Eu Nunca e a pluralidade étnica
Me faltam palavras para descrever uma série
“Eu Nunca” (Never have I ever, em inglês) é a nova série da Netflix e quando digo “nova” não é apenas sobre a sua disponibilidade no catálogo do streaming, mas sobre a pluralidade étnica.
A produção conta a história de Devi Vishwakumar (Maitreyi Ramakrishnan), uma adolescente “indiana bem estadunidense” e suas amigas Eleanor (Ramona Young) e Fabiola (Lee Rodriguez) com os problemas típicos de um clichê high school: popularidade, opostos se atraindo, apelidos indesejados e festas com bebedeira.
É, Eu Nunca poderia ter sido um sido um baita clichê se não tivesse personagens tão características e representativas. Acredite, isso fez toda diferença. Devi pertence a uma família indiana que segue a religião Hindu, mas ela nem tanto (muito por acreditar não ser indiana por ter crescido “na América”). Mesmo assim, a série mostra as tradições familiares e religiosas de maneira leve. Através dela, é possível conhecer um pouco da cultura destes asiáticos.
As amigas, Eleanor e Fabi, chinesa e negra, respectivamente, são outra ruptura nas tradicionais produções sobre romance juvenil em época escolar. A primeira, é das artes, ama dramaturgia -pra não dizer um drama-, contrariando aquele esteriótipo de que a etnia é “biologicamente” nerd, hacker ou hightech, saca? Enquanto isso, a afro-americana é do grupo de robótica da escola (tem o seu próprio robô, inclusive) e a família é super bem sucedida financeiramente.
No que tange a novidade, já estaria satisfeita por conter ter múltiplas etnias como protagonistas, por que sim, apesar da história contar e mostrar mais sobre a vida e a cultura de Devi, a sensação de assistir é que as três têm as suas histórias contadas quaaase que igualmente (senti uma saudadezinha da família de Elea e o desenvolvimento da “descoberta” de Fabi, mas acredito que serão pontos explorados nas próximas temporadas).
Devi apresenta as amigas um plano para se tornarem populares após um ano difícil na vida da menina, mas não sai bem como o esperado e isso inclui arranjar um namorado. Além disso, ela precisa lidar com problemas que não acredita ter.
Além disso, Paxton Hall-Yoshida (Darren Barnet), figura do galã, é um menino também de origem oriental, mesmo que este não tenha características físicas que o identifiquem tão rapidamente, o sobrenome é algo bem marcante e os outros personagens estão sempre mencionando. Em determinado momento, aparece o pai dele, frisando seu lado japonês e mais a frente o tema é usado como piada.
É um bom enrendo, tem bons ingredientes e não poderia faltar uma mãe rígida, mas que é apenas preocupada com o desemprenho de sua cria e não se mostra frágil, uma “gostosona” (que é a prima Kamala), mas que nesta caso é alguém super inteligente e não quer deixar de seguir seus sonhos em função de algumas tradições de seu povo e um”arqui-inimigo”, fruto de um criação isolada e muito dinheiro.
E como NADA nesta vida é perfeito, temos uma crítica: A produção retrata de maneira gordofóbica um personagem. Esse aparece sempre como alguém que só pensa em comer (inclusive come coisas estragadas) e serve de “respiro” das histórias principais, ora de maneira cômica, ora meio desprezível.
A obra está no top2 da Netflix Brasil. Não que seja isso o fator determinante pra que a gente assista algo, mas dessa vez, vale muito a pena.
Ah! Outra coisa que trago como curiosidade, mas que é mais da parte técnica, é a voz over, que na verdade é do narrador-personagem, que a gente não vê até o último episódio (exceto por um episódio em específico que muda o narrador, mas eles também explicam o motivo).
O projeto é inspirado na infância vida de Mindy Kaling (aquela de The Office) e, em parceria com Lang Fisher (Brooklyn Nine-Nine), são responsáveis pela criação e roteiro da série. Mindy além de atriz e roteirista, é humorista e produtora.
Bom, vejam o trailer antes que eu apareça com algum spoiler ou pague de completa apaixonada.
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