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Por: Redação Nerd Recomenda 27/02/2023
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Belo, mas doloroso, “Close” é uma melancólica viagem pelo fim da inocência

Destaque em Cannes, “Close” reflete sobre o fim da infância em um emaranhado de culpa, luto e solidão

Léo e Rémi correm juntos em um belo campo florido. Atrás deles, inimigos invisíveis, mas perigosos; dignos da mais genuína imaginação infantil. Já à frente, os prazeres da inocência: dormir na casa um do outro, brincar durante as refeições, e ter no melhor amigo o melhor dos travesseiros. Vidas simples, puras e que desconhecem a dor. Por enquanto.  

Vencedor do Grand Prix no último Festival de Cannes, Close certamente não é para todos. Não é um filme em que há sempre muitas coisas acontecendo na tela a todo instante – não é repleto de reviravoltas ou grandes acontecimentos a cada novo ato. É um filme pacato, devagar, que não tem pressa pra amadurecer – assim como a infância deve ser.

Close

Entretanto, não é apenas pelo ritmo que a obra de Lukas Dhont não foi feito para todos. O filme traz consigo uma impressionante carga dramática, com o intuito de entristecer seu público de forma crua, dolorosa e, ao mesmo tempo, realista.

Close apresenta a história dos jovens Léo e Rémi, dois melhores amigos de 13 anos de idade que são extremamente próximos um do outro. Além de passar o dia inteiro juntos, dividem a mesma cama em suas pernoites, compartilham seus afazeres, sonhos e temores. Quando um não consegue dormir, o outro lá está para acalmá-lo em meio ao caos da mente juvenil. Uma bela amizade que, movida por amor e inocência, facilmente quebra paradigmas ultrapassados de gênero.

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Porém, quão belo seria se Close fosse apenas sobre isso? Ao começarem a estudar em uma nova escola, as demais crianças ao redor estranham a forte proximidade entre os dois amigos, e é aí que o plot realmente começa. Quando Léo se deixa levar pelos comentários homofóbicos de seus colegas, acaba se afastando de Rémi, gerando consequências desastrosas.

Antes de adentrar na discussão da obra de Dhont, é importante ressaltar que se Rémi e Léo eram ou não apaixonados um pelo outro, não é relevante para a história. Close é sobre amizade e amor entre duas crianças – um amor inocente, puro, destroçado pelo preconceito e homofobia. Dhont sabe muito bem guiar o espectador através das cruéis desventuras desta tão bela amizade. Constrói a relação dos dois protagonistas com afeição e doçura, apenas para desconstruí-la com angústia, martírio e tensão.

Na cena com a atuação mais poderosa de Gustav de Waele, que é a estrela da primeira metade do filme, vemos o desespero nos olhos de Rémi, sua raiva, sua dúvida – quase como se gritasse “Por que não me ama mais?’”. Conforme a amizade de Léo e Rémi se quebra, assim os corações do público seguem o exemplo.

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É possível, assim, dividir o filme em duas partes sortidas: na primeira metade, acompanhamos a construção e desconstrução da amizade de Léo e Rémi; na segunda, onde Eden Dambrine brilha na pele de Léo, vemos as repercussões deste distanciamento. Close, assim, mostra suas verdadeiras caras: é um filme sobre culpa e, mais do que isso, sobre luto.

Ainda que o foco seja Léo, não é dele o único luto que acompanhamos. Também somos convidados a assistir ao sofrimento da mãe de Rémi, interpretada brilhantemente pela veterana Émilie Dequenne. Presenciamos o luto de uma mãe através dos olhos de Léo – de longe, quase como se estivéssemos invadindo sua privacidade. De forma ambígua e muito bem construída, tememos que ela perceba os olhos de Léo, a observando de longe, mas ao mesmo tempo mal podemos esperar para que isso aconteça.

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Enquanto belas fotos de comida, carregadas com a intenção de dar fome em seu público, são chamadas de “food porn”, há quem chame Close de misery porn – pornô da miséria –, não por ter qualquer característica maliciosa ou imprópria, mas por ser um forte catalisador de tristeza para com o público.

Desde a história, que já é triste por si só, até toda a composição da obra, executada com maestria: os enquadramentos, os olhares, as lágrimas, a música e, mais do que tudo, o silêncio – Cru, ansioso, angustiante, o silêncio ensurdecedor. Assim, Dhont apela para a melancolia profunda, para a nossa criança interior que um dia se sentiu sozinha, perdida, abandonada.

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Para alguns, Close pode ser, sim, apelativo demais – forçado, compulsivo. Mas essa é claramente a proposta de Dhont: viver – e sofrer – na pele de um garoto de 13 anos que perdeu o melhor amigo, desorientado em meio à culpa, estilhaçado pelo luto,. E, certamente, faz isso muito bem.

Close, portanto, é uma obra delicada, mas poderosa; sutil, mas intensa; e bela, mas destrutiva. Para aqueles que estiverem dispostos a adentrar nesta viagem melancólica proposta por Dhont, e experimentar do sufocante luto de um garoto de 13 anos movido pela culpa, Close pode ser uma fascinante – mas dolorosa – experiência.

Cannes Close Dhont
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Comentários
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    Entre Mulheres: Filme retrata luta das mulheres por seus direitos  - [2023]

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