druckmann. A série é uma coprodução com a Sony Pictures Television e tem produção executiva de Carolyn Strauss, Jacqueline Lesko, Cecil O’Connor, Asad Qizilbash, Carter Swan e Evan Wells. PlayStation Productions, Word Games, The Mighty Mint e Naughty Dog são produtoras do drama. […]