
‘Bridget Jones: Louca pelo Garoto’: em seu quarto filme, franquia reinventa-se mais uma vez
Renée Zellweger retorna com personagem mais madura e realista
Renée Zellweger está de volta com sua personagem mais carismática em uma nova história com ares de despedida. Bridget Jones: Louca pelo Garoto estreia nos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (13) e traz uma protagonista mais madura, em uma narrativa que equilibra bem a relação entre comédia, romance e drama. Com sua autenticidade característica, a personagem prova que, mesmo com o passar do tempo, ainda tem muito o que dizer e se conectar com os fãs, antigos e novos.
Logo de cara, encontramos uma Bridget Jones melancólica, atrapalhada e vulnerável após perder seu marido e grande amor, Mark Darcy (Colin Firth), que morreu em um atentado no Sudão há quatro anos. Mãe de dois filhos, Billy (Casper Knopf) e Mabel (Mila Jankovic), ela se vê em meio a uma bagunça tanto material quanto emocional. Com a ajuda de amigos, incluindo o seu antigo chefe e ex-namorado Daniel Cleaver (um bom retorno de Hugh Grant), ela percebe que precisa voltar a viver e dá o primeiro passo escrevendo em seu diário novamente, o qual ela havia abandonado desde a morte do marido.

A trama acompanha o processo de recuperação de Bridget, ou, como agora costuma ser chamada, Sra. Darcy. Como mãe e mulher, ela precisa dar conta da maternidade e do retorno ao mercado de trabalho, além de, ao mesmo tempo, permitir-se redescobrir o romantismo com um rapaz mais novo que traz um pouco de brilho de volta à sua vida. Tudo isso ainda administrando seu luto particular e o luto dos filhos pequenos com a perda do pai.
Pela trama, já é possível perceber a jornada de amadurecimento da personagem. Enquanto nos primeiros filmes Bridget se debruça sobre dilemas amorosos e pressões estéticas e sociais, que reforçam a mulher nesse lugar de “vitrine” para a apreciação masculina (muito mais forte no início dos anos 2000), agora vemos uma mulher que tem plena noção de si mesma e das suas prioridades, sabendo de suas qualidades e defeitos e tomando as rédeas da própria vida em vez de ser conduzida por ações masculinas.
Com base no livro de mesmo nome, da autora Helen Fielding, Bridget Jones: Louca pelo Garoto evolui a trama da protagonista com questões muito mais complexas, relacionáveis com seu público-alvo e interessantes de assistir. A adaptação depende bem menos da comédia pastelão e exagerada de suas antecessoras — embora ainda recorra a ela — e talvez por isso seja tão mais envolvente.

Na realidade, o longa pode até conquistar muito mais pelo drama bem trabalhado do que pela comédia ou pelo romance. A forma como a narrativa envolve o público com o luto dos personagens é simbólica. Mesmo quando outras questões estão sendo abordadas, o luto permanece sempre ali, no segundo plano, às vezes nas entrelinhas, como um zumbido que ecoa sem que você consiga se livrar até realmente parar para ouvi-lo. O tratamento de uma emoção tão complexa foi particularmente cuidadoso com as crianças da história, inclusive cabendo a Casper Knopf, que interpreta o filho mais velho de Mark e Bridget, alguns dos momentos mais tocantes e o ponto mais alto da narrativa.
Ainda assim, Bridget Jones é uma franquia de romance. Embora repita a fórmula do triângulo amoroso característica dos três primeiros filmes, o crescimento da protagonista também é perceptível na forma como ela lida com as relações desenvolvidas com Roxster (Leo Woodall), um jovem de 29 anos que conheceu em uma situação inusitada e aprofundou a conversa em um aplicativo de relacionamento, e com Mr. Wallaker (Chiwetel Ejiofor), professor de ciências de seus filhos cujas concepções inicialmente entram em conflito com as de Bridget e sua família. A dinâmica da protagonista com cada um é diferente, mas muito bem desenvolvida e bem distribuída nas pouco mais de duas horas de duração do longa.

Neste tempo, o filme ainda consegue administrar bem um elenco grande, com nomes de todos os anteriores retornando para seus papéis. O grupo de amigos de Bridget segue com a mesma dinâmica divertida, com Shazzer (Sally Phillips), que agora tem um podcast; Tom (James Callis), que virou coach; e Jude (Shirley Henderson), que se tornou uma grande empreendedora.
Miranda (Sarah Solemani), parceira de trabalho da protagonista em O Bebê de Bridget Jones, também está de volta, dessa vez com a adição de Talitha (Josette Simon), sua co-apresentadora em um programa de TV diurno para mulheres. Um dos maiores destaques, junto com Hugh Grant, é o retorno de Emma Thompson como a Dra. Rawlings, que mesmo com pouco tempo de tela traz alguns dos melhores diálogos do longa.
Apesar da quantidade de personagens, o roteiro da autora da série Helen Fielding, ao lado de Dan Mazer e Abi Morgan, não perde tempo com subtramas desnecessárias e encaixa cada personagem precisamente em seu papel no momento conturbado da vida de Bridget Jones, nem mais nem menos. Com isso, a história ganha uma desenvoltura que permite que as melhores piadas estejam nos diálogos, recorrendo bem menos ao humor caricato tão presente nos primeiros filmes.

Contudo, Bridget Jones: Louca pelo Garoto por vezes ainda se utiliza de palhaçadas sem sentido que já não agregam muito neste ponto da história da personagem nem ao contexto em que o filme está inserido. A trama conseguiu se atualizar e conversar mais com o público que cresceu com a franquia, o que poderia ser uma justificativa para buscar nesse humor bobo o resgate da essência da personagem.
Contudo, este movimento não é necessário, uma vez que não são as caricaturas, mas a ótima performance de Renée Zellweger, demonstrando toda sua conexão e familiaridade com a protagonista, que imediatamente desperta a nostalgia e o vínculo com o espectador. Em certos momentos, esse humor que beira o pastelão chega até a atrapalhar a imersão na história, o que é uma pena para uma narrativa que se mostrou tão mais madura.
Bem mais longe de estereótipos e ainda divertido, Bridget Jones: Louca pelo Garoto é um excelente arco de fechamento, caso este seja mesmo o último filme da franquia. O filme provoca identificação ao trazer uma mulher imperfeita e vulnerável, mas que se redescobre e reconstroi sua vida em uma narrativa que recai menos em situações forçadas, mas ainda mantém o brilho de um romance de cinema.
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